terça-feira, julho 15, 2008

ela. ou batata frita com um pouco de maionese.

ela era inteligente, culta, lia livros e quadrinhos com o mesmíssimo prazer. frequentava o teatro, óperas, museus de arte moderna. ela pintava com acrílico, escrevia poesia. mas não uma poesia com rimas pobres. poesia concreta. ela era uma pessoa que dominava todo e qualquer assunto. por falar nisso, acabara de publicar dois livros. o primeiro, um romance. o segundo, um livro de auto-ajuda. os dois se encontravam entre os 100 mais vendidos nas listas de ficção e não ficção respectivamente. sabia cozinhar qualquer prato como se fosse a própria chef da cozinha mais conceituada de qualquer lugar. preparava um martini igualzinho ao barman do drake's. e sabia a diferença entre as cervejas belgas e as de qualquer outro país. certa vez o carro morreu a caminho da casa de campo, e ela colocou um cd de simon & garfunkel. abriu um sorriso e fez de tudo para ele não ficar nervoso. ela usava uma colônia que fora dada pela sua vó. cheiro de mato após a chuva. fora finalista de um prêmio de literatura infantil e serviu de inspiração para um quadro de um artista que estava no moma de ny. o que, em qualquer lugar do mundo servia de cartão visitas. não esperava para sentar em nenhum restaurante estrelado do guia michelin. fora convidada para tirar fotos quase sensuais para a elle francesa e educadamente recusou. seu rosto foi durante toda a sua adolescência a cara de um comercial de refrigerante. reza a lenda que joão gilberto certa vez escreveu uma música que algumas pessoas juram ter sido dedicada a ela. joão, ao caminhar pelo calçadão a viu com um saco de biscoitos globo em uma das mãos e passou a cantarolar pequenos versos quase desconexos. a mulher perfeita diziam as boas e as más línguas. tinha um senso de humor que era uma mistura de monty python primeira temporada com os melhores momentos de seinfeld 4º temporada. incrivelmente, acordava sempre com um pequeno sorriso de canto de boca. e espreguiçava em câmera lenta com as pernas cobertas por meias brancas daquelas com listras coloridas no topo. tinha uma tatuagem de um pequeno sorriso no pulso esquerdo e volta e meia usava uma camisa preta que já estava gasta-- com um desenho do patolino. gostava de batata frita com um pouco de maionese. era ingênua mas investigativa. tinha uma cabelo liso que escorria pelo rosto e que ela levava de encontro ao ouvido de tempos em tempos. entendia a diferença entre o flamengo do zico de 81 e do júnior de 92. tinha o melhor timing para contar pequenas e longas anedotas. usava vestidos que flutuavam. tinha uma peça de teatro inteira escrita e guardada na gaveta. tocava o violino. mas só de olhos fechados pois dizia que assim tudo movia ao seu redor. jogava xadrez e futebol de botão. uma vez chorou com o pôr do sol. outra vez sorriu com a lua cheia. ou melhor, para a lua cheia. tinha um diploma de física e um de belas artes.

ela era tudo e sempre, ao mesmo tempo.
mas hoje, ele vai deixá-la.

antes que ela, algum dia, fizesse isso com ele.

o que para ele, tinha alguma lógica.

Um comentário:

Thalyta França disse...

li.gostei.