terça-feira, fevereiro 27, 2007

o horário de inverno. uma idéia.

existe o horário de verão. todo mundo sabe disso. adianta uma hora. a noite chega uma hora mais tarde. as pessoas ligam as luzes uma hora mais tarde. todo mundo economiza. bom, mas e o horário de inverno? é uma idéia simples, baseada no princípio do horário de verão, mas, como o nome já diz, o inverso. o contrário. ao invés de adiantar uma hora, iríamos atrasar, não uma, mas três. isso, voltar umas três horas. o seu relógio está marcando quatro da tarde? na verdade já são sete da noite. ôpa rapaz, olhe pela janela, já está escuro é hora de ir para casa. tá fazendo o que aí catando números nos teclados encardidos do seu computador? vai por mim, no começo todo mundo vai reclamar, falar como é complicado, como o corpo demora para acostumar, como é difícil se adaptar ao fato da noite estar chegando assim no meio do dia. vai ter aquela clássica entrevista no jornal hoje em que uma tiazinha do bairro de moema vai reclamar do barulho dos aviões e do fato da lua estar mais apressada para subir e de como ela sente dores lombares quando acorda. mas com o tempo, muito pouco tempo, você verá as vantagens. a hora de ir para casa vai chegar muito mais cedo. três horas mais cedo. é, depois de algumas horas vendo aquela escuridão pela janela, e com as luzes brancas queimando a retina das pessoas, o seu chefe vai começar a liberar a galera. o corpo não vai aguentar ficar tanto tempo dentro de um escritório com aquele breu lá fora. é natural do ser humano. pode notar, bateu seis e tal, começa a escurecer. você já fica meio inquieto na cadeira contando os minutos. chega sete e tal, e aí meu amigo, você já está tenso, nervoso com a sáca na lua. já está escuro lá fora, que caráio você ainda está fazendo aí no escritório? levanta a bunda da cadeira e some, pourra. oito horas e você levanta e corre deixando marcas do solado no carpete da firma. e tudo isso porque aquela escuridão que você testemunhou crescer pela janela-- fodeu a sua cabeça. é o mundo, o tempo escorrendo pelos dedos. com o horário de inverno é a mesma coisa. só que, como vai ficar escuro muito mais cedo, você e o seu corpo vão jogar a bombinha ninja igualmente cedo. vai começar a ir para casa entre três da tarde e quatro. o horário de inverno, atrasar o relógio umas três horas. você acha que é meio-dia? mas seu relojinho deveria estar marcando três. cinco da tarde? oito de verdade. vou escrever uma carta para o ministério do trabalho. fazer um teste. uma pequena experiência. assim meio de putaria só pra ver a bosta que dá.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

o enroladinho de carne suspeito e o arroz "veja bem" num posto no meio da estrada.

se você já dirigiu o seu carro durante oito horas numa viagem sabe que precisa parar. seja para tirar a água do joelho, seja para comprar um red bull para recarregar as baterias. e sabe também que se a viagem começou oito da matina, lá pelas 14 horas, vai estar com uma fome insana. barrinhas de cereais evaporam no primeiro contato com a sua boca, biscoitos seguem o mesmo destino. você precisa de comida. e é aí que entram os postos suspeitos. descendo a dutra, aquela estrada sem fim que liga o rio a são paulo, você passa por uns 72 postos de gasolina. e, com cada um deles, você ganha de brinde um restaurante. churrascaria las pampas do sul, churrascaria meu garoto, churrascaria guri, rodízio com cheque para 30 dias, comida da fazenda da vovó a kilo. tem de tudo. alguns com a tinta exterior descascando, outros com erros de português, e todos com um ar de comida caseira. aquela que você come alí e vai sentir o estrago em casa. mas a fome é braba, e você tem que comer. é um fato. é alí, com o velocímetro do seu carro marcando 120 km/h, e com aquelas churrascarias desfilando pela janela do seu carro, que você tem que decidir. acelero para tentar chegar na cidade antes? mas a dutra não acaba, a dutra não tem fim. e a resposta é óbvia, você vai ter que enfrentar uma churrascaria de estrada. um restaurante que jura ter uma comida igual a da sua querida avó. e como a fome toma conta de você, o carro começa a desacelerar. a fome é que toma as decisões a partir de agora. o carro pára. você sai, se comportando como um zumbi desses de filmes de terror preto e branco que passam quatro da matina no telecine action. churrascaria meu guri. aqui eles têm maminha? sim. picanha, fraldinha, alcatra? sim. setenta e duas guarnições. um enroladinho de carne suspeito com uma tira gorda e branca de bacon e um arroz "veja bem, não sei se é carreteiro ou biro-biro, vou perguntar para o gerente..." e lá vai você, com a fome, a cara e a coragem. você reza antes, mesmo não sendo religioso. respira fundo e mastiga com força para ajudar a matar qualquer objeto não identificado. e, para a sua surpresa, a comida é gostosa, saborosa. com fome, meu amigo, casca de pão plus-vita é saborosa. pão com meia colher de maionese light é saboroso. biscoito de água e sal acompanhado com um copo de água é saboroso. e você raspa o prato, mata a fêla da pulta da fome de porrada e segue em frente. você foi corajoso rapaz. não é todo mundo que soca o estômago com arroz "veja bem". não, a maioria teria continuado na estrada com fome. e, enquanto você sai com o carro, vê pelo retrovisor, um outro automóvel de família. com a seta ligada, entrando no mesmo restaurante que você acabara de comer. no volante está o marido com um terço na mão rezando em voz alta e ao lado, a esposa, chorando no celular se despedindo, dando adeus para os filhos. a o enroladinho de carne suspeito e o arroz "veja bem" num posto no meio da estrada. você ainda vai encarar os dois.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

a síndrome do nextel.

não sei se você tem ou já teve ou conhece alguém que tem um nextel. nextel, para quem não sabe é um celular que está sempre no viva-voz. as pessoas que estão ao redor escutam tudo o que o dono ou a dona do nextel fala. como eu já disse, a pourra do telefone é uma espécie de walkie-talkie fantasiado de celular. puta negocinho escroto. entendo que dá pra economizar. ligação infinitas com o apertar de um botão. ok, beleza, faz sentido. mas só se você usa essa maravilha da tecnologia para algum tipo de trabalho. você é mestre de obras? beleza, tem que falar com o carinho no segundo andar do prédio que está chovendo sacos de cimento. com um apertar de botão você pode salvar a vida do fêla. mas tem gente que usa a pourra do nextel para conversar coisas íntimas, do dia a dia. "amor, eu vou pegar as crianças... mas depois tenho que dar uma parada na farmácia porque o meu furúnculo do joelho está vomitando pus." puta papozinho que não dá para falar num nextel para todos que estão ao redor escutem. o foda de um dono de nextel é que ele ou ela, com o tempo simplesmente esquecem do fato de estarem falando em voz alta. na primeira conversa talvez sussurrem. na segunda conversa já falam um tantinho mais alto. afinal, a pessoa do outro lado da linha está gritando. é o marido que vai falar baixinho para mulher no nextel que ele está louco para chegar em casa e tirar o atraso, depois de uma semana trabalhando na ponte aérea. mas que um mês depois, pede pra ela descrever graficamente a cor da calcinha dela, em voz alta dentro de um carro do metrô. ou é a esposa que fala para o marido baixinho que pegou a cueca dele escondida entre as almofadas do banco de trás do carro da família. e pede explicações. mas, aí, passam se os meses, e ela liga pelo nextel e esperneia que encontrou uma gola de camisa de terno lambuzada de batom. e fala isso na escada rolante de um shopping, por exemplo. é a síndrome do nextel. com um, dois, três meses de nextel, as pessoas esquecem que existe um mundo de pessoas ao redor. e falam alto, coisas íntimas que não necessariamente merecem ver a luz do dia no viva voz do nextel. "maria, as crianças comeram? ah, o claudinho não comer brocólis? então empurra goela abaixo e diz que se ele não comer eu vou cortar a língua dele fora..." escutei isso na sala de espera de um aeroporto. não fodi. compra um celular e fala direito, baixo. a síndrome do nextel. um bando de fêla que fica falando alto pra cacete porque perdeu a noção que a caráia do nextel é um walkie talkie e não um telefone celular.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

o carinha da cegonha, outros dois empregos bem mais ou menos e o karma.

dia desses, preso no trânsito vi um caminhão cegonha na faixa ao lado. dos grandes. tinha uns 18 carros. mais um, menos um. o cara estava com o vidro abaixado, com um calor do cão, aquela testa que brilhava de longe e o sol tostando o bigode do fêla. achei que o cara ia pegar fogo. e, como o trânsito não andava, o fêla derretia. bom, você entendeu, o cara estava sofrendo. mas, bastou olhar só um pouquinho para a carga do caminhão cegonha pra ver como a vida dele ainda poderia ficar pior. os 18 carros que estavam bem atrás da sauna, da cabine em que ele estava, eram carros de luxo. jaguar, alfa romeo, bmw, mercedes. um mais bem equipado do que o outro. numa outra vida esse cara devia roubar o lanche do colega mais fraco na hora do recreio. devia ser bem filhodaputa. puta trabalho sofrido du caralho. 18 carros cheio de ar condicionado e um zilhão de itens de série e o cara a dois palmos deles cozinhando na cabine de um scania. o sinal abriu, o trânsito começou a se mover e e lá se foi o coitado. quer ver outro emprego desses: vendedor de cerveja estupidamente gelada de praia no verão. complicadíssimo. o cara tem que ser bem zen. tem que ter um poder de auto-controle fora do comum. quarenta e dois graus. aquecimento global. areia quente pra cacete. mar, mulheres com pouca roupa e um isopor socado com gelo seco e cerveja a 0,1 graus de congelar. outro emprego foda: policial de estádio de futebol. se entrar numas de virar pra assistir o jogo, leva esporro. e o fêla tem que passar o jogo inteiro olhando com cara feia para uns marmanjos, de costas para o jogo. e ainda periga levar na quina da cabeça uma lasca de asfalto. taí outro que em outra vida devia ser bem escroto. o carinha da cegonha, outros dois empregos bem mais ou menos e o karma.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

uma lasca da alface e o teste.

a melhor maneira de testar o nível da amizade de alguém em relação a você, é com uma lasca de alface. uma lasca de alface do tamanho da unha do seu dedo mindinho. nem menor. nem maior. a idéia é simples. ah, só mais uma coisa, a lasquinha de alface tem que ser nova, nada de usar alface murcho, véio. bom, mas vamos a lasquinha de alface. pegue a lasquinha como quem segura um fio dental. com o indicador e o polegar, agarre a pontinha do alface. mas com cuidado para não rasgar. faça o mesmo com a outra mão. você tem agora, esticado, entre as mãos uma lasca de alface. agora vamos testar o nível de amizade das pessoas. encaixe a lasca de alface entre o canino e aquel primeiro pré-molar, o vizinho do canino. mas encaixe, deixando para fora, exposta para o lado visível da boca, a maior face da lasca do alface. agora, munido desta lasca verde, saia por aí, vá ao trabalho, frequente festas, jantares de família, entre numa loja do shopping e fale com uma vendedora que você quer experimentar o tênis zambers da vitrine. a idéia é circular com a lasca de alface no dente. portanto sorria bastante, fale bastante, puxe assunto. a partir daí meu amigo, preste atenção na reação das pessoas. conte quantas vão te avisar da lasquinha do alface. leve um bloquinho no bolso da calça. conte os segundos que demora para um fêla da pulta levantar uma sobrancelha ou apontar com o indicador freneticamente para a sua boca. a lasca de alface é um dos melhores testes que existem. a lasca de alface é capaz de separar amigos de quase-amigos. você vai saber por exemplo se a sua mulher realmente quer o seu bem, ou se está buscando algum tipo de vingança deixando a lasca de alface alí sambando contra o vento na quina da sua boca. faça o teste e comprove. uma lasca de alface e um sorriso daqueles meio falsos que mostram uma caráiada de dentes. é tudo que você precisa.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

salaminho e as pequenas e honestas piscinas de banha.

o salaminho é honesto. não, o salaminho é o alimento, em qualquer forma, mais honesto que existe no mundo. em qualquer país. se você olhar para um doritos desses laranja escuro, de queijo, você não enxerga a gordura. ela está lá, e você, de alguma maneira sabe disso, pois já notou que depois de consumir toneladas do mesmo, acaba desenvolvendo bolsas de gordura localizada que saltam pela calça. mas o doritos não te avisa, não fala, não coloca um neon sobre ele com letras garrafais que dizem: "gordura saturada. banha. 500 calorias." não, você tem que pesquisar você mesmo. se não estiver escrito nas letrinhas miúdas do verso, você talvez encontre um 0800 minúsculo escondido ou uma caixa postal para escrever perguntando a quantidade de banha que você está adicionando ao seu querido corpo. agora, voltemos ao salaminho. aquela rodela reluzente empapada em gordura que brilha à distância. aquele petisco, que faz parte da família dos frios no supermercado. o salaminho não tem vergonha de se expor. de falar com todas as palavras, "meu amigo, aqui contém duas colheres de sopa cheias de banha." ou "tá vendo estes pequenos círculos brancos? é banha." e você vai lá e compra. eu compro. todo mundo compra. pinga limão, junta com provolone e come. é uma relação honesta. você sabe o que está comendo e o fêla da pulta do salaminho não te engana. diz na lata coisas que sorvetes, biscoitos e manteigas se recusam. e não adianta entrar numas de retirar os pequenos círculos de gordura como se faz quando se retira uma azeitona de uma empada. é, porque se você entrar numas de tirar as piscininhas de gordura saturada do salaminho, ele deixa de existir. simples assim. é gordura pra caráio. e mesmo assim você compra. é uma forma de retribuir pela honestidade do fêla. salaminho é foda. é o alimento mais honesto que existe.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

o tiozinho filhodaputa no cinema e "o xixi da morte."

dia desses fui ao cinema assistir babel. aquele filme indicado a uma caráiada de oscars. babel é daqueles filmes que contam 3 histórias simultâneas, um terço em japonês, o segundo terço em árabe, e a outra parte em espanhol. no meio desse esquema todo também tem inglês, outra coisa do filme, a porra da história não segue nenhuma ordem cronológica. resumindo, é bom prestar atenção na porra do filme ou você periga voltar pra casa sem entender picas do enredo. segure o mijo, a sede, a vontade involuntária de piscar. foco na tela. bom, aí você senta atrás de um tiozinho filhodaputa de voz grave e carente. que gosta de fazer piadas entre cenas em que a maioria das pessoas está soluçando ou com a respiração fora dos eixos. esse tiozinho estava bem na minha frente com uma filha ao lado que parecia idolatrar cada piadinha daquele bosta. vinte minutos de filme, uma mulher leva um tiro no peito. o cinema suga o ar inteiro da sala. o tiozinho aproveita o silêncio e diz: "bala perdida. perdeu playboy!" e solta uma risada tipo mutley do dick vigarista. meia hora depois, no núcleo japonês da história, uma menina surda-muda e em profunda depressão entra em cena nua. o veado imita umas quatro frases em japonês macarrônico e fecha com "peito bon, nô?" dez minutos depois, uma das personagens a beira da morte pede ajuda para urinar para o marido. uma tiazinha no corredor ao lado chorava. ele, o tiozinho, limpou a garganta e gritou: "ahhh, o xixi da morte!" eu não sei se era o fato de 200 pessoas estarem com os olhos pregados na tela pra entender a pouura do roteiro, mas ninguém matou o filhodaputa. dei mole. ele tem mais ou menos 1,70m. pesa uns 90kg. tem uma pança saliente. uma barbichinha no queixo. é careca atrás e tem o cabelo bem branco a lá steve martin. usava uma camisa laranja gritante e um par de chinelos de couro. ah, e tinha uma voz meio cid moreira, meio william bonner quando aparece no plantão da globo. se você pegar uma sessão com ele, dê uma cotovelada na nuca do fera por mim.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

guarda-chuvas, garrafas mudernas que falam russo e a caipiroska de 22 mangos.

sua caipiroska vem guarda-chuvinha? fodeu. vai pagar caro. mais caro do que você está acostumado com certeza. o guarda-chuvinha é sinal de que você vai ser enrabado quando a conta chegar. a garrafa da vodka fala russo? xi, melhor pedir uma salada então. transforma uma entrada em prato principal. a garrafa da vodka é muderna, colorida? ah, antes de fazer o pedido é recomendável ligar para aquele amigo seu que deve uns trocados desde os tempos de moleque. cruzeiro virou cruzado que virou cruzado novo que virou cruzeiro de novo que hoje é real. ou seja, aquele trocadinho que o teu amigo de infância te deve vai dar pra pagar a tal caipiroska. dia desses fui num bar muderno. novo. e caro. a caipiroska tinha guarda-chuva, a vodka falava um russo fino sem sotaque e custava 22 mangos. 22 mangos. e, como você acaba sempre pedindo a segunda, só de caipiroska, lá se foram 44 mangos. dez porcento, quase bateu 50. e como eu fui trouxa e pedi sem ver o preço, não podia levantar e mandar o gerente do lugar à merda. outra coisa que eu notei que criaram para te foder. o nome "robata". robata para quem não sabe é o seu típico espetinho de carne ou de queijo ou de frango. mas, num restaurante muderno, chique trips, eles chamam qualquer espetinho de "robata". aí o negócio é o seguinte, se é espetinho custa X, se é uma robata, custa 3X. simples assim. a carne é a mesma. o queijo coalho também. a lasca de abacaxi então. mas como resolveram chamar a porra do espetinho de robata, prepare-se para escancarar a carteira. vodkas que falam russo sem sotaque com guarda-chuvinhas e robatas. duas maneiras que algum dono de restaurante esperto inventou para aproximar você do cheque especial. antes de pedir qualquer coisa num restautarante da moda, novo, observe as mesas vizinhas. fique atento. notou qualquer comentário do tipo: "a senhora quer a sua caipiroska com vodka st petersburg ou vladvostock?" ou "robata de carne seca com pepino ou de lascas de gengibre com frango?-- fuja, corra e mande o gerente tomar no cu enquanto você arranca a sua carteira da mão do garçom. boa sorte.