quinta-feira, dezembro 20, 2007

três diálogos de três casais de três de namoro.




(1) angêlo e mariana

- anjo?
- angêlo.
- eu sei que o seu nome é angêlo. mas rima com anjo. anjo.
- angêlo, caralho.
- anjinho.
- angêlo.
- é carinho amor. anjo é mais carinhoso. meu anjo. meu anjinho. sabe?
- não. ah, e queria aproveitar que a gente está conversando para falar com você uma coisa...
- fala meu anjo.
- eu estou querendo dar um tempo nessa relação.
- como meu anjo?
- tempo. um tempo. espaço. espaço. preciso de espaço porra.
- filho da puta.



(2) ricardo e lucia

- pipoca.
- pipoca?
- é lucia, o que você acha? pipoca, para acompanhar o filme, o dvd que você alugou.
- mas pipoca prende entre os dentes.
- mas não é sempre que isto acontece.
- ok, quando não prende nos dentes, fica aquela lasquinha agarrada no céu da garganta.
- ok, ok. e chocolate?
- engorda.
- jujuba?
- cáries.
- salada de frutas?
- você faz?
- um pacote de batatas?
- e ficar com a mão toda cheia de óleo?
- três anos.
- oi?
- três que a gente namora. você me promete uma coisa?
- depende.
- não, promete.
- ok. e o filme?
- não precisa ser hoje. mas algum dia, qualquer, você deixa eu vencer uma discussão? ou será que eu consigo que você concorde comigo? uma vez. peloamordedeus!
- posso pensar um pouco?


(3) antônio e linda.

- linda?
- o que foi amor?
- você sente?
- o que?
- pressão?
- como assim?
- para estar sempre, "linda"?
- mas não é um adjetivo, é um nome ué.
- mas deve ser difícil, não é?
- você.... quando me chama de "linda"... faz isso porque esse é o meu nome ou porque acha que eu estou bonita, linda?
- (pausa) o que você acha?

o dia que a misha chorou. (ela chora a partir dos 2:04 ... do vídeo)

eu tinha cinco anos de idade. cinco. é fácil fazer as contas com acontecimentos como uma olimpíada. tem uma data certa. não faz parte de acontecimentos que você acha que aconteceram num determinado espaço de tempo não tão específico. e, como a misha chorou em 1980. na olímpiada de moscow, eu tinha 5. não me lembro dos jogos. apenas da cerimônia de encerramento. para ser sincero, não me lembro da crimônia. me lembro mesmo é da misha chorando. duas lágrimas. pourra, e olha que isso tem 27 anos já. vinte e sete. naqueles jogos olímpicos, os americanos não foram. era o auge da guerra fria e os caras não quiseram passar uma semaninha em moscow. e aí, algum general russo, que não era bobo, chamou uma galera no gabinete dele e exigiu algo que fosse ter um impacto fucking fuckers pelo mundo. alguém levantou a mão e sugeriu a misha: "um ursinho. um ursinho bonitinho. a gente pode fazer a versão de pelúcia para os turistas levarem. em poucos dias tenho certeza que cópias seram vistas nas ruas dos estados unidos." a idéia foi aceita, é claro. e a partir daí, os russos passaram as semanas que antecederam os jogos preparando a misha. a invasão mundial dela. o ursinho que iria para sempre foder com a cabeça do governo americano. o ursinho mais fofo de todos os tempos. e aí, na véspera da festa de encerramento, quando o mundo inteiro já tinha se apaixonado pela misha, alguém, algum russo levantou a mão e disse: "e se a misha chorasse?" e o general fucking fuckers, puto, respondeu: "chorar é para fracos!!! porra! e a guerra fria caralho?" mas o sujeito insistiu: "mas não é um choro de medo. é um choro de emoção chefe." e o general: "emoção? que porra é essa?" e o cara: "bom, general, é um negócio que vai deixar os americanos bem putos da vida. e mais, se o mundo chorar com a misha, aí, fodeu." depois de algum tempo, o general foi finalmente convencido. a idéia de deixar os americanos chorando de emoção e de raiva com a misha, não tinha preço. no dia seguinte, como você já sabe pelo título deste textinho, a misha chorou. eu chorei. uma caráiada de gente chorou. o mundo inteiro viu o comunismo com a cara de um ursinho mais fofo da história. e ainda, para foder, os caras meteram uma musiquinha que não sai da cabeça. também de chorar. quatro anos depois, os americanos fizeram o escambau para tentar igualar o impacto da misha. colocaram um fera num foguete voando pelo estádio. gastaram sete trilhões de dólares. mas nada, nunca, chegou perto da misha chorando. duas lágrimas. duas gotinhas. vinte e sete anos ainda é foda. veja você mesmo o vídeo. o dia em que a misha chorou.

terça-feira, dezembro 18, 2007

o cagador de regras e o sujeito bem intencionado.


definir um cagador de regras é complicado. primeiro porque o que separa um belo cagador de regras e um sujeito bem intencionado, é, digamos, difícil de definir. é, porque uma pessoa pode ter sugestões, dicas que possam ser utéis para você. o cagador de regra também. a diferenção é que na grande maioria das vezes, o cagador de regra falar coisas que não importam. o cagador de regras é craque em explicar, listar, falar verdades absolutas. amparado em powerpoints, expressões como "veja bem..." e uma cara de pau fantástica. para ser sincero, todos nós temos o nosso lado cagador de regra. o importante é saber-- ser mais o sujeito bem intencionado com dicas válidas do que o cagador de regra que faz bullet points no ar sobre coisas que você está literalmente cagando. mas que, para o cagador de regra é importante. muito importante. o foda, o complicado, é conseguir antecipar a chegada de um cagador de regras. todo cagador de regras se fantasia de sujeito bem intencionado com dicas que parecm interessantes. mas é o fera abrir a conversa com: "veja bem.." para você sacar o celular do bolso e fingir que o bicho está tocando e fugir. ah, outra coisa. como diria o zampa, escrever um textinho como esse é uma certa cagação de regras. o importante é você saber ver nas linhas de cima, o que é importante e o que não é.

era uma segunda que não era a mesma. ou quando o caderno de esportes de avisa.



dia desses na agência, sentei para ler um jornal. na verdade, sentei para tomar um café e ler um jornal. é mais ou menos assim que funciona com jornal. você precisa acompanhar com alguma coisa. ok, não precisa. mas fica mais legal. tem gente que fuma um, dois, quase três cigarros. eu tomo café. daqueles grandes. bom, mas como eu ia dizendo, dia desses sentei para ler o jornal. era uma segunda. abri o jornal pelo começo. e não pelo final, como geralmente faço. ou seja, ao invés de começar pelo esporte. o que foi um erro fatídico. não sei o que você acha, mas se você misturar as notícias do último ano inteiro e dividir pelo número de dias do ano, cola. em outras palavras, se você pegar uma notícia de maio, uma outra de agosto, e uma outra de janeiro e juntar-- você pode dizer que é um jornal de hoje, que as pessoas vão acreditar. eu sei, você deve achar que eu estou cagando regras. que cada dia é diferente. que você iria notar. mas eu acho que não. todos os dias são meio parecidos, menos no que diz respeito ao esporte. encontro de líderes em algum país na europa. encontro de líderes em algum lugar no oriente médio. o preço do petróleo. mais um lançamento da apple. o ipod que diminuiu novamente. um senador X que está correndo o risco de perder o mandato. mais um cientista que passa a convenientemente a acreditar no aquecimento global-- depois de anos negando que o clima está indo para o caralho. é tudo bem parecido. o mesmo banco que quebrou recordes de lucro. o erro fatídico de não ter lido o caderno de esportes. é, porque são os esportes que gritam para você que dia é aquele. foi o fato de eu não ter lido os eportes primeiro que me fizeram perder meia hora da minha vida. e aí, quando já estava pescando o café na mesa para dar o último gole-- foi aí que eu cheguei no caderno de esportes. caráio, meus olhos caíram sobre a notícia que o josé mourinho ainda estava estudando a proposta de dirigir a seleção inglesa. caceta, o fabio capello, acabara de assinar um contrato fucking billion dollars para o mesmo emprego. e foi, aí, neste momento, que eu olhei para a data do jornal. era o jornal da semana passada. por isso, minha sugestão. como as chances de você pegar umas sete páginas que falam do encontro do g8, do presidente sócrates ou do lula reclamando da oposição-- abra os esportes primeiro. esportes não tem erro. dia desses na agência, sentei para ler um jornal. na verdade, sentei para tomar um café e ler um jornal.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

dois diálogos de dois casais com dois anos de namoro.



(1) patrícia e roberto.

- beto?

- oi amor?

- sabe aquela vizinha do 23?

- vizinha? vizinha? ah, sei?

- você acha ela bonita?

- interessante.

- interessante é bom, né?

- acho que sim, sei lá. não me lembro muito dela.

- ela veio pedir açucar hoje aqui.

- e?

- devolveu uma colher que você deixou lá quando foi fazer o mesmo.

- ah...

- é.

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(2) joana e joão.

- j & j.

- o que é isso?

- vou pedir para bordar toalhas com j & j.

- mas...

- o que foi, é romântico.

- mas como é que eu vou saber qual é a minha e qual é a sua?

- uma azul e outra rosa?

- mas já não é assim?

- [ silêncio.]

o chuveiro.

não sei como é que a dona do meu apartamento segurava a onda com o chuveiro. é daqueles que você tem que segurar com a mão para tomar banho. ou seja, o seu corpo nunca está todo coberto com a água. ou é a perna. ou é o braço. ou é o outro braço. ou é a cabeça. no verão, beleza. agora, no inverno é foda. ou a sua perna direita morre de frio. ou é a esquerda. e assim por diante. uma espécie de escolha de sofia-- aquele filme de partir o coração de qualquer ser humano-- você escolher, qual parte do seu corpo fica no frio primeiro. é foda. não sei como é que a dona do meu apartamento segurava a onda com o chuveiro.

luvas

esseé um testew. está taop fdrio em casa qwuie eui estou escrewvendp com luvas.
desisti,/

terça-feira, dezembro 11, 2007

o truque morgan freeman.



- você já notou que todo filme mais ou menos fica muito mais fudido quando ele faz a narração? a voz do fera causa a estranha sensação de que você está assistindo um dos maiores clássicos desde cidadão kane. demora uns dez dias para sair o efeito, o encanto e você se tocar que o filme era na verdade, bem mais ou menos. ou um tiquinho pior do que você achava. exemplo. o filme dos pinguins. é bom? é bom para caráio. ok. isto é um fato. agora experimente assistir com a voz original antes do morgan freeman entrar na parada. o filme cai de um 10 para um 8. existem é claro, os filmes que são unanimidades. the shawshank redemption, por exemplo, é fudido. se eu fizesse a narração enquanto comesse um strogonoff quente, o filme ainda seria do caralho. mas aí tem também aquel filme, o green mile. com o tom hanks. do mesmo diretor. o cara achou que o filme ia ficar legal. mas sabia, desde o início que não era um shawshank redemption. o que o fera fez? "morgan? e se a gente pagasse mais um pouco para você além de atuar, também fazer a narração." e pimba. é o fator morgan freeman. ou melhor, o truque. aquela voz do melhor amigo do universo worldwide planetário-- que faz você acreditar que aquele só pode ser o melhor filme do mundo. e não importa se você já sabe o truque. a beleza do truque morgan freeman, é que ele funciona sempre. mesmo você sabendo como.


pequenas teorias bem mais ou menos.

- quem compra shampoo de caspa, compra para sempre. eu já não tenho caspa desde 1999. mas não paro de comprar a pourra do shampoo com medo da caspa voltar.


- lapiseira é o cyborg do universo de um lápis. o que o robocop e o exterminador do futuro são para os seres humanos, é como um lápis número 2 deve encarar uma lapiseira.


- a cada novo dia de frio, o meu respeito pelos esquimós aumenta.


- depois de uma noite de frio com o cobertor no chão e com preguiça e congelado para resgatar o fêla da pulta, resolvi alugar para assistir novamente "a marcha dos pingüins." tenho certeza que vou chorar agora quando ver os pequenos pingüins tremendo sobre o gelo durante duas horas. tenho certeza.



-

o alarme, a parede e o lionel richie.

dois amigos se encontram na véspera do casamento da ex-namorada de um deles.
sexta-feira de verão, mas com temperatura de outono. o bar está prestes a fechar. eles são de casa, mas o garçom está começando a levantar as cadeiras das outras mesas.

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dinho é casado, pai de uma menina de quatro anos.

andré namora uma menina bem mais bonita do que a luana piovanni mas fantasia com a luana quando está transando com a namorada.
torce para o são paulo é fã dos primeiros discos do titãs.

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andré: - o são paulo.
dinho: - o que tem o são paulo?
andré: - campeão. foi campeão.
dinho: - deve ser bom torcer para o são paulo.
andré: - sabia que não é. não tem lá assim muita graça.
dinho: - como assim?
andré: - o seu time...
dinho: - o que tem o meu time?
andré: - ... faz você sofrer. e aí quando ganha, dá para ver nos seus olhos a alegria. tenho inveja de você.

silêncio.

dinho: - saideira?
andré: - saideira.
dinho: - quantos foram?
andré: - oito cada um?
dinho: - nove.
andré: - não, um foi aquele seu amigo que tomou quando passou para te dar um abraço.
dinho: - o bruno.
andré: - nada contra o bruno. mas existem poucas coisas mais escrotas que amigo que vem dar um alô, toma uma cerveja e vai embora. é como se, só porque nós, eu e você, tomamos mais do que dez chopps, o dele não conta. dilui. não fódi.
dinho: - mas ele ofereceu deixar um dinheiro.
andré: - não, ele perguntou se eu tinha trocado para 50.
dinho: - truque velho. falando no nome dele, me fez lembrar da..
andré: - eu sei.
dinho: - sabe?
andré: - da bruna?
dinho: - isso.
andré: - do casório da bruna?
dinho: - isso.
andré: - do casório da vaca da bruna?
dinho: - calma, vaca, vaca, eu não sei. mas, sim, ela vai casar.
andré: - com aquele babaca do johnny.
dinho: - ele é gente boa.
andré: - ninguém com um apelido como johnny pode ser legal.
dinho: - gente boa, eu disse.
andré: - um filho da puta.
dinho: - cara, mas o que essa mulher fez com você?
andré: - aquela vaca?
dinho: - a bruna.
andré: - a vaca?
dinho: - ok, a vaca.
andré: - então você concorda que ela é uma vaca?
dinho: - não. você é que não queria seguir em frente enquanto eu não chamasse ela de vaca.
andré: - ela acabou comigo.
dinho: - mas isso acontece todos os dias com todo mundo. e você tem uma namorada sensacional.

o garçom se aproxima oferecendo a conta. o copo de chopp, o último, está na metade.

andré: - você acha ela sensacional?
dinho: não sensacional para mim. sensacional para você. ela é bonita. legal. mas não vamos mudar de assunto. conte continue a falar da bruna.
andré: da vaca?
dinho: isso, da vaca.
andré: cara, a gente namorou dois anos. dois anos porra! e um dia, a filha da puta acaba comigo. dois anos.
dinho: - e eu que namorei com a claudinha quase oito e um dia, do nada, acabei com ela. hoje ela está feliz e com quatro filhos.
andré: - é difícil explicar. ele fala baixinho. dois anos. dois. e de repente, puff, acabou.
dinho: - tenta.
andré: - all night long!
dinho: - como?
andré: - cara, eu nunca contei isso para ninguém.
dinho: - explica melhor.
andré: - all night long!
dinho: - all night long?
andré: - all night long!
dinho: - cara... eu não estou entendendo...
andré: - a gente tinha um alarme.
dinho: - alarme?
andré: - isso, que ficava do lado da cama. do meu lado. ou seja...
dinho: - você tinha a obrigação de desligar.
andré: - obrigação não. mas eu tinha que desligar simplesmente porque estava do meu lado da cama.
dinho: - e?
andré: - o alarme era alto para cacete. ou ninguém acordava. dolby stereo surround zamber fuckers.
dinho: - muito?
andré: - porra.
dinho: - e?
andré: - ou ele tocava rádio ou um apito infernal.
dinho: - você escolhia qual?
andré: - rádio.
dinho: - ainda não vi o problema.
andré: - all night long!
dinho: - porra cara, que papo louco...
andré: - um dia, um sábado. o alarme tocou. uma música alta para caralho.
dinho: - que música?
andré: - adivinha?
dinho: - all night long!
andré: - all night long!
dinho: - que música é essa?
andré: - lionel richie. 1983. um clássico.brega, mas um clássico. all night long faz parte daquela lista de músicas que uma vez que você escuta, fodeu. mas fodeu mesmo. apenas uma cirurgia num hospital daqueles de um episódio de x-files-- apenas uma cirurgia experimental consegue fazer você esquecer a carálha da música.
dinho: livin' la vida loca do rick martin?
andré: isso.
dinho: a macarena?
andré: também.
dinho: aquela mela cueca do james blunt... you're a beautiful?
andré: ok, essa também.
dinho: - mas como é a letra da música?
andré: - o refrão é simples... é all night long! umas vinte vezes.
dinho: - vinte?
andré: - e por baixo. bom, naquele dia eu estava cansado. não consegui desligar o alarme. a música tocou na íntegra. e depois, como fazia parte de uma competição de hits, venceu e tocou de novo.
dinho: - all night long?
andré: - quase dez minutos
dinho: - nossa.
andré: - uma semana depois, peguei ela olhando para o vazio. a gente tava no restaurante. e ela olhava para a parede.
dinho: - parede?
andré: - parede é um dos piores sinais. olhou para a parede uma vez, crise. pegou a mulher olhando para a parede duas vezes, fica esperto. três vezes, começa a procurar um apartamento.
dinho: - parede é foda.
andré: - então, era a quarta vez já. e naquela semana. aí eu peguei a mão dela e perguntei o que estava errado.
dinho: - e ela?
andré: - disse que não sabia como dizer.
dinho: - e?
andré: - disse que sempre que olhava para mim só conseguia enxergar uma coisa...
dinho: - uma? mas o que?
andré: - all night long!
dinho: - a música?

andré: - é, a música e o pior, o vídeo clip também. os dois não saiam da cabeça dela. desde o dia do alarme. atormentava ela dia e noite.
dinho: - puta música chata do caralho também.
andré: - ela disse que já tinha tentado de tudo. até psicoterapia e nada. passava o dia repetindo essas palavras na cabeça. sem parar. até dançava sem querer uns passinhos imitando o lionel.
dinho: - também, que azar o seu. foi ficar com sono justo na manhã que tocou all night long!
andré: - all night long!
dinho: - é... foda. que história triste cara. que vaca. Pausa e ele continua: mas também... o alarme ficava do seu lado.
andré: - você também? não fódi.
dinho: - mas não fica assim não. você ainda tem o são paulo.
andré: - é. o são paulo. puta time chato do caralho.
dinho: - nunca perde.
andré: - que graça tem? tenho inveja de você cara.

e, enquanto os dois pagam a conta. o dinho, se lembra do refrão da música e, sem quere começa a cantar baixinho. só o refrão. andré, sem notar, acompanha com um assovio. bem baixinho. quase imperceptível.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

ele gostava de falar "feeling" e ela de falar "né?"

sábado. os créditos de "about a boy" com o hugh grant, estão subindo pela tela da tv. os dois estão na sala. ela com meias. ele com o cobertor enrolado no pé. ela tentando tirar uma lasca de pipoca do dente de trás-- tentando não fazer muito barulho. ele dá um último gole numa taça de vinho, acho que é periquita. ele, meio comovido, ou pelo menos inspirado pelo filme, se vira para o lado e diz uma frase daquelas que ou toda mulher gosta de escutar ou odeia. não existe meio termo. mas o fêla, bom, ele diz a tal frase meio sem abrir muito a boca. apesar da importância e do peso da frase, ele diz como quem diz que prefere pão de forma sem casca do que com. ela pára de buscar a lasca de pipoca com a ponta da língua e presta atenção no que ele diz. faz isso olhando para a boca dele como quem lê lábios. por dois motivos: ele fala baixo. o controle remoto está perdido em algum lugar e ela não consegue abaixar o volume da tv. (pensando bem, com a trilha sonora relativamente emocionante, ela não se importa no volume da tv. ela presta atenção nos lábios dele porque ele nunca começou uma conversa com uma frase destas. nunca. e olha que eles estão juntos desde a véspera da final da copa de 2002.)....

ele:
- então você me ama.

ela:
- essa é uma pergunta ou uma afirmação?

ele:
- como assim, você não sabe dizer?

ela:
- essa última frase, por exemplo, consigo ver, enxergar a interrogação, na primeira não ficou muito claro. não sei ao certo se você sabe que eu te amo e está feliz por isso. ou, não sabe e está com dúvida sobre o nosso relacionamento.

ele:
- o que você acha?

ela:
- que você me ama, "né." e que eu também te amo, "né"?
ele:
- bom, o "né" fudeu a sua resposta.
ela:
- o "né"?
ele:
- é, o "né" é o maior símbolo de insegurança do mundo.
ela:
- "né" é um jeitinho meigo de terminar a frase... é que, agora que você levantou o assunto... eu também queria saber...
ele:
- que eu te amo? queria saber se eu te amo?
ela:
- é, quanto.
ele:
- mas não dá para quantificar. não é matemática. é... é..
ela:
- é o que?
ele:
- feeling... é um feeling.
ela:
- bom, agora foi você que fudeu a sua resposta.
ele:
- como assim?
ela:
- "feeling"? puta respostinha mais ou menos.
ele:
- "feeling". "feeling" é "feeling" caralho.
ela:
- não fala de novo não, que já cortou o tesão.
ele:
- "feeling".
ela:
- caralho, você está querendo me irritar "né"?
ele:
- "né"?
ela:
- o meu "né" é bem mais aceitável do que o seu "feeling".
ele:
- desculpe foi só um...
ela:
- pelo amor de deus, fale qualquer coisa, só não diga esta palavra...
ele:
- desculpe foi só um feeling que eu tive.
ela:
- babaca. você faz de propósito "né"?
ele:
- então você me ama.
ela:
- essa é uma pergunta ou uma afirmação?

três pequenas teorias.




- quanto mais frio o pais, maior a unha do pé do sujeito. ex.: no brasil onde era quente para cacete, eu sempre cortava as unhas para poder circular de havaianas. aqui, que está frio para caralho, não vejo meu pé tem umas quatro semanas. hoje, dei uma espiada no dedão, no chuveiro... rapaz... dá para matar alguém.
- a saudade, do mundo inteiro, diminuiu consideravelmente depois da invenção do skype. digo, o pessoal ainda sente saudade. mas a emoção é definitivamente menor. antigamente com o minuto de uma ligação internacional custando uma fortuna, os casais se reencontravam com catarro escorrendo pelo nariz e o reservatório seco de lágrimas. o skype dá uma aliviada.

- sempre que oferecem mostarda ou algum tipo de pimenta junto com a comida... fique esperto, a comida não tem muito sabor.

- o dan'up milkshake de banana é o melhor dan'up da história universal worldwide. ele dura umas três horas na maquininha de moedas aqui da agência.


quinta-feira, dezembro 06, 2007

carbonara e a aula de antropologia.



procuro evitar comer muita gordura. mas como com uma certa frequência. é complicado evitar. certa vez, acho que era uma aula de antropologia, um professor meu explicou que todo nosso fascínio por gordura está na nossa origem. quando éramos nômades e púlavamos de um canto para o outro da terr atrás de comida, o nosso organismo criou as papilas gustativas e alguma parte no cérebro para que a gente apreciasse mais as comidas com maior índice calórico. assim, com mais calorias, mais gordura acumulada, as viagens poderiam ser mais longas. até porque, naquela época não existiam supermercados e tal. é algo mais ou menos por ai. posso estar cagando regra. mas algo faz algum sentido aí. o fêla da pulta do homem da caverna que entrasse numas de comer alface, rúcula e tomate, estava fudido. e, está aí a nossa predisposição de preferir uma fatia de picanha do que uma de beterraba por exemplo. o que faz de um chocolate mais popular do que brotos de feijão. o que nos leva ao título deste textinho. hoje, jantei um macarrão carbonara. com mais lascas de bacon do que macarrão. impressionante a quantidade de calorias. esse que eu pedi, por algum motivo tinha um creme desses que agarra no garfo. saboroso. mas deve ter lá suas quinhentas e tal calorias. bom, enquanto comia e comentava que precisava perder lá uns quilos emendei na teoria do meu professor de antropologia. com a boca cheia de carbonara e uma tulipa de cerveja na outra e uma cesta de pão de alho mergulhado em manteiga disse: preciso contar para vocês o que um professor de antropologia meu disse um dia. sobre as calorias. e, sem nenhum peso na consciência, molhei o pão na mini piscina de molho que se acumulava no canto do meu prato e soquei para dentro. as vezes, quando a calça jeans ameaça tossir, penso como teria sido interessante ter faltando aquela aula.

caráio, não tive nenhuma idéia. ok, tive uma bem mais ou menos: este título mais ou menos engraçadinho. aí, o post de hoje, fica para amanhã.

terça-feira, dezembro 04, 2007

"hmmm que dilíça de fila."

as filas de fim de ano.




em todo mundo é a mesma coisa. com o natal chegam as filas. com o frio chegam as filas. na verdade, quando eu morava no rio, com o natal chegava um calor do caráio. mas aqui em lisboa, o frio está chegando com força total. o que é bom. e ruim. bom, porque todo comercial de coca-cola tem neve. tem papai noel com bochechas rosadas com frio. tem trenó. ou seja, quando eu morava no rio, era, no mínimo estranho assistir aqueles comerciais de coca-cola com o papai noel risonho com frio e com renas. aqui faz um tiquinho a mais de sentido. a parte ruim do frio é a parte prática. mãos azuis, corpo tremendo. todo mundo marchando como os pinguins. mas voltando ao assunto das filas e do natal. é engraçado. a impressão que eu tenho é que a cada ano que passa, as pessoas compram os presentes mais cedo. se antes as filas se formavam umas duas, três semanas antes. agora já é um esquema que começa com mais de um mês de antecedência. tentei comprar café na nespresso hoje. fila. comprar um dvd. fila. comprar meias. fila. fila para cacete. e para todos os lados. de onde vieram todas essas pessoas extras. parecem figurantes que vieram apenas com a intenção de criar as filas. não faz lá assim tanto sentido. você deve estar pensando: "não fódi erick, falta um mês para o natal e nada mais natural do que as pessoas comprarem seus presentes com calma." concordo e discordo. concordo porque acho que comprar presente de última hora, uma das piores coisas do mundo. mas também discordo, porque ainda faltam cinco semanas. ou seja, não existe ninguém tão precavido que entra numas de comprar um presente com tanto tempo assim de antecedência. bom, mas é a temporada. fazer o que? é complicado. não tem como fugir. não adianta ficar nervosinho. dar chilique. dizer que não vai comprar o presente.e as filas, bom, as filas tem um lado bom. um só. as filas te dão a esperança de que, no final do ano, na véspera do natal, existe uma chance de ter um presentinho-- com o seu nome debaixo daquela árvore de plástico. é natal. em todo mundo é a mesma coisa. com o natal chegam as filas.

quinta-feira, novembro 29, 2007

a pequena teoria da sangria.



sangria usa vinho. vinho realtivamente barato. gelo. frutas. açucar e uma dose de um licor zambers, contreau, por exemplo. ah, e ainda colocam uns dois dedos de sprite. a teoria da sangria diz que a sangria foi um esquema que inventaram para cobrar, por um vinho bem mais ou menos, o preço de um vinho caro. simples assim. joga tudo numa jarra de vidro sem rótulo. com uma lasca de laranja agarrada na borda e uma caráiada de pedras de gelo. não tem como resistir. é praticamente impossível.

O cotovelo do Felipe. -- uma pequena peça de teatro.





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O cotovelo do Felipe.


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Maria. Ana. Patrícia. Flávia.

Maria é a mais velha apesar de se vestir como a mais nova das quatro.

Ana usa decotes, óculos e costuma falar alto.

Patrícia já foi casada duas vezes e hoje namora um homem casado. Mas ainda não contou
para ninguém.


Flávia é a mais nova. Bonita. Já tentou ballet. Acha que sofre de ninfomania mas é coisa da cabeça dela.


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Um café. Terça-feira, quase noite, quase chuvosa.

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Ana:
- Alguém ligou para a Flávia?
Maria:
- Liguei. Deixei recado na caixa postal. Ela ligou de volta depois. Acho que vai se atrasar um pouco.
Patrícia:
- Ela nunca atende o celular.
Ana:
- Bina.
Maria:
- Bina?
Ana:
- É, a invenção. O identificador de chamadas. O bina, B que Indentifica o Número de A. B, I, N, A. Sabia que foi um brasileiro que inventou o BINA. Mas nunca recebeu um centavo pela invenção? Coitado. Uma invenção daquelas que deixaria qualquer americano rico e como nome de Avenida. Avenida Bina. E o mais irônico é que ele deve sofrer.
Patrícia:
- Porque?
Ana:
- Imagina, sempre que ele liga para cobrar os direitos, algum tipo de reconhecimento. As pessoas não atendem, elas olham no visor do telefone e identificam ele. Tudo porque ele inventou...
Patrícia:
- O bina.
Maria:
- Vocês estão dizendo que ela, a Flávia, não atende pois sabe quem está ligando?
Patrícia:
- Olha quem fala.
Maria:
- Pati, foi uma só vez que eu não atendi. Eu estava transando pô. O cara em cima de mim, aquela coisa de tentar achar a posição certa. Vocês já notaram isso? O sujeito sempre tem uma posição que ele se julga o camisa 10. Sabe? Tipo, o cara faz as preliminares. Beijo aqui. Beijo ali. E quando sente que é o momento, te joga numa posição na cama em que ele acha que é o bam bam bam naquela posiçao. Bom, eu sabia que era você ligando. E eu não transava desde...de...de...
Ana:
- Desde...de....de.... é um tempão hein?
Patrícia:
- Olha a Flávia. Nossa, você viu como aquele cara sentado na entrada, olhou para o cofrinho dela quando ela agachou para pegar o papelzinho do estacionamento?
Ana:
- Ó, não vou dizer que ela fez de propósito. Mas, eu, de vez em quando. Só de vez em quando. Sublinhem, coloquem em negrito e itálico o "de vez em quando." De vez em quando eu faço isso de propósito. Dois dedinhos de peito. Uma leve revelação de coxa. Ou, o cofrinho mesmo. Faz bem para o ego. Muito bem. E não custa nada. Quem não quer ser comentada pelo pessoal da firma na hora do almoço? Eu quero. Já me dissseram que no ranking da firma eu estou em sexto lugar. Que honra. Se tiverem que pensar em alguém na hora de fantasiar com uma mulher da empresa, eu estou no sexto lugar.
Maria:
- Sexto? Na escola uma vez, eu descobri uma listinha no caderno de um menino. Eu era a segunda colocada.
Ana:
- Quem era a primeira?
Maria:
- A professora Cláudia.
Ana:
- E como era ela?
Maria:
- Sardas. Tinha sardas. Peito grande e tinha sardas.
Ana:
Competir com professora é impossível. E com sardinhas e peitos grandes. Essa mulher devia ser um cyborg enviado para a terra para pertubar os moleques. O segundo lugar então era um primeiro lugar quase que técnico.

Patrícia:
- Eu não faço tanta questão de ser comentada na hora do almoço da firma. Muito menos figurar no ranking. Mas, você tem razão. Eu tenho outra tática. Um pedacinho da calcinha de fora. Na parte de trás. Muito pouco. Quase imperceptível. Deixa o cara louco. Ou quase louco. Ok, deixa ele pensando coisas. Principalmente, e olha que eu estou revelando aqui uma tática daquelas que só vocês que são amigas podem saber. Principalmente pedacinho de calcinha com estampa de tigre. Tenho uma que é rosa escuro com estampa de tigre por cima do rosa. Mas só um pedacinho para fora. Funciona sempre.
Flávia:
- Gente, desculpem o atraso. Trânsito.
Ana:
- Tudo bem.
Maria:
- Estávamos dividindo táticas.
Flávia:
- Táticas?
Maria:
- Isso. Táticas para levantar o ego. Chamar a atenção alheia. Dos homens. E o ciúmes das mulheres que estão sentadas logo ao lado.
Flávia:
- Ah, vocês notaram eu derrubando o papel do estacionamento de propósito?
Ana:
- Eu disse.
Flávia:
- Ah, ele é um gatinho e a namorada meio baranga. Pode notar, parecem aqueles namorados que namoram por namorar. Preguiça de procurar. Ele engordou um pouco. Ela engordou mais. Ele tem 28 e ela quase trinta. Quem sabe eu não fiz um favor. Ele olhou. Ela ficou com raiva.
Maria:
- É, os dois não estão lá assim muito felizes.
Flávia:
- E a gente passa o dia presa no trânsito. E agora com essa violência na cidade tem o tal do insulfilme. Vocês já notaram que cada vez menos a gente leva cantada no trânsito? Ninguém consegue ver ninguém. Todo mundo com as janelas fechadas. Tudo escuro. Antes, sei lá, quando eu tinha os meus 18. Era sair na rua com o meu chevettinho para escutar elogios. E só saber que aquele gatinho olhou para o meu cofrinho já me sinto sei lá...
Patrícia:
- Gostosa?
Flávia:
- Desejada.
Maria:
- É, desejada é melhor do que gostosa. Nem toda gostosa é desejada. Sabe qual é a diferença entre desejada e gostosa? Uma mulher desejada até mostra um cofrinho quase sem querer. A gostosa mostra um cofrão, o dia inteiro. Aí perde a graça.
Ana:
- É, o insulfime acabou com as cantadas no trânsito.
Maria:
- Deixa eu ir lá no balcão pegar o café se não o garçom não vem
Flávia:
- O meu é com leite magro e adoçante.
Patrícia:
- Eu quero um uisque. Não quero café.
Ana:
- Uisque?
Patrícia:
- É, cansei dessa coisa de que mulher quando sai bebe café. Toma chá. Homem não. Homem quando sai toma cerveja, toma uisque. Toma caipirinha. Chega em casa bebâdo e está tudo bem. E a gente nessa coisa de comer "quiche com saladinha" e café. Puta prato sem graça. Quiche. Uma empada grande com ingredientes como alho poró e queijo emental. Vê se algum cara senta numa mesa e come qualquer coisa com alho poró. Cansei do alho poró e do café. Uisque.
Ana e Flávia juntas:
- Uisque.
Maria:
- Ok.
Maria se levanta e sai de cena por uns 30 segundos.
Flávia:
- Não sei como falo para ela.
Ana:
- Fala o que?
Flávia:
- Que eu cheguei atrasada porque estava num apart com o Felipe.
Patrícia:
- Felipe, felipe?
Flávia:
- Felipe, felipe.
Ana:
- Felipe, felipe, felipe?
Flávia:
- Felipe, felipe, felipe.
Patrícia:
- Feli...
Flávia:
- Porra, acabei de falar que estava num motel com o felipe e a única coisa que vocês conseguem falar é o nome dele. Parecem EU, meia hora atrás repetindo o nome dele enquanto ele estava em cima de mim.
Patrícia:
- Foi tão bom assim?
Flávia:
- Câimbra. Eu tive câimbra. Eu gritava para ele sair de cima de mim.
Ana:
- É, então não foi bom?
Flávia:
- Até que foi. Foi. Nota 6,7.
Maria chega na mesa com os uisques:
- 6,7? O que é 6,7.
Patrícia:
- A nota que ela deu para um cara depois de transar com ele.
Maria:
- 6,7? É bom ou é ruim.
Ana:
- Depende.
Flávia:
- Depende muito.
Maria:
- Do que por exemplo?
Patrícia:
- Por exemplo: se a transa foi média, mas ele me abraça depois na posição de colher e faz carinho no cabelo. Ganha pontos. A nota sobe.
Ana:
- É, agora, se a transa foi sensacional e ele liga a tv depois ou arruma um jeito de espiar o relógio, aí a nota dele cai.
Maria:
- E esse, o que ele fez para merecer um 6,7?
Flávia:
- Eu senti câimbra no meio. Uma fisgada na batata da perna.
Patrícia:
- E ele achou que ela estava gritando o nome dele... porque estava gostando.
Flávia:
- Para resumir. Senti câimbra e depois ele fez uma massagem. A massagem subiu a nota dele.
Maria:
- Massagem? Então merecia mais que 7.
Flávia:
- Mas é que eu não tive...
Ana:
- Nem fingiu?
Flávia:
- A câimbra.
Maria:
- Claro, de tanto gritar.
Flávia:
- Ele deve ter achado que eu tive.
Maria:
- Aí, ele achou que você teve e não se esforçou mais.
Flávia:
- Isso. Partiu logo para a colherzinha.
Ana:
- É por isso que eu nunca finjo. Cara que consegue me levar para a cama minha amiga tem que trabalhar dobrado. Não tem essa de fingir, concentrar. Eu não fico pensando no Brad Pitt lambuzado de óleo, para tentar ter mais fácil. O cara comigo tem que jogar o melhor jogo da carreira dele. Tem que sair do campo aplaudido de pé pela torcida. Tem que sair com a certeza de que eu nunca mais vou sentir nada igual. Ou melhor, o cara tem que sair com medo que eu não consiga mais me levantar da cama.
Flávia:
- Mas que exigência...
Patrícia:
- É, acho que é um pouco exagerado mas...
Ana:
Pô, gastei uma fortuna colocando esses peitos. Roupa tá cara. Sair de casa, com essa violência é difícil. Aí, se rola, putz, trabalha colega.
Red Bull. Pilula azul. O que for, não pode é me deixar na mão. E numa boa gente, é muito engraçado ver a Samantha do Sex and the City falando de vibrador. Outra coisa é você pegar um carro ir lá na Oscar Freire, dar bom dia para aquela hostess que se acha a mulher mais gostosa do mundo e perguntar onde ficam os vibradores.
Flávia:
- É, você tem toda a razão.

Patrícia:
- Você tem razão. A partir de agora eu vou parar de fingir. Não finjo mais.
Flávia:
- Ah, se o cara for um fofo. Educado. Pagar a conta. Pegar em casa. Ser bem cuidado. Bem vestido. Se eu sentir que ele fez um esforço descomunal para agradar aquela minha noite, aí eu finjo numa boa. Isso é claro, se eu não tiver um de verdade.
Maria:
- Mais um uisque?
Flávia, Ana e Patrícia:
- Mais um.

Maria se levanta e sai de cena por uns 30 segundos.

Patrícia:
- Olha, aproveita que ela saiu e pensa um jeito de falar. De contar para ela que você deu para o Felipe.
Flávia:
- Deu? Que jeito de falar. A gente fez amor.
Ana:
- Ele disse que te amava?
Flávia:
- Não.
Patrícia:
- E você? Disse que amava ele?
Flávia:
- Também não.
Patrícia:
- Então você deu.
Flávia:
- Ok.
Maria:
- Aqui, Black Label. Ele disse que tinha o Red e o Black. Um custa o dobro do outro. Red Label. Black Label. Como a gente nunca bebe. Pedi o mais caro. 12 anos.
Ana:
- Black Label então será.
Flávia:
- Maria, eu dei para o Felipe.
Maria:
- Como?
Flávia:
- É, eu poderia ficar enrolando, adiando. Mas essas duas não param de me olhar. Pronto. Eu dei para o Felipe. Dei. Felipe. Eu dei. Satisfesitas?
Maria:
- Tudo bem.
Ana:
- Tudo bem? Mas é o Felipe.
Maria:
- Ex namorado.
Patrícia:
- Mas é o Felipe.
Maria:
- Ex. Ex, estamos separados. Caramba. Fui eu que quis me separar dele. Numa boa.
Flávia:
- Obrigado Maria. Amiga, juro que não é nada sério. É que, sei lá rolou.
Maria:
- Ele sempre teve uma queda por você.
Patrícia:
- E por mim?
Ana:
- Patrícia, que pergunta.
Maria:
- Uma vez ele comentou de um biquini que você tinha. Disse para eu comprar um igual para mim. Tudo bem.
Flávia:
- Você é uma amigona sabia?
Maria:
- Só uma pergunta.
Flávia:
- Qualquer.
Maria:
- Ele fez aquele negócio em que ele precisa se apoiar no cotovelo direito para executar com perfeição, com você? Na cama, na hora que vocês estavam sabe...?
Flávia:
- Apoiar no cotovelo direito?
Ana:
- Cotovelo?
Maria:
- Ah, então dá para entender porque ele ganhou um 6,7.
Patrícia:
- Porque?
Flávia:
- É, porque?
Maria:
- Nossa, se ele tivesse feito o esqueminha em que ele tem que apoiar com o cotovelo direito na cama para executar com perfeição... você estaria chegando só agora. E ele teria recebido um, sei lá, um 9? 9,8?
Flávia:
- Cotovelo direito apoiado na cama?
Patrícia:
- Cotovelo?

Meia hora depois. Maria e Ana estão sozinhas no taxi a caminho de casa.

Ana:
- Bem que você disse que todo homem tem uma posição em que ele é o camisa 10, o bam bam bam. Quem diria: o cotovelo direito do Felipe. E apoiado na cama.

Maria:
- É mentira. Eu inventei isso na hora, foi para deixar ela daquele jeito. Vai para sempre se achar um pouquinho menos agora. E não vai perguntar para o Felipe porque se perguntar estaria se rebaixando. E se pedir, periga fazer o papel de ridícula. Imagina agora, toda vez que ela transar com ele. Vai ficar lá, olhando para o cotovelo dele. Esperando o cotovelo se apoiar na cama de um jeito diferente.
Ana:
- O cotovelo direito. Que plano diabólico.
Maria:
- Tudo bem, quer ter um cofrinho daqueles, ser a mais gostosa do grupo, eu aguento. Agora, transar com o meu namorado, não! Pausa.
E eu já sabia.
Ana:
- Mas como?
Maria:
- Ela me ligou do apart-hotel para dizer que tinha pegado o recado, que tava no trânsito e que ia se atrasar um pouco. O mesmo apart-hotel que eu sempre ia com o Felipe.
Ana:
- Mas como é que?
Maria:
- Bina.
Ana:
- B que identifica número de A.
Maria:
- Coitado, não recebeu nenhum centavo pela invenção.

Enquanto isso, Flávia está sozinha dirigindo, presa no trânsito.
Flávia coça a cabeça e fala:
- Cotovelo? Cotovelo direito?

É então, logo após pensar no cotovelo e se mostrar frustrada que ela resolve abaixar o vidro do carro girando a manivela.

E, lá de longe, escutamos um cara gritar:
- Gostosa!

Fim.






terça-feira, novembro 27, 2007

vhs, botox, guerra nas estrelas e a barba branca.



certa vez escrevi sobre a falta de tempo. ou melhor, já escrevi sobre a falta de tempo uma porção de vezes. acho que é um fato, o tempo é o grande bam bam bam. o carinha mais fucking fuckers que existe. presente de natal? tempo. quem não quer? dúvido. existem várias maneiras de tentar ganhar, adquirir, ser dono de um pedacinho de tempo. botox. botox te compra uns dois anos. mas dois anos que expiram em seis meses ou menos. uma camiseta com uma estampa retrô, com a imagem original do poster de guerra nas estrelas? hmmm, sei lá uns 25 anos. vinte e cinco que, dependendo da máquina de lavar, dura lá seus dois anos. o próprio relógio é uma maneira de comprar tempo. literalmente. eu tenho um daqueles casio com calculadora. não é original comprado em 1983. mas de uma coleção dessas que os caras lançam hoje em dia para fisgar pessoas como eu. que querem ganhar do tempo. livros. romances. livros antigos digo. programas como o dvd com o melhor do tv pirata, por exemplo. você ganha alguns anos. mas com o risco de série de perder uma hora e meia. porque existe a chance grande de tv pirata ter muito menos graça do que tinha quando você viu pela primeira vez. emagrecer. emagrecer é das maneiras mais difíceis de ganhar tempo. ficar com aquele corpitcho de quando você era moleque e não se preocupava com o que a fivela do seu cinto dizia. o tempo é foda. dia desses, com o inverno porrtuguês, entrei numas de deixar a barba crescer, só para sentir o drama, ver o que dava. bom, cresceu uma caráiada de fios brancos. o tempo não está lá assim, esquecendo de me lembrar que ele não pára. ele é foda. a melhor maneira de recuperar, ganhar o tempo que perdi com esses fios? mach 3. três lâminas afiadas e duas mãos de creme. guns and roses. com qualquer itunes, pimba, lá vai você para 1990. falando nisso, nele, no itunes. existem poucas maneiras mais rápidas e práticas de voltar no tempo. dura lá seus três minutos e tal e pronto. mas quebra um galhão. o primeiro fêla que abrir uma loja que vende tempo, fica quaquilionário. aqui em portugal, descobri um esqueminha bom. a veja. isso, a revista veja velha. aqui, você vai numa banca e encontra a veja da semana, uns cinco dias depois. ou seja, a revista que saiu no domingo, no sábado no brasil, encontra aqui na quinta seguinte. por cinco euros. cinco euros para voltar cinco dias no tempo? porra, é uma merreca. o tempo que você perdeu aqui, por exemplo. quer ganhar ele de volta? assista uma parte da sessão da tarde. qualquer dia. uma parte só. não precisa ser o filme inteiro. ok, se você não mora no brasil e não tem sessão da tarde... alugue uma vhs. não vale dvd. dvd não funciona. vhs funciona bem melhor. vai por mim. certa vez escrevi sobre a falta de tempo. ou melhor, já escrevi sobre a falta de tempo uma porção de vezes.

dança com as estrelas.


que caráio é isso? um programa em que as pessoas famosas dançam e ganham um prêmio zambers e milhões de pessoas assistem? não é que seja estranho... não faz nenhum sentido. dia desses vi que um dos grandes favoritos para o programa era o helio castro neves, campeão de formula indy. caceta como assim? quem é que assiste o helio castro neves dançando rumba? como é que se julga uma bagáça dessas? o menos esquisito? o que cai menos? o que parece que está sofrendo menos? e, na boa, ou o cara está afim de ficar com a instrutora de danças do programa ou ele está afim de ficar com a instrutora de danças do programa. um fera que ganha dois milhões de dólares só por ter vencido as 500 milhas de indianápolis não vai vestir um colant e dançar tango ao vivo em rede nacional. essa semana vi um grupo desses quase famosos no larry king live, na caráia da cnn-- falando sobre os passo de dança. quase bizarro. o mundo acabando. o petróleo batendo na casa dos 100 dólares. california em chamas. paris em greve. flamengo na libertadores. e os caras perguntando para o hélio castro neves como é que ele aprendeu a fazer o cha-cha-cha em tão pouco tempo? não fódi.

5 pensamentos do dia no subway


- as batatas fritas camponesas da "lays" a elma chips daqui, é fabricada no mesmo lugar em que a ruffles que não é camponesa. eu olhei no verso da embalagem. achei que vinha do campo e o caráio.


- ao lado do subway aqui em lisboa tem uma estação de metrô. ou seja, um turista cuja primeira língua é o inglês periga parar na loja de sanduíches se perguntar para alguém-- onde fica o metrô mais próximo.


- quando o atendente do subway pergunta "extra cheese?" ele na verdade quer dizer: "extra 35 cents?"

- quando você entra numas de pedir o subway inteiro. o de 30 cm, deixa de fazer parte do grupo da humanidade que consome a quantidade normal de calorias. e passa a fazer parte do pessoal que tem suspeitas de possuir algum ser não identificado dentro do corpo.

- o subway de lisboa fica ao lado do ben and jerrys. coisa de fêla da pulta. vai ser esperto assim na casa do caráio. nêgo come sanduba leve, sai achando que está na boa, que comeu algo leve, e pimba, soca um sorvetão para dentro. já fiquei observando o esqueminha. funciona sempre. 7 de cada dez manés que joga para dentro um subway, come um sorvete.

sexta-feira, novembro 23, 2007

revistas e dentistas.



fui ao dentista aqui em portugal. cheguei lá, e na sala de espera, as revistas que estavam sobre a mesa de centro eram da semana. atuais. não eram velhas. eram fresquinhas. eu olhei duas vezes para a data da capa e umas vinte vezes para a data do meu relógio. só para ter certeza. impressionante. me senti num universo paralelo. como o universo bizarro dos super amigos, da sala de justiça, lembra? acho que foi a primeira vez na minha vida que eu entro numa sala de espera de um dentista e encontro uma revista da semana. do dia. uma pena, pois o universo paralelo continuou. eu não tive que esperar. ou seja, diferente do meu dentista no brasil em que eu tinha que esperar um tempão lendo a revista caras de 1998, aqui eu fiquei, vai, uns dois minutos esperando. talvez menos. uma sala de espera daquelas que merecem fazer um programa investigativo daqueles tipo 60 minutes, globo repórter, cnn 360º, dateline nbc. negócio sério. o mundo precisa conhecer. eu, se fosse o dentista, abriria a sala de espera do meu consultório para visitas turísticas. o mundo inteiro ia gostar de ver esse esquema. uma sala de espera com revistas novas. teria filas. pessoas visitariam o castelo, belém, o pavilhão chinês, o bairro alto, e a sala de espera desse dentista. eu visitaria. mesmo se não fosse cliente.

get message/get mail/send and receive. e o vício.




não sei o que diz o botãozinho do seu email. o meu diz 'get mail'. eu clico nele, e o computador passa um pente fino para ver se chegou alguma mensagem nova. é simples. aperto, um relógio gira rapidinho e pipocam mensagens na minha caixa postal. ou não. e é aí que dá a merda. quando não tem mensagens. aí começa o dedo nervoso. clica. clica. clica. como se a quantidade de clicks fosse influenciar na vontade de alguém escrever para você. o que não é o caso, é claro. não adianta nada clicar. o fêla não funciona assim. muitos clicam o botão do get mail, como se a velocidade dos clicks vai fabricar mensagens. acho, e tenho quase certeza que uma das coisas mais viciantes do mundo é o botão do get message. você mesmo que está lendo este textinho, deve estar pensando nisso neste exato momento: "será que eu tenho alguma mensagem no meu email agora?" , "acho que vou parar de ler esse blog e apertar o botãozinho catador de mesangens de email." vai lá, eu espero. numa boa. checou? ok, vamos em frente então. se existe uma coisa que eu compreendo é este vício. eu tenho. dos grandes. não sofro como quem precisa ir para uma clínica. mas sofro. já saí de reuniões fingindo que ia ao banheiro para apertar o botão do get mail. sei lá, vai que chegou um email. nunca se sabe. tá vendo, me diz se você não está com vontade de voltar lá e checar o seu. o meu, quando aparece email antes de eu mesmo clicar o botãozinho (o que é raro), bom, ele colocar o número de mensagens nova dentro de um pequeno círculo vermelho na parte inferior do meu computador. não pisca. eu tenho que passar o mouse sobre o ícone do programa para saber se tem alguma coisa. qualquer mensagem. e volta e meia eu vou lá. pior. mesmo quando o ícone do programa do email me avisa que não tem nada, nada me esperando, eu vou lá e clico o get mail. e isso vale para boletins de jornais que eu assino. sites desses que eu mesmo entro numas de me cadastrar apenas e somente para receber updates das notícias da cnn que eu acabo de ver no próprio site. todo email vale. ok, spam não. até porque o fêla do spam já vai direto para a caixa de spam. o que ainda dá mais raiva, a caixa de spam recebe mais mensagem do que eu. caráio, nunca tinha pensado nisso, mas o spam é o sujeito ou coisa mais popular do mundo. recebe centenas de email por segundo. sorte dele. fêla da pulta. email é uma das coisas mais viciantes do mundo. e o problema é que o negócio é grátis, não fode com o fígado, não aumenta o seu colesterol ou o nível de açucar no sangue. não, apenas faz você passar o dia com o dedo indicador nervoso sobre o mouse e o botãozinho do get mail. eu, por exemplo, vou lá agora. até por isso, se você sentiu que ficou faltando um final decente para este textinho. desculpa. mas deve ter um email lá. ou não.