terça-feira, janeiro 30, 2007

o taxista, o filosófo e a revolução.

taxistas são filósofos que conhecem bem a cidade em que vivem. taxistas sabem de futebol, absolutamente tudo sobre futebol, política, religião e economia. mais ou menos nessa ordem. dia desses peguei o maior filósofo de todos os tempos. uma mistura de filósofo com che guevara com dor nas bolas do saco. mas uma dor daquelas agudas e crônicas. e para ficar ainda mais caricato, o fêla tinha uma voz a lá cid moreira. bom, ao entrar no taxi ele já foi saudando: "bom dia senhor..." até ai, nada demais, tranquilo. foi a gente passar por um coitado, um sem teto, que dormia no chão para ele comentar: "esse aí vai liderar uma revolução. a revolução. e vai levar um tiro no peito e morrer sem saber o que o atingiu." coitado do sem teto, pensei. não sabia que estava prestes a liderar uma revolução que resultaria na sua iminente morte. segundos depois eu vi um prédio com a lateral toda grafitada. ele olhou para mim, pelo retrovisor e comentou: "tá vendo, você consegue ler o que está escrito lá?" e eu, balancei a cabeça negativamente. ele emendou: "ainda bem que você não consegue entender o que está escrito. se conseguisse, as massas também conseguiriam. e aí a revolução iria começar. mensagens seriam transmitidas. o povo sentiria colar na retina palavras de guerra, de ódio, de asco." levantei ambas sobrancelhas como quem diz, "pois é..." e ele, notando o meu desinteresse disse: "você conhece algum político que não é filhodaputa (assim junto mesmo)?" e eu: "hmmm, acho que não..." e ele: " se entrar no meu taxi um politicofilhodaputa, caga nas calças..." acho que ele quis dar a entender que ia foder com a cabeça do cara. pelo pára brisa já era possível ver o meu destino final, duas esquinas. ele colocou a seta e eu já fui catando duas notas de dez. pedi um recibo. nota fiscal. e foi aí que o che guevara olhou pra mim com babinha acumulada nos cantos da boca e disse: "você por acaso quer o recibo para me entregar? denunciar? avisar sobre a revolução, porque ela está por vir....!" e eu: "não, não, é só para receber o reembolso, eu estou indo para esse endereço a trabalho." ele limpou o suor da testa, me entregou o recibo e disse: "a trabalho? você trabalha para quem? os homens? pra algum políticofilhodaputa?" e eu, enquanto colocava o pé na calçada falei: "não, não. mas na boa, guarda o meu rosto, decora a minha cara. quando a revolução começar, alivia pá nói. nada de porrete nos meus córnios... na boa." e dei um gorda gorjeta pro che.

sábado, janeiro 27, 2007

a quarta cerveja, a represa e o botão do foda-se.

a quarta cerveja é o ponto que abre a porteira para a décima-quarta. a quarta cerveja é aquele ponto em que você decide que vai em frente. que não vai parar. até a terceira, você segura a onda. mas, quando você olha para o garçom e pede a quarta, com aquele gesto do dedo indicador apontando repetidamente para o céu, aí meu amigo, é melhor respirar fundo, se esparramar na cadeira, porque a noite vai ser longa. é, porque a quarta cerveja pega os seus neurônios nas canelas. a quarta cerveja escorre pela garganta como quem avisa: "olha galera, eu, se fosse vocês ia me preparando para aguentar mais umas três horinhas... o cara ligou o foda-se, chegou a conclusão que não precisa entregar nenhum trabalho amanhã e vai tomar mais algumas." a quarta cerveja também é mundialmente conhecida como a terceira caipirinha, a segunda tequila, a terceira dose de whisky. o ponto em que a parede da represa cede e não tem muito mais o que fazer sobre isso. pode notar, as pessoas não vai ficar apontando para você. mas, se você estiver numa mesa cercado de amigos, amigas, casais etc e tal... preste atenção nesse momento. quando você decide partir para a quarta cerveja. (é importante notar que não é o quarto chopp, o que é bem diferente. uma garrafa de cerveja enche quase dois copos de chopp.) bom, mas voltando ao momento em que o garçom rabiscou no bloquinho o seu pedido da quarta cerveja. é nesse instante que as pessoas da mesa vão olharpara o relógio, prender, mesmo que levemente a respiração, olhar para a mesa a sua frente e contar o número de long necks. esse momento é importante. o seu pedido pode gerar uma reação em cadeia. pode gerar uma onda de pedidos como num efeito dominó. maridos que até então bebericavam a terceira cerveja como se fosse água potável no deserto do sahara, vão seguir o seu exemplo. se libertar do racionamento. a quarta cerveja é um marco. um instante na história de toda mesa de bar que prolonga qualquer noite em mais ou menos umas três horas extras. da próxima vez que você for beber com amigos, preste atençaõ. conte as garrafas. mantenha uma boa relação como garçom que vai servi-la, porque, quando chegar o momento da quarta cerveja, você vai sentir no ar essa sensação, que, de alguma maneira, o botão do foda-se acaba de ser ligado. mesmo que temporariamente.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

como se convencer de uma vez por todas que o mundo está derretendo.

a melhor maneira de ver se a porra do aquecimento global existe mesmo, é passar uns dias no rio. não um dia qualquer, tem que ser durante a semana. e tem que ser a trabalho. não vale passar uns dias de bermuda bundando na praia. tem que meter uma calça jeans, uma camisa de botão e sapato. aí meu amigo, eu tenho a absoluta certeza que você vai entender o que as pessoas, os cientistas querem dizer com aquecimento global. duvido que um fela da pulta vai deixar de acreditar que existe o o aquecimento global depois de alguns dias aqui no rio. com as subácas jorrando suor e o desodorante vencendo, o babaca que ainda não acredita que a terra está derretendo vai mudar de idéia rapidinho. uns três dias, com um ar condicionado gago, daqueles que cospe esbaforadas de ar-frio em pequenas etapas. com a testa suada, as meias arriadas pela canela pois não agüentam mais o próprio peso. com a sensação escrota de que o sol está atrás de você lendo o que você digita no computador. acho, só acho que da próxima vez que entrarem numas de propor um tratado mundial desses para acabar com a emissão de gases, deveriam fazer a tal reunião aqui no rio. no verão. meados de janeiro. tipo um dia de hoje. ninguem, nenhum chefe de estado iria ter culhão para discutir mais do que dois minutos. todo mundo iria assinar no primeiro dia. unanimidade. alguns dias no rio. mas tem que ser a trabalho. não vale ficar bundando na praia.

terça-feira, janeiro 23, 2007

quando você não conhece o melhor caminho mas não pode deixar isso transparecer para o taxista.

existem taxistas bons e taxistas ruins. e não estou falando da habilidade no volante. mas de caráter mesmo. se você entrar num taxi de um fêla da pulta e não souber direito como ir da vila mariana para a sua casa se fodeu bonitchu. meu amigo, o cara pode ir até o aeroporto internacional de guarulhos, fazer o retorno e voltar. e você não vai ter a menor idéia de que ele acabou de meter a mão no seu bolso. eu me considero um coitado no trânsito. quase me perco para chegar em casa do trabalho as vezes. na minha cabeça tenho uns quatro caminhos decorados. se eu tiver que aprender um caminho novo, para o dentista por exemplo, minha memória apaga um antigo e substitui por esse novo. por isso, e por volta e meia me encontrar no banco de trás de taxis, tive que desenvolver uma habilidade: fingir que eu sei o caminho quando eu não sei. é simples. quase ingênua. mas se você um dia pegar um taxista fêla da pulta pode ajudar. bom, vamos lá. você está na casa do caralho. foi cair lá por causa de uma reunião. foi de taxi do trabalho porque não tinha a menor idéia de como chegar e agora, obviamente tem que voltar. depois de alguns segundos acenando o braço, um taxista pára. você entra e ele pergunta: "pra onde, chefia?" e é aí que está o segredo. o "chefia". aproveite o gancho e chame o taxista de chefia: "ô chefia, eu tô indo para o brooklin.." o cara já vai se sentir o fodalhão, respeitado. aí ele vai perguntar que caminho você quer fazer. aí, como se você conhecesse são paulo como ele, responde: "olha, quem sou eu para ensinar você um caminho. eu até poderia, mas vou deixar para o especialista... que tal ir pela... não, não, você é quem manda." o importante aí e a pausa no momento em que você ameaça dizer o nome de uma avenida. a pausa é fundamental. ele não pode sentir que é um blefe. aí, bom, aí é fechar os olhos e partir com a cara e com a coragem. e esperar que o fêla ache que você conhece são paulo como ele. "chefia!", "quem sou eu..." e a pausa. nessa ordem. funciona sempre. ou pelo menos parece que sim.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

o sujeito que tira a catota no trânsito.

hoje, a caminho da firma enquanto pescava cds no chão no banco do carona, flagrei um sujeito limpando o salão. catando catota. libertando a verdinha. explorando os canais da narina. lustrando a escuridão do canal da mancha. com uma calma e uma delicadeza de quem achava que estava em casa. e não cercado de centenas de carros. se o fêla tivesse um carro com insulfim 100% preto, beleza. 90% preto, ok. 80% preto, veja bem. 70% preto, é, acho que aquele sujeito ali está tirando uma meleca. agora, o vidro do cara estava aberto. aberto. e ele não estava tirando uma lasquinha de meleca da ponta do nariz. estava escavando serra pelada na busca de uma pepita. uma pedra preciosa. e, como o trânsito não andava, o fêla continuava. meleca teimosa. trinta, quarenta, cinquenta segundos com o dedo indicador enterrado até a primeira falange. gira para a direita. gira para a esquerda e nada de liberar a catota. o sinal abre, e o sujeito finalmente tira o dedo lá de dentro. não, ele não come. mas dá uns petelecos como se jogasse a teimosinha para a vida. como se libertasse ela de vez: "vai, vai viver, explorar esse mundo, sua meleca. você está livre..." depois raspou a ponta do dedo na camisa. como quem limpa uma pá de cocô de cachorro depois de usada. os carros começaram a se mover com uma certa rapidez até. ele abraçou o volante com as duas mãos, abriu e fechou as narinas e partiu. o sujeito que tira catota no trânsito. num belo dia, preso entre um caminhão de lixo e um taxi, com um motoboy metralhando a buzina para passar, você vai encontrar o fêla. com o dedo nervoso. sem nenhuma vergonha. e sem insulfilm. ele caga para as convenções da sociedade. o que importa é o salão limpo, lustrado, brilhando. só fique esperto para ele não petelecar uma na sua direção.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

coisas e aviões.

- todo avião que eu pego tem sempre o mesmo cardápio de duas linhas: "chicken or pasta?" ou "pasta or chicken?"

- quem é o filho da puta que não consegue acertar o vaso sanitário do avião ao mijar?

- ninguém mais olha para os comissários de bordo quando eles fazem os sinais de emergência antes do avião decolar. todo mundo caga para o colete, o oxigênio, as saídas de emergência. caga. baldes. deveriam usar aquelas cheerleaders peitudas de futebol americano para fazer a mesma apresentação.

- pegar uma viagem de 9 horas sem fone de ouvido para escutar o filme é pior do que sentar na poltrona do meio entre os dois caras mais gordos do mundo.


- uma taça de vinho mais ou menos custa 5 dólares na united. 5 doletas. sobrevoando o acre, com o sinal de apertar os cintos piscando, não dá para levantar, mandar a aeromoça à merda e comprar um vinho mais em conta na lojinha da esquina.


- quando o avião estava no ponto mais perto do sol, lá pelas 5 da manhã, uma mulher sentada na janela, abriu a caráia da janela. cegou uns sete passageiros. dependendo do ângulo que eu olho, não enxergo picas.


- o piloto do meu avião descrevia em tempo real as manobras que ele fazia: "agora eu estou levando o avião para 17.000 pés. 17.500, 17.490, 17.328... estamos sobrevoando o oceano atlântico e logo logo, estaremos passando sobre a ilha da casa do cacete..." real time. detalhe: toda hora que ele falava, um dispositivo interrompia o filme do monitor.

- a mulher do meu lado roncava.

- o tiozinho do outro lado tinha um puta chulé.

- acho, que deveria existir uma lei para essas ocasiões. "no caso do passageiro sentar ao lado de uma pessoa que ronca, bufa feio ou tem chulé, o passageiro em questão terá suas milhas creditadas em dobro no programa de milhagem." simples assim.

"em caso de reincidência, o passageiro pode exigir duas passagens de primeira classse para qualquer lugar."

- o filho da puta que se fizer de sonso e levar uma mala gigante para dentro avião e passar meia hora atrasando 200 passageiros tentando socar a mala no compartimento superior, deveria ser preso. uma semaninha só pra ficar esperto.

- o que leva um sujeito ficar em pé atrás do carrinho de comida durante os 45 minutos que está sendo servido o jantar? depois de uns 3 minutos acho que já dá para sacar que é impossível chegar ao toillete sem empurrar o carrinho junto.


- quem é que compra um conjunto de tacos de golf às 3 da manhã no carrinho de free shop que passa pelos corredores apagados do avião?


- como é que se cozinha 200 ovos mexidos numa cozinha menor do que o fogão que você tem em casa?


- "17.208... 17.100... 17078..."


- "chicken or pasta?"

quarta-feira, janeiro 10, 2007

ah previsao do tempo.

nada contra a previsao do tempo. as vezes, quando os caras acertam, ate ajuda. mas aquela putaria de "chances de chuva no final da tarde", "maxima de 29, minina de 19"... nao fodi. vai tirar o cu da reta assim na casa do caraio. raramente esses caras arriscam algo mais especifico. a mocinha do tempo sempre aponta para uma parte gigante do mapa dizendo que ali, naquele espaco talvez, apenas talvez, dependendo da frente fria, pode ter chuvas esparsas. tai outra palavra bem fela da puta... "esparsas". chuvas esparsas e uma maneira que inventaram para tambem tirar o cu da reta. nao e nem aqui, nem ali. ou pode ser aqui e ali ao mesmo tempo. no brasil, a mocinha do tempo geralmente arrisca uns tres dias. o que, ca entre nos, ja e um chute memoravel. se ela nao consegue prever direito um dia, imagine tres de uma so vez. bom, dia desses assistindo o jornal das dez aqui nos estados unidos vi um negocio incrivel e de uma coragem impressionante. o carinha do tempo deu a previsao de sete dias. isso mesmo. o fela da pulta nao arriscou um dia. nao. nao chutou tres dias. nao. tambem nao se contentou em dar a previsao de cinco dias. o cara simplesmente, munido de mapas, graficos e uma senhora cara de pau, deu a previsao de uma semana inteira. imagine voce numa segunda feira, sabendo que caraio de tempo vai dar na outra segunda feira. impressionante. e o mais interessante e que o ancora sentado ao lado dele, assim como o comentarista esportivo franziam os olhos como se aquilo tudo fizesse o maior sentido. como se aquele nostradamus do tempo estivesse realmente prevendo cada gota ou floco de neve que cairia dos ceus nos proximos sete dias. se o cara acertou? acertou. mas tambe e claro que acertou, o fela tambem usa o mesmo linguajar cafajeste da mocinha do jornal nacional: "chances de neve entre 5 e 11 da noite.", "nuvens esparsas entre essa area do mapa e essa outra aqui.", "minima de 32 farenheit, maxima de 59..." ou seja, parece corajoso, mas tambem tira o dele da reta. qualquer coisa que acontecer esta de alguma maneira coberta pelas palavras vagas dele. bom, no dia que a farsa for descoberta, mandam ele para o olho da rua. ai, ele arruma um emprego escrevendo o horoscopo.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

terra de gigantes ou como se sentir o sujeito mais magro do mundo mesmo nao sendo.

existem duas maneiras de se sentir magro: estando magro e estando cercado de nao-magros. a segunda e mais facil. muito mais facil. a primeira requer atividade fisica, dieta balanceada. a segunda, apenas um senso de localizacao. basta voce procurar o lugar com uma concentracao maior de pessoas acima do peso. no interior dos estados unidos eu encontrei uma porcao. muitos. pessoas gigantes, vertical e horizontalmente falando. andando num shopping num sabado a tarde, e como se voce tivesse emagrecido uns trinta quilos enquanto dormia na noite anterior. ninguem fica apontando para voce "olha que sujeito magro!". nao, mas fica claro que suas arterias estao menos entupidas que a da maioria das pessoas. nao me entenda errado, o pessoal e simpatico, receptivo, so e maior, gigante. o tamanho "p" equivale ao "g" do brasil, por exemplo. se voce for com muita sede a uma promocao de uma loja de roupas e comprar uma camiseta "p" sem experimentar, por exemplo, vai se foder. a camisa vai bater no seu joelho. como eu disse, o pessoal e gigante. cafe com leite pequeno e, qual e a palavra mesmo... gigante. o hamburguer testa os limites dos cantos da sua boca. "um spaghetti pomoddoro, por favor!" e, minutos depois, voce olha para o prato com a estranha sensacao que voce nao vai conseguir ver o fundo dele. tudo e gigante, grande, enorme. sorvete pequeno? nao. a batata frita que vem com o prato, nao vem no canto do prato. vem num prato separado. a mulher que serve a comida faz sombra na mesa. a colher do sorvete "pequeno" e do tamanho da mao de uma crianca. fatias de bolos, sao bolos inteiros. calcas de moletom quase uniformes. o que, se voce pensar, quando se esta de ferias, e muito interessante. afinal, por alguns dias, voce pode comer para cacete, olhar ao seu redor e se sentir o sujeito mais magro do mundo. existem duas maneiras de se sentir magro: estando magro e estando cercado de nao magros.