quinta-feira, dezembro 31, 2009

água no uísque.





- água no uísque.
- o que você quer dizer com água no uísque?
- quando eu era mais nova. acho que tinha uns 17-- eu tinha um namorado que sempre que ficávamos sozinhos na casa do meu pai-- ele colocava água no uísque 25 anos escocês do bar da casa do meu pai.
- mas todo mundo coloca água no uísque. agua mineral, com gás...
- me expliquei errado. primeiro ele, esse meu namorado bebia uma pequena dose do uísque 25 anos-- depois ele acrescentava água na garrafa do uísque para o meu pai não perceber que o nível do líquido da garrafa tinha alterado.
- entendi, água no uísque.
- mas a estratégia da água no uísque tem um ponto sem volta. uma gota de água que quando acrescentada, fode todo o esquema, quando já é impossível pretender que o conteúdo da garrafa ainda é uísque.
- mas isso é óbvio.
- não para dois adolescentes que faziam isso ocasionalmente-- e quase sempre alternando em diferentes garrafas.
- esse seu namoradinho bebia muito?
- um pouco mais que você. mas isso não vem ao caso agora. enfim, chegou o dia que meu pai ao servir o seu querido uísque para um convidado-- que bebia sem gelo ou mesmo água mineral-- e foi aí que deu uma merda generalizada.
- seu pai descobriu na hora?
- o convidado. sem graça-- comentou com o meu pai que o uísque estava aguado. bom, água no uísque. a gente deveria ter feito isso apenas algumas vezes. e variado ainda mais as garrafas. chegamos cedo demais naquilo que os americanos chama de point of no return.
- um ponto sem volta?
- isso. poderíamos ter enganado o paladar do meu pai que só tomava o seu uísque com muito gelo-- por mais algum tempo. mas meu namorado era preguiçoso e não variava as garrafas como deveria e ele descobriu.
- água no uísque.
- água no uísque.
- mas porque esse assunto mesmo?
- você cometeu o mesmo erro.
- eu??!
- sim. há um tempo que você deve estar me traíndo.
- mas... mas que isso meu amor.
- e aqui em casa, seu filho da puta!
- mas, mas...
- sempre que eu viajo a trabalho você aproveita para trazer essa vagabunda aqui em casa.
- mas como você...
- água no uísque. mulher conhece mulher. sabe a importância que uma mulher dá para o seu cabelo.
- e...
- meu shampoo francês e meu condicionador alemão.
- o que é que...
- essa vagabunda quando dormiu aqui usou o meu shampoo e meu condicionador e depois para que eu não notasse, adicionou um pouco de água. mas ela foi preguiçosa. porque eu tenho mais de oito embalagens espalhadas pelo banheiro. mas ela focou naquelas duas. pelos meus cálculos-- minutos antes--enquanto eu tentava lavar o meu cabelo... você trouxe essa mulher aqui para casa umas 4 vezes!! seu filho da puta. não quero mais te ver aqui quando voltar hoje a noite.
- (ele fechou os olhos e disse bem baixinho, com um misto de raiva e arrependimento) água no uísque!!

segunda-feira, dezembro 28, 2009

25

instantes antes da ceia do dia 24.
ele dá um gole grande no vinho tinto. mas não engole de primeira. joga o líquido para uma das bochechas por um segundo antes. ele então olha para ela com a cabeça um pouco inclinada para baixo, como se olhasse por debaixo das próprias sobrancelhas:

- pequena?
- oi.
- amor, eu,bom... eu não comprei nenhum presente para você neste natal.
- tudo bem.
- tudo bem?
- eu também não comprei.
- você sabia que eu não tinha comprado?
- não.
- então porque você não...
- porque o shopping estava lotado.
- e os estacionamentos cheios.
- as filas na lojas gigantescas.
- e os produtos bons...
- já estavam em falta?
- isso.
- [silêncio]
- [silêncio]
- [silêncio]
- mas também tem outra coisa.
- o que?
- eu sabia que ia acordar amanhã ainda com você.
- amanhã
- isso, dia 25. é...acho muito estranho esse negócio de que tem que ser no dia 24. uma obrigação que todos parecem sentir. uma obrigação coletiva. basta notar a troca de olhares silenciosos nas lojas. todos aflitos para chegar em casa no dia 24 com qualquer presente. qualquer um. e tem que ser até aquele dia. até aquele dia ou nehum outro vale. (pausa) essa sensação que todos têm de que o mundo está acabando e que se eu não comprar o presente até o dia 24-- eu sou de alguma maneira--uma pior pessoa. (ela pausa, cata uma uva-passa que tenta escapar da massa do panetone e continua)...porque eu tenho certeza que se a gente se levantar da cama amanhã pela manhã, no dia 25-- e espreitar pela janela-- o mundo ainda estará lá, as ruas estarão lá, a padaria da esquina estará aberta. e o mais importante, eu gostarei de você tanto quanto hoje, a véspera do dia 25. posso comprar o seu presente depois. com calma. com tempo. com carinho. posso buscar aquela coisa que eu sei que só você poderia gostar. e que vai ficar feliz como nenhuma outra pessoa ao receber. por isso.
- [silêncio]
- e você, não comprou porque?
-(ele enche a boca com uma garfada farta de arroz, farofa e perú recheado e diz) - preguiça?



quinta-feira, dezembro 24, 2009

uma das leis universais.



casal está assistindo tv. ele olha para a tv e uma revista quase velha dessas de gadgets-- ao mesmo tempo. ela dá uma mordida num bagel e alcança uma vogue que estava sobre a mesa de centro. ela inicia um diálogo.

- amor?
- oi?
- porque o controle remoto sempre fica com você?
- porque a razão sempre fica com você.
- razão?
- sim, sempre que temos uma discussão, por mais pequena que seja... você tem a razão. sempre. o mínimo que eu posso ter é o controle remoto.
- (silêncio)
- (silêncio)
- (silêncio)
- (silêncio)
- será que é assim com todos os casais do mundo?
- acho que sim. acho que sim. é uma daquelas leis universais.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

nomes. e a troca. a pior delas.

sentado na mesa do café da manhã, artur não sabia. mas estava prestes a fazer algo que se arrependeria para o resto da sua vida.
alí, com uma torrada mergulhada em manteiga enterrada na boca, e com um olho deitado sobre o caderno de esportes do jornal-- artur olhou de relance para o cachorro que passou por ele e disse:
- toby! vem cá toby! hoje eu te dou um pedaço da torrada.

naquele exato instante-- do outro lado da mesa, sua mulher largou o copo de leite-- que quebrou ao estourar sobre o chão. ao ver a cena, ele, artur, respirou fundo, fechou os dois olhos com muita muita força. e fez aquela expressão de quem assume que fez algo completamente errado.

ao abrir os olhos, sua mulher já tinha a mão em punho fechado sobre a boca. e enquanto ela segurava o choro de raiva ele chegou a conclusão da merda que tinha feito.

sim, porque trocar o nome da mulher pelo de outra, significa que você pode estar tendo um caso, ou simplesmente lembrou de uma ex-namorada.
mas ele sabia que ao chamar-- com toda aquela naturalidade-- o cão com outro nome, aquilo sim, significava que ele não estava tendo um caso. mas sim, que tinha uma outra família.
porque niguém, niguém chama duas vezes um cão de toby daquele jeito sem ter uma intimidade e um carinho com um cão com aquele nome. e um cão que já esteve naquela situação. ao pé da mesa do café da manhã numa manhã como aquela.

e enquanto o catarro dela ameaçava descer para a boca e a raiva explodir, ela teve a certeza de que todas aquelas viagens à negócios eram na verdade viagens à família.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

os finais



mulher inicia diálogo com o marido após os créditos do filme começam a subir pela tela.

- amor? você gostou do filme?
- gostei, só não gostei muito foi do final.
- mas o final foi feliz.
- esse é o problema.
- você sabia que ele ia pedir ela em casamento no final?
- não. mas sabia que ia ser feliz.
- mas qual é o problema?
- ué, a vida não é só feita de finais felizes.
- (silêncio)
- agora mesmo, você está pensando no que eu acabei de dizer e tenho certeza que se lembrou de vários momentos que poderiam ter acabado melhor no seu dia. na semana. enfim, na vida...

- (silêncio)

- desculpe a dose de realidade. mas é que, a sandra bullock só existe no cinema. (e ao falar esta última frase-- ele de repente nota, lá de longe, a unha do dedão do seu pé direito. gigante e quebrada na ponta-- que lá do fim da cama observava aquela conversa. e da unha não cortada, ele passa a observar a perna branca e um tanto flácida-- que ele prometera para ela que exercitaria na academia. da perna ele passa para a barriga dele, que alí, dobrada naquela posição na cama, parecia ter quase 10 quilos a mais do que quando eles se casaram. ele então inspira fundo e chega rapidamente a conclusão da importância dos finais felizes para a vida e o bem estar do universo. ele enche uma mão de pipoca, se vira para a mulher e diz:

pensando bem. adorei o filme. especialmente o final.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

jornal e o adolescente



- eu não entendo porque você lê o jornal assim, num domingo quase três da tarde-- quando já sabe tudo o que aconteceu no mundo.

- meu filho, rotina, faz parte da minha rotina desde que eu tinha quase a sua idade.

- sei... acho que entendi.
- é mais ou menos como você com aquela sua namoradinha.
- como assim?
- você já sabe que ela vai te fazer de bobo, vai acabar com você, vai querer voltar, vai te dar uns perdidos... mas mesmo sabendo disso antes, você vai continuar vendo ela. rotina.
- (silêncio)
- (silêncio)
- e o flamengo hein pai? o que diz aí no jornal?

anestesia e a marca de batom.



- pedro, essa marca de batom! essa obturação nova! você me traiu com a dentista durante a consulta!!
- acho que você esta exagerando. afinal, eu não senti nada. (pausa) foram apenas uns beijos e eu estava com a boca anestesiada.

sábado, novembro 28, 2009

a maior sinceridade do mundo.



os dois estavam no terceiro encontro. ele pediu a carta de vinhos. e depois que o garçom sugeriu um do douro, ele perguntou para ela o que ela achava.
ela disse baixinho: - eu não entendo de vinhos.
e ele, com a maior sinceridade do mundo, perguntou: - antes de pedir, uma pergunta....você acha que hoje existe alguma chance da gente ir lá para casa... pra você... sabe?
e ela: - não estou entendendo, você quer me dizer que a qualidade do vinho que você vai pedir depende da probabilidade de você dormir comigo ou não?
e ele: - não, é que se você for dormir comigo, imagine a quantidade de tempo que podemos economizar. chega vinho, cheira rolha, acena para o garçom, ele serve um pouco, acena novamente, serve o copo... e isso antes mesmo de pedir a entrada... amanha eu tenho reunião logo cedo... voce também...
ela interrompe ele e diz, também com a maior sicenridade do mundo: - você estacionou o carro perto?

Café




ele pediu um café.

a menina de trás do balcão perguntou: - com leite e açucar?
e ele respondeu, enquanto esfregava um dos olhos e olhava para o chão: - com o seu nome e telefone.

domingo, novembro 15, 2009

comparação.

- não acredito que você vai me trocar por outra.
- outras.
- então, são duas?
- com sorte, mais.
- três?
- não parei para pensar.
- como assim?
- o fim do nosso namoro não está relacionado a uma pessoa.
- então quem são essas pessoas?
- não sei ainda.
- então não existe ninguém.
- ainda não.
- então...
- é que ontem você me disse que já esteve apaixonada por outros na sua vida...
- e?
- eu só gostei de você. quero saber como é...
- mas...
- é que você gosta de mim hoje desta maneira-- por efeito de comparação-- ao me comparar com todas estas paixões que você já teve...
- mas...
- eu preciso...
- mas...
- só para efeito de comparação. para saber ao certo...
- mas isso não faz sentido. você me ama.
- claro.
- e vai acabar comigo, ficar com outras para saber o quanto me ama de verdade?
- claro.
- mas...

quinta-feira, novembro 05, 2009

perseguição.


ela tinha mania de perseguição.
chamava ele de ciumento.
chamava ele de pegajoso.
chamava ele de chiclete.

e quando ele finalmente se afastava--
ela chamava ele de "meu amor."

1990

ele acordou suado com falta de ar.
ela levou um susto, e perguntou, esbaforida:
- o que aconteceu, meu amor?
- pesadelo, tive um pesadelo.
- mas e o que foi?
- o pior deles.
- acontecia alguma coisa comigo?
- pior.
- a casa estava em chamas?
- pior.
- a casa era invadida por um tsunami e eu era levada gritando pelas ruas alagadas...
- pior.
- então? o que foi?
- o gol do caniggia que eliminou o brasil na copa de 90.

segunda-feira, novembro 02, 2009

a tampinha.




ele nunca se lembrava de colocar de volta a tampinha no tubo de pasta de dente.
ela nunca se lembrava de colocar um saco de lixo novo na lixeira depois de remover o lixo.
ele nunca se lembrava de tampar o frasco do creme de barbear.
ela nunca se lembrava de fechar a porta do armário depois de se vestir.
ele nunca se lembrava de colocar o prato sujo dentro da pia.
ela nunca se lembrava de colocar o telefone sem fio de volta no carregador.

ele sempre se lembrava de dizer que a amava.
ela sempre se lembrava de dizer "eu também."

quinta-feira, outubro 29, 2009

quase estradas.


e para não dizer que não tem nenhum post novo-- aqui vai uma série de fotos pelas ruas de lisboa.

notei que num certo horário, a luz do céu forma uma espécie de estrada-- que percorre sobre --as ruas estreitas que ainda estão cobertas pela sombra dos prédios antigos.
meio filosofada de bar, mas é algo por aí.

amanhã, com certeza.

o blog anda meio abandonado.
mas é apenas impressão. amanhã ele volta com (quase) a mesma frequência de antes.

quinta-feira, outubro 22, 2009

lisboa pela manhã

como tem faltado tempo para escrever, resolvi colocar aqui umas fotos de lisboa.
sem qualquer pretensão artística. nenhuma.

a série de fotos foi tirada entre 9 e 10 da manhã. num dia desses, acho que numa quarta-feira.
bom, e como esse blog é escrito daqui de lisboa, achei bacana postar umas fotos da cidade acordando. quase antes do dia começar.

quinta-feira, outubro 15, 2009

de longe e de perto. e vice-versa.

ele não enxergava nada bem de longe.
ela não enxergava nada bem de perto.
ele não notou quando ela sorriu do outro lado da rua.
ela não notou quando ele sorriu para ela-- ao entrar no elevador...

o horóscopo.

o dia já estava quase quase acabando.
o sol estava quase quase deitando no horizonte.
mas ela ainda acreditava.
afinal, o horóscopo daquela manhã-- dizia que aquele dia seria muito especial.
e que alguém igualmente especial apareceria na sua vida.

ela então decidiu esperar.
com um olho no sol e um outro logo abaixo-- no portão de entrada da casa.

entrando de mansinho em casa depois do bar.

a quantidade de pares de sapato deixado na entrada de casa por ele de madrugada-- era proporcional a quantidade de brigas que ela tinha com ele na manhã seguinte.

nuvens esparsas.

ela demorou quase uma hora escolhendo o biquini certo.
ele demorou quase um mês para tomar coragem e chamar ela para ir a praia.
a voz no rádio demorou quase um minuto para estragar tudo: "a previsão do tempo é de nuvens esparsas com chances de chuva."

quinta-feira, outubro 08, 2009

uma miragem e a timidez.

de longe ele observava ela.
ele e um amigo estavam sentados na praia. observando quem passava.
mas, parada, logo a frente, com os dois pés dentro d'água, uma menina observava ele de canto de olho. e enquanto ela chutava as marolas que quebravam nos seus pés, ele apenas observava. sem reação. do ponto de vista dele, cada movimento dela acontencia em câmera lenta.
depois de quase um minuto, quase sem piscar, o amigo finalmente fez um comentário. perguntou porque ele não levantava e ia lá falar com ela. tímido, ele não disse muito. levantou o ombro esquerdo na direção do lóbulo da orelha e disse algo como: - não sei.

ela sorriu como quem pede uma iniciativa. o amigo cutucou ele com o cotovelo e insistiu alguma reação dele.

ele então pensou na melhor desculpa. olhou para o sol que brilhava intensamente. notou o calor que nascia da areia quente e logo em seguida-- olhou para um relógio desses digitais grandes que fica nas ruas com publicidade e as horas. o relógio, que estava no calçadão da praia, logo atrás deles, gritava em letras digitais garrafais: 42º. ele olhou para ela novamente, soltou o ar como quem solta toda e qualquer esperança e disse: - uma miragem. ela é uma miragem. só pode ser.

poemas desconexos que não rimam.1


sábado de manhã.
café na rua-- perguntou ela.
não, em casa, claro, grunhiu ele.
pão velho, manteiga dura, leite fora do prazo.
"vizinho filho da puta, desgraçado!"
olha o palavrão, antônio cláudio!
o jornal da porta, roubaram-- só pode ter sido ele.
café na rua-- perguntou ela.


no estacionamento do shopping.

ele decorou as letras do estacionamento.
ele anotou os pontos de referência.
ele rabiscou o número da vaga.
ele gravou a cor do carro ao lado do dele.
ele lembrou de entrar e sair pelo mesmo elevador.

ele não conseguiu ir embora para casa.

ele esqueceu a chave dentro do carro.

diálogo de suspense barato de qualidade duvidosa.

- alô?
- olá.
- serviço de quarto?
- sim.
- ovos mexidos com aspargos. quarto 246.
- tem certeza?
- como?
- a senhora está no 244.
- como é que você sabe?
- posso ver no identificador.
- ok.
- e usando uma camisola azul clara, linda.
- como é que você sabe?
- posso ver pelas frestas do armário.
- como!
- brincadeira... mas o seu perfume é especial.
- como é que você sabe?!
- está vendo esta cortina atrás da cama?
- sim.
- olhe para o chão. está vendo os meus pés?

quarta-feira, outubro 07, 2009

a quase coluna do destak da semana

muitas vezes uma coluna que eu envio para o destak para uma semana, fica para a próxima.
é a natureza do jornal. as vezes, com a correria, a quantidade de notícias, reportagens maiores, e até mesmo notícias frescas-- a coluna é guardada para a semana seguinte.
mas neste caso, como esta coluna é sobre uma dica, um evento que vai acontecer no próximo domingo-- a coluna não tem uma sobrevida.
então, como ela não servirá para a semana que vem, resolvi publicar aqui.

o golo no parque mayer. ou no português falado no brasil, o gol...
para ser lida com a trilha sonora do filme carruagens de fogo.
ah, banda sonora = trilha sonora.
momentos de glória = carruagens de fogo.
remate= chute.
claque= torcida.

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O golo no Parque Mayer.

Devo um dos dias mais felizes da minha vida à banda sonora de Momentos de Glória. Eu tinha 8 anos de idade, levava a bola na direção do campo adversário. O coração palpitava e o juiz ameaçava inspirar o ar para dar o apito final. Aos 8 anos poucos momentos são tão importantes quanto um golo decisivo. Aos 8 anos, estes jogos marcam a vida de um garoto.
Sim, porque, para um menino de 8 anos, aquele é o momento mais importante do mundo, de todas as galáxias para ser mais exacto. O golo que pode separá-lo da glória com os amigos e a namoradinha-- da tristeza inexplicável.

Bom, neste dia, como você pode suspeitar pela primeira frase, eu marquei o golo. Foi lindo, foi no último segundo, foi mágico. Se eu hoje lhe contar como foi, a partir das minhas memórias, eu diria que deixei para trás 32 jogadores, e que depois acertei um remate de longe ao ângulo direito com o guarda-redes a cair em câmara lenta. E é aí que entra a banda sonora de Momentos de Glória. O filme era recente naquela época. A música de Vangelis marcou toda aquela geração.

Naquela manhã de Sábado, com a bola colada ao meu pé direito, eu não ouvia nada, a claque, os gritos, apenas a banda sonora do filme que tocava no volume máximo na minha cabeça. E foi cada nota daquela banda sonora, que me levou até ao golo. As bandas sonoras têm este poder. E neste domingo você tem a oportunidade de se reencontrar com muitas que o marcaram. No Parque Mayer às 21:00. A Lisbon Film Orchestra irá tocar alguns clássicos que com certeza já serviram de banda sonora para alguns dos melhores momentos da sua vida. Imperdível.

quinta-feira, outubro 01, 2009

a crônica do destak da semana.

a coluna da semana do destak é uma figurinha quase repetida aqui neste blog. o texto é novo. mas já falei sobre o restaurante aqui e no outro blog com dicas de restaurantes, o guia fucking fuckers. o outro textinho neste blog é sobre o sr. ramiro que trabalha lá. basta fazer uma busca com o nome "ramiro" ali em cima para conhecer um pouco deste sujeito nota 11 que trabalha lá.
bom fica aqui novamente a dica. chegou aqui em lisboa meio sem saber ao certo onde ir? farta-brutos. o prato? esse aí da coluna. (na outra coluna você vai encontrar um textinho sobre o figado de aves com macãs. que também é excelente. mas não é uma unanimidade como o prato da coluna desta semana.) ou chegou alguem para fazer uma visita? também. mas vá também se estiver com muita muita fome de comida e de um bom atendimento.





terça-feira, setembro 29, 2009

mas ele morde?

é a primeira vez que ela vai ao apartamento dele.
um cachorro se aproxima e ela começa a fazer carinho.
ela inicia um diálogo:

- ele morde?
- não.
- tem certeza?
- tenho.
- mas ele está rosnando ?
- mas morder, morder--- não morde.
- mas ele está mostrando os dentes?
- mas não morde, pode ficar tranquila.
- mas ele está fazendo xixi no meu pé?
- mas morder, não morde. relaxa.
- mas ele está trepando com a minha perna?
- mas não vai te morder.
- mas, mas, ele está destruindo a minha bolsa louis vuitton!
- mas morder, tirar pedaço de você, ele não vai.
- mas que cachorro filho da puta!!
- ó, agora, se xingar a mãe dele. aí ele morde.
[som de salto alto pipocando pela sala seguido do som da porta batendo e cachorro latindo.]

14 anos depois.

é aquela coisa. ele sempre soube que ela era a mulher da vida dele.
e ela sempre soube que ele era o homem da vida dela.

mas como ainda tinham apenas 16 anos-- e estavam absolutamente certos do destino incontornável de ambos juntos-- tomaram uma decisão sensata.
se despediram e combinaram de se reencontrar aos 30.

a melhor saída.

o chefe ligou para marcar uma reunião para organizar a outra reunião que serviria para montar a apresentação da reunião com o cliente que irá apresentar os resultados desta reunião na reunião do board. board, que sempre se encontra, quinzenalmente na sala de reuniões para uma reunião.

ele respondeu de bate pronto-- meio corrido-- como se estivesse com pressa: "infelizmente não posso. tenho uma reunião. e uma muito importante."

estratégias para pegar a que ele queria-- quando no começo parecia exatamente o contrário.

dois amigos encostados no balcão observam as mulheres que entram no bar. eles conversam:

- olha aquela loira. ela está olhando para a gente.
- é linda mesmo. quer ficar com ela? eu pego a amiga dela.
- mas a amiga não é tão interessante...
- mas tudo bem. a loira é sua. você disse primeiro.
- mas... o que é que você viu nessa amiga dela que eu não estou enxergando?
- nada cara. é aqui assim, todo mundo fica feliz.
- mas você ficaria mais feliz com a loira, não é?
- sim, mas você ficaria infeliz com a amiga dela. e eu não.
- mas eu não estou me endividando com você, não é? tipo, na próxima vez eu tenho que ficar com a baranga?
- não.
- promete?
- prometo.
- [silêncio]
- [silêncio]
- não cara, eu vou ficar com a amiga dela. você viu alguma coisa de errado na loira. algo que eu ainda não vi.
- mas...
- você é malandro. eu sei...
- mas cara... pode...
- conheço bem essa história do amigo que vai deixar o outro se dar bem para o bem da nação.
- que isso, você...
- fica com a loira e não se fala mais nisso.
- ok.

quinta-feira, setembro 24, 2009

ar.


ele inicia a conversa com ela.
- sabia que você me deixa sem ar?
- então você me ama assim, muito?
- sim.
- então, se eu deixo você assim, sem ar, é bom? não é?
- depende.
- depende?
- do ponto de vista.
- [silêncio]
- asma. eu sofro de asma.

coluna do destak da semana.



no classificados.



anúncio no jornal da cidade.

"morena. 22 anos. eu estava usando uma camisa de seda branca com bolinhas pretas.  você acenou de longe ao entrar no metrô. eu uso franjas no cabelo. tenho nariz fino. de perfil ele é perfeito. eu achei que você ia sair do metrô ao me ver. mas, não. seguiu em frente e acenou. você estava usando uma camisa preta e uma bermuda azul com desenhos de surf.  se você estiver lendo este anúncio-- queria lhe dizer algo muito especial: vai tomar no cu! seu bosta!! na próxima vez, fala alguma coisa."

o bikini da demi.

virginia, eua. madrugada.
no fbi. diretor de inteligência fala com um dos agentes.

- mas e essa luz aqui piscando. o que é isso ? rússia?
- mensagem nova no meu  msn.
- e esse ícone que não pára de pular no seu desktop? iraque?
- email novo.
- e essa lista que sobe no canto direito do monitor? lista de espiões chineses?
- o meu twitter.
- essa outra que...
- mensagem no facebook.
- [silêncio]
- [silêncio]
- e a movimentação das ogivas nucleares russas? a coréia do norte?
- shhhh... calma... o ashton kutcher acabar de twittar uma foto da demi moore de bikini.
- de bikini?
- de bikini.

terça-feira, setembro 22, 2009

a importância de um copo d'água durante uma reunião em que ele não estava.


a reunião já começou-- pensou ele.
mas é tanto blá blá blá, que não vão sentir minha falta-- raciocinou ele-- logo em seguida.
mas se não sentirem a minha falta, eles chegarão a conclusão que eu não faço nenhuma falta para a empresa!!-- concluiu ele-- assim com dois pontos de exclamação.
eles não podem descobrir!-- gritou ele, dentro da sua própria cabeça.

pausa.

a reunião já começou-- pensou ele.
melhor eu entrar-- e ao entrar,  derrubar um copo d'água sobre a camisa de quem estiver a falar--planejou ele.
assim, as pessoas irão se lembrar que eu estive por lá-- concluiu ele.

faltavam palavras

no shopping.

ele não sabia o que dizer para ela.
sabia que amava ela.
idolatrava ela.
sentia tudo por ela.
mas não conseguia dizer, assim, em palavras.

então num belo dia, ele comprou um milkshake de ovomaltine grande do bob's e deu na mão dela.

e, logo em seguida, entre uma chupada e outra no canudo, ela olhou para ele e disse: - eu também.



espaço

no alto falante da torre de comando:

- 10.9.8.7.6.5.4.3.2.1....

dentro da cápsula, o astronauta coloca a mão sobre a testa e diz, baixinho:
- cacete, o gás! deixei o gás ligado.

quinta-feira, setembro 17, 2009

doc. brown

homem conversa com o vendedor numa concessionária de carros usados.
ele se aproxima de uma kombi, olha o interior restaurado, as calotas quase novas e a pintura original. ele pergunta:

- e esse carro aqui, é bom para fazer viagens?
- no tempo, sim.

a previsão.


dois cachorros conversam enquanto observam as nuvens escuras que se acumulam no céu.

- será que a chuva que está prestes a cair-- vai estragar o nosso passeio no parque?
- não. é só ameaçar fazer cocô dentro de casa.