terça-feira, dezembro 28, 2004

o garçom.

[restaurante cheio na oscar freire. 22:17. 20-30 minutos de espera.]

- eu vou querer o filé.
- e como é que você vai querer?
- ao ponto. não. ao ponto pra bem passado.
- e pra beber?
- coca. sem gelo e com duas rodelas de limão.
- mais alguma coisa?
- o molho da salada...à parte.
- mais alguma...
- os tomates...os tomates eu quero picados, não fatiados.
- ok. tudo anotado. já vou trazer o couvert da senhora. só uma coisa...
- o quê?
- você prefere que eu cuspa sobre o bife--ou sobre a salada?

o acordo.

dieta é foda. é chato. é anti-social. chegar num restaurante e pedir que troquem as batatas crocantes com catupiry que acompanham o frango--por salada verde é sacanagem. tirar miolo de pão francês. passar manteiga branca sem gosto. recusar gentilmente o cardápio de sobremesas. acho que todo mundo deveria parar com isso. chegar num acordo. um acordo simples. nele, todos concordariam em usar calças de moleton. daquelas largas. que sobram nos joelhos. um país inteiro usando calça de moleton. todo mundo igual. sem essa viadice de contar calorias. pense no armário novo. socado de calças de moleton de ponta a ponta. calça de moleton é confortável. barata e combina com tudo. imagine chegando num bar. pedir uma porção de fritas. caprichada. bolinhos bacalhau. chopp(s). porção de parmesão e pastel de nata de sobremesa. sem culpa. vc vai estar de calça de moleton. maravilha. sem dramas. com elástico. e cordinha para ajustar.

esse acordo, porém--teria uma cláusula: ele teria validade para todo mundo--menos para a giselle.

quarta-feira, dezembro 22, 2004

a bundinha do queixo. (ou "um mini-diálogo entre mãe e filho")

[seis da tarde, quase sete. mãe e filho na cozinha dividem um pote de requeijão e um pacote de bolacha água e sal. ao fundo passa o SPTV segunda edição na televisão semp-toshiba 19” da sala. mariana godoy apresenta com um terninho vermelho e 300ml de laquê no cabelo. já a mãe está de vestido florido, possivelmente costurado pela vizinha. filho está de bermudão bege quase branco, camisa quase oficial do mengão nº7 . debaixo da mesa, ele brinca com um par de havaianas daquelas brancas-- com bandeirinha do brasil. ele boceja, dá um gole generoso num café com leite que já não está mais morno, olha para a mãe e esboça um assunto. ela ajeita os bifocais, joga aquela correntinha sem-vergonha que mantém os óculos no pescoço pra trás e presta atenção na palavra que escorrega da boca do filho. tudo indica que ele fala assim de propósito. só para fazer ela apertar a vista-- e cultivar mais as rugas.]


- mãe?
- o que foi meu filho?
- você acha mesmo que eu sou parecido com o papai?
- [silêncio]
- mãe?
- eu escutei meu filho.
- então...
- eu não entendi a pergunta?
- você acha que eu sou...
- não, não é isso...eu entendi as palavras... não entendi o que você quis dizer com elas...
- é que...
- é que o que meu filho?
- meu queixo tem uma bundinha.
- como?
- bundinha, meu queixo tem uma bundinha. vai dizer que você nunca percebeu?
- bundinha. bundinha no seu queixo. sei... mas o que isso tem a ver com o seu pai?
- você não tem bundinha no queixo.
- [ela deita a torrada no prato e passa a mão no queixo] é verdade, eu não tenho bundinha.
- [ele aponta para o dele.] e eu tenho.
- bundinha. você já disse isso, meu filho.
- o papai não tem.
- é verdade.
- ele não tem uma bundinha no queixo como a minha.
- [silêncio.]
- genes, mãe.
- genes?
- a bundinha do queixo está nos genes.
- genes.
- não nos seus. nem nos do papai.
- mas o seu pai tem um queixo lindo, meu filho.
- mas não tem bundinha.
- [ela olha para a TV e tenta ler os lábios da mariana godoy] o nariz dele...
- pelo amor de deus, mãe... não vamos desviar...
- bundinha. tá bem. o queixo do seu pai não tem um risco no meio.
- não tem bundinha mãe.
- não tem.
- não.
- é. [ela alcança o controle remoto e aumenta a televisão: flamengo 3, vasco 2.]

sexta-feira, dezembro 17, 2004

gente que freia de repente.

desde que o homem evoluiu e passou a andar ereto por aí, desenvolveu várias maneiras de andar. rápido. devagar. com os braços em constante movimento. com os braços quase parados. passos pequenos. passos longos. passos pequenos alternando com passos longos. existe uma infinidade de maneiras de andar. eu particularmente ando devagar. sou sempre ultrapassado pelas pessoas. se os seres humanos viessem ao mundo equipados com espelhinho retrovisor preso na testa, eu já estaria cego de tanto levar farol alto dos mais apressados. mas, como você pode ver pelo título deste textinho, gostaria de falar sobre gente que freia de repente. pessoas que nasceram com freios abs® na sola dos pés. você com certeza já deu um esbarrão num fêla da puta desses. acontece muito em shoppings. acontece também em aeroportos e em ruas movimentadas. gente que freia de repente tem um sério problema em manter uma velocidade constante. esse pessoal acelera, e, quando você menos espera, pára. de 15 km/h para 0 km/h. e você, o babaca que está atrás sempre bate. e, assim como no trânsito, quem bate atrás é sempre o culpado. bati de resvalão num terno armani hoje na hora do almoço. o babaca me ultrapassou no meio da subida da escada rolante. só que, quando eu já achava que ele estava bem longe, na casa do caralho-- ele freiou. foi sair da escada rolante que ele freiou. de repente. como se num milésimo de segundo não sabia mais quem era ou o que estava fazendo alí. na minha frente. se fudeu. além do resvalão no terno, bati feio no sapato dele. e pela cara do sujeito-- o sapato é zero km. e melhor, pelo impacto-- foi perda total. gente que freia de repente-- vai dar uma meia hora de bunda.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

o teste da academia. parte 1.

quando você entra numa academia, você obrigatoriamente tem que fazer o teste físico. o teste físico é aquela bateria de mini-exames para determinar o seu tipo, a sua série de musculação e principalmente para humilhar. é. porque a primeira coisa que pedem pra você fazer ao entrar na sala de exame é tirar a camisa. mostrar os pneus. a pança e as dobrinhas. inventaram um instrumento feito sob medida pra deixar você com cara de bosta. é um alicate que mede o seu nível de gordura. de banha. a mulher que me atendeu hoje fez questão de me mostrar como o negócio funcionava. ela pegava a banha, prendia com o alicate e mostrava os números. depois do teste da banha, vem as pedaladas. ela manda você padalar com uma intensidade que varia: ela aumenta quando você está tranquilo e só pára quando você ameaça tossir sangue. mas zuzo bem, eu não desmaiei. em seguida (vale lembrar que eu ainda estava sem camisa) deitei no chão gelado e tive que fazer o maior número possível de abdominais em 60 segundo. na terceira abdominal, vi tudo preto e larguei a cabeça contra o concreto. abri um sorriso para disfarçar a dor. da abdominal para a flexão de braço. consegui completar 8. meus braços não respondiam mais os estímulos que meu cérebro mandava. eles siimplesmente tremiam. sentado numa cadeira daquelas de couro sintético, sentia minhas costas grudando-- e suor acumulando na base do pescoço. por alguns segundos pensei em abandonar essa sociedade que dá valor a pessoas que cabem dentro de suas respectivas calças jeans e criar a sociedade alternativa: a sociedade da calça de moletom.

o ladrão.

acho que esse fim de semana passou mais rápido que todos os outros.
hoje, a caminho do trabalho, pensei em parar numa delegacia e fazer um boletim de ocorrência.

delegado (confuso): "você pode ser mais claro? como assim, roubaram seu fim de semana?"
eu: "é, roubaram. saí do trabalho na sexta-feira--relativamente cedo. e quando me dei conta já era segunda--e estava drigindo de volta para lá..."
delegado (interrompendo): "de volta para o trabalho?"
eu: "é."
delegado: "você se lembra se foi atacado?"
eu: "acho que sim."
delegado: "será que você conseguiria descrever quem roubou seu fim de semana?"
eu: "não sei--como eu disse--foi tudo muito rápido."
delegado (ficando puto): "você me desculpe, mas é a primeira vez que eu escuto isso.
acho que estamos perdendo tempo aqui. tenho coisa mais importante pra fazer."
eu (assustado): "que horas são?"
delegado(puto): "porque?"
eu: "acho que o filha da puta atacou de novo. roubou a nossa manhã."

sexta-feira, dezembro 03, 2004

17 minutos.

hoje cedo, quando a porra do alarme tocou, eu tive uma idéia. ainda não sei ao certo se é uma boa idéia. mas não deixa de ser uma idéia. é. enquanto o alarme gritava "levanta moleque! levanta porra! seu bosta.... preguiçoso!", fiquei rolando na cama pensando no que poderia ser feito para acabar de vez com aquela sensação escrota de todas as manhãs. a primeira idéia que me veio à cabeça, foi-- a de realizar um congresso é, um congresso de grandes proporções. reunir formadores de opiniões. celebridades. estudantes barulhentos. atores, atrizes, diretores de cinema b, taxistas e motoristas de ônibus. todos no mesmo lugar. a idéia do congresso é simples: convencer o mundo inteiro a ficar na cama por mais 17 minutos. todo mundo esparramado na cama por mais 17 minutos todos os dias. na minha opinião, esse é o tempo necessário para tirar o gosto de travesseiro e cobertor da boca. 17 minutos equivalem a umas 4 apertadas do botão de 'soneca' do alarme. e dependendo do alarme, umas cinco apertadas do botão de 'soneca'. ou seja, é tempo suficiente para rolar adoidado na cama e levantar de bom humor. tirar a remela dos olhos. toda remela, até aquela que fica agarrada entre o canto dos olhos e o começo do nariz. é tempo para bocejar até estalar as mandíbulas. acordar com disposição. e cheio de vontade de encarar um belo trânsito de segunda-feira. esse congresso poderia significar a tão esperada paz no mundo. o fim da violência. dos crimes. é. com 17 minutos a mais de sono na cama-- todo mundo teria mais saco para tudo. muito mais saco. as pessoas seriam mais felizes. 17 minutos que podem mudar o mundo. mas é claro, para que essa idéia funcionasse, todas as pessoas, sem exceção-- teriam que concordar com os termos. o primeiro fêla da puta que levantasse da cama, um minuto mais cedo-- fuderia com o esquema de todo mundo. hoje cedo, quando a porra do alarme tocou, eu tive uma idéia: 17 minutos a mais na cama.

segunda-feira, novembro 29, 2004

mulher e pistache.

mulher e pistache é a mesma coisa. a mesmíssima coisa. eu sei, você provavelmente está imaginando um pistache, colocando ele ao lado de uma mulher que vive na sua imaginação e acha que eu estou viajando. mas mulher e pistache é a mesma coisa. a mesmíssima coisa. pensa só: é complicado abrir um pistache. muito complicado. das coisas mais difíceis que existem por aí. mas é aí que está a graça. se pistache fosse fácil de abrir não teria nenhuma graça. você com certeza não correria para comer o segundo. mulher é igualzinho. não estou falando "abrir" no sentido bíblico. quando digo abrir uma mulher, quero dizer, "abrir", saber o que se passa alí dentro daquela cabecinha, conhecer a mulher direito, entender, se aproximar de verdade, conquistar ela. abrir ela. você provavelmente já encontrou uma mulher linda que se "abriu" tão fácilmente que perdeu a graça. e também já deve ter ficado meses ou anos com a mesma mulher, ou até mesmo é casado com ela, porque essa demorou semanas, meses para se "abrir" para você. pistache dos bons é difícil de achar. mulher também. existem pistaches baratos que não duram sequer uma semana. murcham, perdem a cor. ficam sem gosto. sem graça. mole. mas existem os mais caros. os que mantém o sabor, a consistência. nenhum pistache é igual a outro. pode notar. alguns são mais salgados. outros são mais "carnudos". outros ainda, apesar de pequenos, são mais saborosos. alguns são mais verdes e outros mais maduros. é igual a mulher. você não encontra uma igual. mas as coincidências não param por aí. pistache prende no dente. mulher prende. não como em "alcatraz". como em "9 semanas e meia de amor." e finalmente, tem sempre aquele pistache que é tão tão fechado, tão difícil de abrir-- que você desiste. mulher é igualzinho. tem mulher que não te dá bola. que se faz de difícil. faz doce. que não abre a guarda. de jeito nehum. e você desiste. vai para cima das outras mais fáceis. como o pistache. mas, algum tempo depois, você volta. e tenta. cutuca. insiste. com jeito e com manha. abrir aquele último pistache no fundo do pote. aquela última mulher que não cedeu pra você. mulher e pistache é a mesma coisa. e antes que alguma feminista de plantão me acerte de jeito na cabeça, sugiro comer um pistache. dos bons. e difícil de abrir. você vai ver que tudo não passa de um elogio.

quarta-feira, novembro 24, 2004

"e luana?"

[domingo. casal deitado no sofá. ela com a revista pais e filhos no colo.
ele tentando ler o caderno de esportes.]

- ...e daniela?
- não.
- fernanda?
- não.
- márcia?
- tem acento. não gosto de nome com acento.
- regina?
- não.
- ana? bruna? giovanna?
- não.
- então sugere um vc.
[silêncio]
- vai amor! o primeiro nome de mulher que vier a sua cabeça.
- luana! [sem pensar. de olhos fechados e com cara de tesão.]
- porra amor! pra sua filha? vc quer colocar toda essa pressão na menina? e ela ainda nem nasceu!
- [silêncio]
- amooor!
- hmmm...pensando assim...silmara então. isso--o nome dela vai ser silmara!

terça-feira, novembro 16, 2004

a corrida do sorvete.

você provavelemnete já comeu um petit gateau num restaurante. strudel de maça quente. tortinha de chocolate saindo fumaça. folhado de qualquer coisa queimando o céu da boca. qualquer um deles acompanhado com sorvete de creme. é sempre assim. qualquer sobremesa do cardápio é sempre algo fervendo com uma bola de sorvete bem servida. das grandes. e é aí que começa a aventura. a corrida do sorvete. é, a corrida do sorvete. segurando firme a colher de sobremesa, com o punho cerrado, você começa a comer o sorvete antes que ele derreta. é, porque a bosta dessas sobremesas é que a bola de sorvete chega sempre colada com um bolo fervendo de alguma coisa. resultado: no instante que o garçom coloca o petit gateau na sua mesa, a bola de sorvete começa a desmanchar. formando aquela poça espessa que se espalha pelo prato. e você não pode parar pra bater um papo com quem está na mesa. tem que correr. tem que socar colheradas grandes e fartas de sorvete na boca pra evitar que tudo vá pro caralho. e tem um porém. não basta salvar o sorvete. não, você também tem jogar um teco de bolo fervendo pra dentro junto. queimando o céu da boca e deixando marcas pela língua e lágrimas nos olhos. é, a sobremesa só funciona assim. porque se você entrar numa de salvar o sorvete e esquecer do bolinho quente ou do strudel de maçã borbulhante, a sobremesa perde a graça. é mistura que funciona. é a mistura que faz a diferença. pode notar. da próxima vez que você for a um restaurante, preste atenção, você vai ver uma dúzia de meninas raspando a colher freneticamente contra o prato de sobremesa. apostando corrida com a bola de sorvete. (se você se concentrar bem, periga escutar a trilha do filme "carruagens de fogo" ao fundo.) tentando manter o mesmo sorvete longe do vulcão de chocolate prestes a entrar em erupção no outro canto do prato. e tudo isso. tudo isso, enquanto tentam sem sucesso salvar o céu da boca. a corrida do sorvete. você ainda vai participar de uma.

quarta-feira, novembro 03, 2004

de onde viemos.

- mãe?
- oi.
- como é que eu nasci?
- pergunta para o seu pai.
[som de passos até o outro lado da sala.]
- pai?
- fala.
- como é que eu nasci?
- pergunta para a sua mãe.
[som de passos até o outro lado da sala.]
- mãe?
- oi.
- como é que eu nasci?
- pergunta para o seu pai.
[som de passos até o outro lado da sala.]
- pai?
- fala.
- como é que eu nasci?
- pergunta para a sua mãe.
[som de passos até o outro lado da sala.]
- mãe?
- oi.
- então foi assim que eu nasci ?
- como, meu filho?
- assim... depois desse vai e vem--entre você e o papai.

a teoria do íbis e o scooby-doo.

quem não se lembra dos desenhos do scooby-doo? eu era fã do salsicha. mas não é sobre isso que eu queria falar. eu queria falar sobre uma suspeita que eu tenho. algo que ficou muito claro nesse fim de semana. uma conspiração que pode ter implicações na formação geopolítica brasileira. tá bem...talvez eu esteja exagerando. mas é uma conspiração. e das grandes. lembra como terminavam os desenhos do scooby-doo? quando no final, ele a turma desvendavam os crimes? eles sempre apresentavam o criminoso e para grande surpresa, o criminoso não era quem a gente achava que ele era. ele estava sempre usando uma máscara ou uma fantasia. e por debaixo da máscara estava o verdadeiro criminoso. as vezes até debaixo de uma segunda máscara. então--observando essas últimas rodadas do campeonato brasileiro que o mengão luta pra não cair pra segundona, cheguei a conclusão que o time do flamengo é na verdade o time do íbis. o íbis para quem não sabe--é considerando oficialmente "o pior time do mundo." não é o júlio cesar que está levando aqueles frangos, é o gérson, goleiro do íbis--usando uma máscara com a cara do júlio césar. não é o jean que está perdendo todos aqueles gols feitos, é o derlei, atacante do íbis--e assim por diante. se alguém invadir o campo na próxima derrota do megão --preste atenção--pode ser o scooby e o salsicha. os dois com certeza vão tentar desvendar mais esse mistério.

quarta-feira, outubro 20, 2004

o escort xr3--a lenda.

quando eu era menor. quando eu tinha uns 15-17 anos o escort xr3 era o fodão do bairro. o fodalhão das ruas. o escort xr3 comia gente sozinho. se algum dia você estivesse com preguiça de sair--lá ia o escort xr3 sozinho para a rua atrás das menininhas. e voltava cheio de história (e todas elas verídicas) das conquistas. era fato. vivia de barriga cheia. devia ter uns 80 cavalos de potência. todos eles garanhões. pelo menos essa era a impressão que eu tinha do escort xr3. que--se você estivesse num bar encostado no balcão falando com uma menininha e chegasse um cara pilotando um escort xr3--fudeu. não tinha pra ninguém. as menininhas ficavam todas serelepes--saltitantes. o escort xr3 era uma lenda viva. o fêla da puta é responsável por uns 3-5% da população do brasil. e isso, contando por baixo. um motel ambulante. um amuleto da sorte. o comilão dos comilões. matou muito voyage, gol e parati de inveja. mas o tempo não perdoa. o tempo passou. e o escort xr3 não veio junto. hoje--vive de histórias como essas que acabo de contar. da fama de conquistas passadas. hoje o xr3 só come gente com muito esforço. ví um hoje na rua. vermelho com o aerofólio preto. um clássico. tinha um tiozinho pacato por trás do volante--com a brisa refrescando o sorriso maroto e o bigode. ele tinha um olhar distante. daqueles que já tinha papado, farpado muita menininha no banco de trás daquele xr3. e é por isso que ele não cansa de passear pelas ruas com o parceiro até hoje. é, para relembrar dos bons tempos. os tempos em que o excort xr3 comia gente sozinho. a única razão porque ele não vendeu o carro até hoje.

quarta-feira, outubro 13, 2004

rebobinando as horas.

a fita vhs ainda não morreu. mas tá quase batendo as botas. é fato. você entra na blockbuster e só encontra dvd. as fitas vhs estão escondidas num canto escuro perto da coleção alfred hitchcock em preto e branco. é a tal lei dos mais fortes. da evolução natural das espécies. se charles darwin vivesse nos dias de hoje, ao invés de ter que viajar para as ilhas galápagos para elaborar sua teoria da evolução, bastava ele entrar em qualquer loja da blockbuster. ao invés de ficar sentando na quina de uma pedra dura e escorregadia observando lagartos, ficaria encostado no balcão observando as mocinhas uniformizadas do blockbuster retirando as fitas vhs mofadas das estantes. os dvds tomaram conta. dia desses perguntei para uma tiazinha na entrada onde ficavam as fitas, ela me olhou com pena, com dó. tudo bem, caguei pra ela. mas foi alí que eu cheguei a uma conclusão: caráio, eu nunca mais vou ter que rebobinar a porra de uma fita de vídeo. a invenção do dvd acabou com isso. lembra quando você ficava sentado na frente do vídeo esperando ele arremessar duas horas de filme de um lado para o outro da fita? com aquele barulhinho de motor sem vergonha. fiz as contas, por baixo, devo ter perdido uns 17 dias de vida rebobinando fitas de vídeo. sempre com aquele cagaço de pagar multa. de levar esporro. na minha sincera opinião, essa foi uma das melhores coisas que já aconteceram com a humanidade. tá alí com a invenção da roda e da escada rolante. tenho certeza que o fêla da puta que inventou o dvd teve essa idéia enquanto esperava “dança com lobos” rebobinar. é, acho que o inventor do dvd caga baldes para a imagem e o som digital. o cara sabia que se acabasse com essa putaria de ter que rebobinar a porra de uma fita cassete, entrava para a história. um gênio. talvez o maior de todos. favor rebobinar é o caralho.

terça-feira, outubro 05, 2004

o cotovelo.

não existe cotovelo bonito. o cotovelo da gisele é feio. o da fernanda lima também. não existe cotovelo bonito. é um fato. depois de criar o homem, deus, o quem for que esteja por trás de tudo isso, ligou a tv e ficou assistindo futebol até o último minuto. e, quando faltava uns dez segundos pra entregar o homem na terra, deus fez o cotovelo. esse resto de pele enrugado de cor não muito definida e que samba quando você corre atrasado para algum compromisso. é, tente lembrar se você escutou alguma vez na sua vida o seguinte comentário: “o cotovelo dela é uma delícia! não consigo pensar em outra coisa!” ninguém fantasia sobre o cotovelo dos outros. fico esperando o dia que algum estilista desses de nome impronunciável e que por algum motivo dita a moda no mundo, vai instituir a cotoveleira como acessório de moda. eu acho que é só falta de costume. só isso. seu eu tivesse uma grana, uma boa grana, lançaria uma revista só de cotovelos. uma playboy de cotovelos. em todos os ângulos. sem photoshop. com direito a poster no meio e o caráio. a foto do braço da gisele estendido, por exemplo. com o cotovelo bem na dobra. pra ficar ainda mais enrugado. “cotovelo world”. das duas uma: ou eu ficaria zilhardário ou as pessoas mais próximas se afastariam de mim. sei lá. se eu ganhar uma bolada na mega-sena eu tento.

segunda-feira, setembro 27, 2004

o cinto.

eu tenho uns 3 cintos. dois marrons e um preto. só uso o preto. é quando tenho que colocar terno. o que acontece no máximo umas duas vezes por ano. meu trauma com cinto começou tem uns dois anos. um belo dia eu acordei, coloquei um jeans, escolhi a camisa, coloquei o sapato marrom surrado e fui atrás do cinto. "esse não, esse não, esse!" assim com exclamação, porque aquele cinto não era qualquer cinto. era companheiro de guerra. cinto polivalente. com ele frequentei os jantares mais arrumadinhos e o dia-a-dia da firma. sempre rilécs. puta cinto. couro de touro. não de vaca que passa o dia pastando. então. coloquei a camisa para dentro da calça e em seguida passei o cinto por ela. foi aí que deu bosta. faltavam buracos. o cinto já não se portava com a mesma elegância e dignidade. tava apertado. filho da puta. desde então passei a fazer um estilo despojado. mão direita no bolso e camisa para fora. hoje de manhã, enquanto abotoava a camisa, enxerguei o cinto no canto do armário. ficou me olhando com um ar de superioridade. bem babaca. se fudeu. hoje a noite vou enrolar ele e colocar no baú--junto com umas outras tranqueiras velhas. porque se tem uma coisa que eu não suporto é cinto filha da puta. principalmente cinto que falta buraco.

a hostess.

não tenho nada contra a profissão de "hostess". hostess para quem não sabe é aquela pessoa (na grande maioria dos casos se trata de uma mulher) que te recebe na entrada dos restaurantes da moda. é, porque só restaurante da moda tem hostess. aquele barzinho, boteco que você frequenta desde 1990 e tal não tem hostess. pode notar, a hostess está sempre com uma roupa alternativa. tem uma tatuagem pequena na base do pescoço-- ou/e uma outra no ombro que está a mostra. a hostess geralmente se comporta como se ela fosse uma das pessoas mais gostosas do mundo, ou melhor, uma das mais gostosas do universo. é mais ou menos assim que funciona: você chega num restaurante, ela olha você através da porta de vidro e fica alí parada te analisando. só depois de se fazer de difícil, ela abre a porta. com um jeitão de que está fazendo um favor pra você. em seguida, ela diz bem-vindo como quem diz "quem é você mané?" a hostess então se vira na direção das mesas e sem dizer nada, espera você acompanhar ela. ela olha por cima do ombro e aponta com o nariz a direção que você deve ir. taí outro negócio engraçado das hostess. quando elas andam, se movimentam como se estivessem em câmera lenta fazendo biquinho. elas largam você na mesa e saem andando para a porta para receber mais pessoas da mesma maneira. é fácil identificar as hostess. se elas não estiverem em pé ao lado da porta, basta procurar alguma menina magra com três dedos de barriga de fora e um batom roxo carregado. é, porque apesar das hostess trabalharem em restaurantes da moda, não existe hostess gordinha ou "saudável". é um pré-requisito: tem que ser magra. as vezes, só as vezes, se você prestar atenção-- pode notar-- a hostess também arrisca mini passinhos de dança e fica balançando a cabeça como se estivesse em "outra". como se ela fosse muito, mas muito mais "cool" que você. não tenho nada contra a profissão de hostess. muito pelo contrário, a maioria é até bastante simpática. o que me deixa com o saco na lua, puto-- é quando a hostess se acha mais gostosa que qualquer prato do restaurante. até porque, ela pode até ser, mas como ela não está no cardápio-- faz só de putaria mesmo. só de sacanagem.

sexta-feira, setembro 17, 2004

as datas de validade sem validade.

tem um episódio do seinfeld genial em que ele questiona a data de validade dos leites. é, aquele carimbo com a data que o leite supostamente vai ficar podre. no tal episódio, o seinfeld chega a conclusão de que a própria vaca devia falar para o produtor de leite. tipo sussurando no pé do ouvido do cara-- assim que ele terminava de tirar o leite. "17 de setembro de 2004 ... moooooooo!" o que nos leva ao ponto desse textinho. ontem eu comi um iogurte vencido. não foi nada planejado, mas eu comi um iogurte que já estava vencido tinha umas duas semanas. descobri isso meio que por acidente quando fui lamber a tampa. mas o iogurte estava perfeito. não estava azedo. não estava podre. estava delicioso. foi aí que eu fiquei cafuzo. porra, a minha vida inteira eu fiquei preocupado com as datas de validade dos produtos. cresci seguindo três leis básicas: não aceitar balas de estranhos, olhar para os dois lados antes de atravessar a rua, e finalmente, respeitar as datas de validade dos produtos. e foi assim até ontem. até eu comer, deliciar um iogurte que de acordo com a data da tampinha deveria estar completamente estragado. mas que como você já sabe, não estava. porra, como é que eu vou continuar acredito nas coisas. nas leis. em tudo que eu sempre acreditei. a data de validade do iogurte fudeu com tudo isso. assim como o seinfeild, cheguei a conclusão que a data de validade desses negócios são no mínimo chutadas. nunca mais vou correr pra esvaziar a geladeira só para vencer a data de validade. nunca mais. hoje por exemplo vence a minha conta de celular. hoje é a data de validade dela. tô pensando seriamente em não pagar. esperar alguns dias. umas duas semanas talvez. e, se a operadora ligar para mim cheia de marra cobrando o pagamento, eu já sei o que vou falar. "debita essa conta no cartão de crédito tal e tal!" e ela, como esperado, vai dizer: "mas senhor, esse cartão de crédito está com a data de validade vencida!?" e eu vou simplesmente dizer-- antes de desligar o telefone na cara dela: "e daí? a do meu iogurte também tava, e ninguém se fudeu por causa disso!"

o sono.

o sono pra mim tem uma personalidade. uma cara. um jeitão. como se fosse uma pessoa. mas com esse nome, "sono". é assim que eu vejo e imagino o sono. uma pessoa. um ser que mora dentro do meu travesseiro. o meu sono particularmente é pesado, quase obeso. meu sono é gordão. demora pra levantar quando o alarme toca. é. meu sono só levanta na quarta música do rádio-alarme. e isso, quando ele levanta. pela manhã ele é um tanto pentelho. fica andando de um lado para o outro da cama sem se decidir que horas vai começar o dia. a primeira coisa que ele faz é chutar meus olhos. ele sai de dentro do travesseiro, vem correndo, pega velocidade e pimba, dá um bicão com força, com jeito-- no meio dos olhos. meu sono é foda. depois de chutar meus olhos, ele desce pela minha barriga até chegar na altura da bexiga. aí, começa a tortura. ele fica pulando como se estivesse num trampolim. em câmera lenta. pra aumentar a minha vontade de fazer xixi. a cada pulo a dor aumenta. uma dor aguda e chata. e aí não tem jeito. eu acabo levantando se não mijo na cama. desligo o alarme, corro pro banheiro e ligo chuveiro. é. essa é a única maneira de acabar com o sono. mandar ele pro caralho. uma ducha forte na cabeça. e enquanto o shampoo escorre pelo rosto e arde a minha vista-- o sono se despede-- escorrendo pelo ralo. e antes dele desaparecer pelos buraquinhos do ralo, posso escutar ele gritando: "até amanhã de manhããããã....!" escroto.

terça-feira, setembro 14, 2004

o flamboyant.

o que é flamboyant? ou melhor, o que quer dizer flamboyant? flamboyant é nada. mas pode ser tudo. simples assim. parece complicado, mas não é. flamboyant é um nome fantasia. uma marca. um nome que não existe e que pode ser usado pra qualquer coisa. voce pode lançar um novo modelo de carro e dar esse nome. e pode cobrar uma fortuna. afinal, flamboyant é um nome classudo. pode notar. fale flamboyant em voz alta. entre a letra “b” e a letra “n” você obrigatoriamente faz um biquinho bem francês, sofisticado. “flamboyant”. só mais uma vez pra decorar. agora, você me pergunta: porque caráio esse cara está falando isso? bem, estou falando isso porque sexta passada fui numa churrascaria dessas de rodízio. e notei algo engraçado. ninguém come a alcatra. ninguém. diferente do caráio do cupim que tem uma textura única e fica dando bandeira, a alcatra é prima de primeiro grau da fraldinha, do filé--tem a mesma cara, o mesmo jeitão de bifão no espeto. mas é só o cara oferecer “alcatra” pro pessoal torcer a cara. é, porque atrás do carinha da alcatra está o fêla da puta da fraldinha com o espeto leve de tanto largar lascas de carne nos pratos dos outros. por isso, sugiro uma troca de nome. sai alcatra, entra o “flamboyant”. todos os donos de churrascaria deveriam se reunir e trocar o nome de uma vez. enterrar a alcatra. de uma vez por todas. em pouco tempo, churrascarias colocariam placas, neon, outdoors na entrada: “temos flamboyant!” “chegou mais um carregamento de flamboyant!!!” “rodízio com farofa de ovo e flamboyant!” sucesso garantido. a alcatra sairia do ostracismo e os donos de churrascaria fariam uma fortuna. isso, é claro, até o garçom da fraldinha ficar bem puto, se mordendo de inveja--e sussurar no ouvido dos clientes: “lembra da velha alcatra? então...”

quarta-feira, setembro 08, 2004

sete.

cada ano que um cachorro vive corresponde a 7 anos humanos. uma cadela de 14 anos teria, 98 anos se fosse uma pessoa. e assim por diante. é complicado ser um cachorro se você pensar. cachorro está sempre encoleirado. e, se não está na coleira, é porque é vira-lata. e se é vira-lata, está passando fome. ou seja. a vida de cachorro não é só brincadeiras e "vem cá, meu fofo!" não. o dia-a-dia deles é foda. cachorro não escolhe o que come. as pessoas escolhem para ele. tem gente que serve ração. tem gente que serve resto de comida. e aí se se ele ficar com vontade de ir ao banheiro. seja pra fazer xixi ou o nº2-- ele tem que esperar alguém levar ele. e não tem hora certa. cachorro vai ao banheiro quando der na telha do dono. quando o dono lembra. e só. agora, o sexo. cachorro não pode sair por aí atrás de um parceiro ou uma parceira quando der vontade. tem que ser sortudo. muito sortudo. tem que torcer para encontrar alguma cadela no cio no elevador. e ainda, essa cadela deve ser da mesma raça, se não fudeu. a dona não vai querer a cadelinha dela cheia de vira-latinhas na barriga. outra coisa que é complicada com cachorros são os ensinamentos. é. toda aquela história de "senta!", "pula!", "finge de morto!". caráio. fico imaginando o cachorro escutando o dono dando essas ordens bestas para ele. e ele tem que fazer, se não é ele, o cachorro que se passa por besta. mas, de todas essas coisas, é a coisa da idade que eu acho mais cafuza. é uma corrida contra o relógio. não é a toa que cachorro vive afobado. com pressa. transando com a perna das pessoas-- e das mesas de jantar. é. ele sabe que enquanto o dono dele está coçando a saca, o tempo dele está voando. e é exatamente por isso que cachorro odeia tanto o gato. é. enquanto a porra do gato tem sete vidas, cada ano dele corresponde a 7 anos dos nossos. uma vida de cachorro.

obs.: se você tem um cachorro e uns 3 minutos-- (que pra ele são uns 21)
leve ele pra dar uma volta.

a lei das probabilidades.

- amor...que marca de batom é essa na gola da sua camisa?
- foi de uma menina que eu esbarrei no happy hour da firma.
- e esse chupão no pescoço?
- o chupão...o chupão...foi da irmã gêmea dela.
- e esses arranhões nas costas?
- os da direita, de uma, os da esquerda, de outra.
- mas amor?
- fala.
- [início de choro] você não poderia pelos menos ter pensando numa desculpa pra salvar nosso casamento?
- é eu sei...eu cheguei a elaborar uma desculpa...
- e...
- foi quando eu vi que eram gêmeas.
- e...
- porra amor, quando eu vi que eram gêmeas, eu tinha certeza que você ia entender!
- [se recuperando do choro] gêmeas? mas eram idênticas?
- é. pensa nas probabilidades disso acontecer!
- [fungando] hmmmm....e além de serem idênticas---elas eram bonitas?
- ma-ra-vi-lho-sas!
- hmmm....é... as probabilidades disso acontecer.... é quase impossível... acho que você tem razão....
- te amo.
- te amo.

coisas que eu só consumo em aviões e em nenhum outro lugar

- amendoim em mini-pacotinhos.
- frango recheado com mistura de espinafre e queijo.
- frutas descoloridas.
- lasanha de lasanha.
- pastel de forno de queijo emental.
- bala de leite que gruda nos dentes nos aviões da tam.
- barra de chocolate sem marca.
- café com leite que já vem adoçado.
- café morno pra frio.
- suco de maçã.
- pepsi.
- sanduíches com recheios suspeitos embalados num papel laminado fervendo.
- mixto mistério (queijo com algum outro recheio misterioso, tipo: "peito
de...de...de alguma coisa defumada.")
- mini geléia de goiaba.
- manteiga sem sal.
- cerveja de marca que eu não encontro no supermercado. (e só se tiver com uma pedra de gelo agarrada na boca da lata.)
- e mais umas coisas que eu não lembro por serem muito suspeitas.

terça-feira, agosto 24, 2004

quando a azeitona fudeu o pastel.

azeitona é um troço oleoso com um caroço quase do tamanho dela no meio. partindo desse ponto, eu já acho azeitona uma coisa escrota. pensa só: quase 90% do produto é caroço. e azeitona não é barato não. é caro. principalmente se vc comprar uma daquelas roxas grandonas com uma lasca de tomate agarrada no buraquinho. peguei raiva de couvert por causa delas. vai tomar no cú. vai me cobrar 6,50 por três mini-pães, um quadradinho congelado de manteiga e uma pá de azeitonas. mas não é sobre isso que eu queria falar. queria falar sobre o pastel. é. eu adorava pastel. com aquela casca dourada e crocante. aquele ventinho quente que entrava boca adentro com a primeira mordida. até o dia que eu dei uma puta dentada num pastel com uma azeitona abraçada com o queijo. nunca mais comi pastel da mesma maneira. é como uma criança que quase se afoga quando pequena, e nunca mais entra na água da mesma maneira. sempre com medo. com cautela. com cagaço. a azeitona fudeu o pastel. o meu pastel. é por isso que eu tenho raiva dela. por causa da azeitona, já me queimei, vasculhando o interior do pastel--roçando o dedo sobre o queijo borbulhante. isso não passa de um desabafo. hoje, vou sair pra tomar um chopp com amigos. vou ficar namorando o pastel de longe. o pastel que eu idolatrava. antes de bater de frente com a azeitona.

segunda-feira, agosto 16, 2004

os "servidores de cupim anônimos" ou s.c.a.

aqui na firma, volta e meia, o almoço é na churrascaria. é perto. baratinho e rápido. e, depois de frequentar o mesmo lugar tantas vezes, notei uma coisa hoje. é. o carinha que serve o cupim não estava lá. tinha um cara diferente no lugar dele. fiquei receoso de perguntar o que tinha acontecido. mas, depois de ver as pessoas rejeitando o cupim pela centésima vez, descobri aonde ele foi parar. acho que o carinha que servia o cupim está frequentando um grupo de apoio. um grupo criado especialmente para os servidores de cupim. os "servidores de cupim anônimos" ou s.c.a. só pode ser. enquanto eu observava o garçom novo sendo rejeitado pelo salão inteiro, tive flashbacks. me lembrei das mais de 50 vezes que eu fui comer lá e fiz cara feia pro garçom do cupim. com cara de nojo. me lembrei do esforço que o fila da puta tinha que fazer pra carregar a porra do cupim pelo restaurante. o suor acumulado na testa e debaixo dos braços. e por último, imaginei ele, voltando pra cozinha todos os dias com o cupim inteiro. a peça intocada. já queimada de tanto ser requentada na brasa. é. o tiozinho do cupim foi substituído por um outro cara que não sabe no que está se metendo. nessa batalha emocional que é servir o cupim. ou melhor, não servir o cupim. a rejeição. o sinal vermelho na mesa. hoje deve ser o primeiro dia do garçom antigo no s.c.a. no "servidores de cupim anônimos". enquanto eu pagava a conta e me preparava pra sair da churrascaria, pensei no que ele estaria dizendo para o grupo de apoio: "meu nome é severino. e como vocês, também sirvo cupim. mas ninguém sabe que eu existo...não durmo... perdi o apetite...minha mulher não me entende. meus filhos não me respeitam. eu sirvo cupim!!!!!!" e o grupo, todos eles garçons de churrascaria-- recebem ele de braços abertos: "seja bem-vindo severino! nós também servimos cupim!" é. vou ficar torcendo pela recuperação dele.

segunda-feira, agosto 09, 2004

na orelha.

existem alguns sinais bem claros de que você está envelhecendo. o primeiro e mais óbvio é claro, é a sua idade. as rugas que nascem nos cantos dos olhos também são sinais clássicos de que a velhice não só bateu na sua porta como está de mudança para o quarto de hóspedes da sua casa. mas tem um sinal, um sinal que é foda. esse sinal indica claramente que está tudo perdido, você é oficialmente um coroa. esse sinal anuncia para o grande público que você entrou de vez em uma nova fase: a fase em que você é um dos poucos que ainda se lembra de seriados como "duro na queda", "casal 20" e "supermáquina". esse sinal é um tanto difícil de notar. tem que procurar direitinho. olhar com cuidado. mas uma vez que você enxerga, fudeu. não consegue mais tirar os olhos dele. ele salta. como se tivesse um par de holofotes permanentemente acesos sobre ele. e que sinal é esse? caráio-- eu estou falando do cabelo na orelha! cabelo na orelha. fios de cabelo bem fininhos que descem pelo lóbulo da orelha como se fossem trepadeiras-- numa parede branca descascada. olhando no espelho esses dias eu me dei conta: estou com cabelo na orelha. é sério. hoje quando me olho no espelho, para fazer a barba por exemplo, só consigo ver o cabelo da orelha. é foda. mas tenho que segurar a onda. sem dramas. é só mais um sinal. a vida é assim mesmo. rugas nos cantos dos olhos. o odômetro da carteira de identidade rodando. e é claro, cabelos na orelha. domingo entrei no elevador com uma mãe e uma filhinha. eu moro no quinto. as duas apertaram o décimo andar. e, quando o elevador chegou no meu andar, a mãe olhou para a filha e disse bem baixinho: "se afasta e deixa esse "senhor" passar que é o andar dele, minha filha..." é, ela me chamou de "senhor". ela deve ter notado que eu tinha cabelos na orelha. na orelha.

quarta-feira, julho 28, 2004

couvert é coisa de mané.

couvert é coisa de mané. pensa só: você entra num restaurante disposto a comer um filé, um spaghetti super super, um salmão com molho de maracujá, e acaba se fudendo por causa do couvert. é, porque você chega num restaurante cheio de fome. morrendo de fome. se cagando de fome. e, no instante que o maluco coloca aquela coleção de pães na mesa com uma lata de azeite, pimba, você começa a socar pão no azeite, pão no azeite, pão no azeite e mais pão no azeite. fica com os cantos da boca melados e o guradanapo levemente esverdeando acusando: "esse fêla da puta comeu um cesto inteiro de pão com azeite." e isso se não tiver também queijinhos, presuntinhos, azeitoninhas e creminhos para comer com o pão. resultado: em 3 minutos você ingere umas 800 calorias. por baixo, é claro. aí, quando chega aquele prato que você vinha sonhando a caminho do trabalho....você já abriu um botão da calça. já tá com a pança cheia. suando nos cantos da testa. você não aproveita a porra do salmão, mas tem que pagar. você pediu, caceta. você volta pra casa de barriga lotada. satisfeito e insatisfeito ao mesmo tempo. satisfeito, porque está sem fome nenhuma. e insatisfeito, porque caráio, você saiu para um restaurante, pegou o carro, pagou a porra do valet, ficou fazendo pose na mesa para sua namorada ou mulher-- e não comeu a caráia do salmão ou o filé que você desejava tanto antes de sair de casa. é por isso, e só por isso, exclusivamente por ess motivo, que couvert é coisa de mané. muito mané. fuja do couvert como uma criança corre de um prato de brocólis. fuja do couvert como mulher corre de barata. se o garçom insistir, faça ameaças. levante a faca e peça a conta. você não é bobo e muito menos mané.

quinta-feira, julho 15, 2004

o buraco das rosquinhas: uma conspiração.

você com certeza já viu nos filmes, policiais comendo rosquinhas açucaradas. tão certo como o sol que nasce todas as manhãs, o policial americano come meia dúzia de rosquinhas por dia. os famosos donuts. olhando assim, os donuts parecem ser inofensivos. uma simples rosquinha com uma cobertura ainda mais doce. mas não é só o policial americano que tem tara pela rosquinha-- o cidadão comum também adora enterrar os dentes nos donuts. nas rosquinhas. mas você por acaso já parou pra pensar porque os donuts tem um buraco no meio? porque? porque? pelo amor de deus, porque? custava deixar o recheiozinho que preenche o buraco da rosquinha? taí uma daquelas conspirações que podem derrubar um presidente, um país, ou algo parecido. imagine a grana que os responsáveis pelas rosquinhas economizam com cada buraco. agora imagine aquela cena clássica dos filmes em que o policial barrigudo e suadao para numa loja de rosquinhas e compra uma dúzia, e dos recheados. são doze buraquinhos. e isso é só contando um policial. eu entendo que o mundo tem lá suas prioridades: a guerra do iraque, as bombas nucleares da coréia, os transgênicos e as novas contratações do flamengo para o estadual. mas olha, acho que os governos das maiores nações industrializadas deveriam criar uma comissão para cuidar desse problema. desse escandâlo: o buraco das rosquinhas. porque uma coisa eu tenho certeza, o recheio que preenche o buraco não está indo pro lixo não. tem alguém ganhando um troco aí. acho que eu sei o que está acontecendo. é só uma opinião. após fazer uns cálculos, e comer algumas rosquinhas, cheguei a uma conclusão. o buraco da rosquinha é exatamente a quantidade de massa que falta para deixar uma pessoa completamente satisfeita. então os caras resolveram tirar. deixaram só o buraquinho. resultado: após comer uma, você pensa um pouco, sente uma pequena fome e-- compra outra. e assim por diante. afinal, o buraquinho te fudeu. faz falta. a conspiração das rosquinhas. coisa de fila da puta.

casais: o camaleão e a camaleoa.

sábado a noite. o camaleão está na sala, terminando de se arrumar para o casamento do seu primo. o camaleão está com pressa, afinal, ele e a camaleoa vão ser padrinhos. a camaleoa está no quarto, terminando de secar o cabelo e começando a se arrumar. lá da sala, o camaleão grita: "amor, acelera o passo que tá chovendo e a gente não pode contar com o trânsito!?" a camaleoa não diz nada. o camaleão resolve abrir uma cerveja. comer uns pistaches. só para matar o tempo. os minutos voam. e em pouco tempo, o camaleão acaba a cerveja. ele olha para o relógio e leva um susto: "amor, amor, a gente vai se atrasar, não é possível que você ainda não está pronta!? caráio! é sempre assim!!" e nada da camaleoa sair do quarto. o camaleão decide então entrar no quarto pra ver que porra está acontecendo. a caminho do quarto, ele dá mais uma espiada no convite pra ver o horário de chegada. é. eles vão se atrasar. o camaleão entra no quarto e encontra a camaleoa de frente para o espelho. ela parece estar pronta. mas, quando ele vai pegar na mão dela para sair... ela muda de cor. e muda de novo. e de novo. e mais uma vez. o camaleão então senta na beirada da cama e fica olhando. esperando. esperando. e a camaleoa muda mais uma vez de cor. como sempre, ela não consegue se decidir. e muda mais uma vez, e mais uma e mais uma...e de novo...de novo...de novo...e quando a camaleoa muda de cor pela centésima vez, o camaleão desiste. literalmente. ele joga o convite no chão e liga a televisão. e, enquanto ele o vt do futebol, a camaleoa fica lá. mudando de cor...sem parar. literalmente.

a assinatura invisível e a conta do restaurante.

tem coisas na vida que você aprende observando as outras pessoas. mas porque eu estou falando isso? afinal, isso é óbvio, todo mundo aprende as coisas observando os outros. geralmente os mais velhos. os adultos. tô falando isso, porque um dia desses eu estava no restaurante, e quando fui pedir a conta, fiz aquele sinal invisível no ar de assinatura. sabe? aquele sinalzinho sem-vergonha de levantar a mão e fazer um zig-zag, como se estivesse segurando uma caneta invisível e assinando um cheque? pra pedir a conta? então, depois de fazer esse sinal, de uma maneira bem exagerada-- vi que uma menina da mesa ao lado me observava como se tivesse acabado de testemunhar uma aberração da natureza: a assinatura invisível. foi aí que eu vi o pai dela pedindo a conta. ele não fez a assinatura invisível como eu, não. ele estendeu a mão como o hitler fazia ao final dos discursos e moveu os dedos da esquerda para a direita-- como se cortasse a cabeça de alguém. caráio-- a menina estava crescendo aprendendo o sinal de pedir a conta de um jeito errado. o jeitão hitler do pai dela. porra, eu tinha que salvar ela. pedi a conta mais uma vez. pedi duas vezes. pedi três. sempre repetindo o sinal da assinatura invisível no ar. do canto dos olhos podia ver a menina gravando aquela cena. é. queria de qualquer maneira fixar aquela imagem na cabeça dela. em segundos-- o garçom chegou correndo com a minha conta. também pudera, depois de umas 10 assinaturas invisíveis no ar--não poderia ser diferente. e foi aí que eu me senti realizado. a menina, vendo a minha conta chegar, repetiu o sinal da assinatura invisível. e logo em seguida, ela disse para o pai: "é assim, pai!" é, tem coisas na vida que você aprende observando as outras pessoas. pedir a conta fazendo o zig-zag da assinatura invisível no ar, por exemplo.

o leão. o rei da selva.

não sei se você já assistiu aqueles programas no discovery channel ou no national geographic-- sobre a vida do leão. o rei da selva. o leão é foda. todo animal (principalmente as zebras e as gazelas) se fode na mão do leão. é, o rei da selva não perdoa. não dá mole. cerca os outros animais indefesos e arranca um naco do pescoço. é uma morte instântanea. depois, é servido de banquete para a molecada: os leãozinhos. é uma festa. todos eles com os cantos da boca melados de sangue de zebra. a matança, o massacre do leão é com certeza a parte mais emocionante desses programas. mas tem uma coisa que é muito curiosa. como todo filme de ação, esses programas também tem as cenas de romance. o sexo selvagem. caráio-- não existe animal na face da terra que transe mais do que o leão. com a mesma intensidade e frequência. é sinistro. é uma suruba generalizada que geralmente toma os últimos dez minutos desses programas. o fila da puta não dá mole. a leoa relaxou, pimba na gorduchinha. é, não é toa que o leão foi coroado como o rei da selva. porra-- o fila da puta-- passa o programa inteiro comendo todo mundo. as zebras, as gazelas e é claro, a leoa.

segunda-feira, julho 12, 2004

o dublê. meu dublê.

atores sempre recorrem aos dublês na hora de filmar cenas perigosas. atrizes também, tanto para essas cenas que envolvem explosões como também-- as cenas de nudez. e funciona. os filmes vão para as telas com sequências cada vez mais fantásticas e cenas de nudez-- mais ousadas. ou seja, se não fossem os dublês-- nossos fins de semana no cinema seriam sem-graça. e foi pensando nos dublês. analizando o trabalho que eles fazem, que eu tive uma idéia. é. e se pessoas comuns-- como eu e você-- também pudessem ter um dublê? um dublê próprio para os momentos de perigo do dia-a-dia. para os momentos de emoção. os momentos em que você corre algum tipo perigo. não importa o tamanho. precisou? chama o dublê. seria sensacional. quer pedir um aumento para a chefia? manda o seu dublê pedir no seu lugar. quer chegar na menininha do bar, sem ter medo de levar um fora dela? ou melhor: você não resiste-- e quer passar a mão na bunda da menina na frente do namorado dela? manda o dublê. quer viajar pelas estradas esburacadas do brasil? manda o dublê. as possibilidades são infinitas. ah, você parou num boteco de terceira no fim do mundo e tá com medo de experimentar a coxinha? o dublê come. você nunca mais teria medo de nada. você se arriscaria mais. viveria mais. com a ajuda do dublê, é claro. mas porra, se esses atores e atrizes podem fazer todo esse sucesso com ajuda de dublês, porque caráio a gente não pode? todo cidadão tem direito a um dublê. agora por exemplo, eu estou preso numa reunião. e como eu estava morrendo de medo de deixar esse espaço aqui em branco-- mandei o meu dublê escrever esse textinho.

queixo com bundinha.

eu tenho queixo com bundinha. queixo com bundinha para quem não sabe, é um queixo que não é reto, tem um leve formato de bundinha no final. tem uma entradinha no meio que lembra o formato eternizado pelos bikinis brasileiros. não confundir com o queixo furadeira-- aquele que tem um furo no meio. eu confesso. não tenho vergonha de portar um queixo com bundinha. é um fato. a bundinha está lá-- aquela risca, bem ao centro do queixo. dividindo o queixo ao meio. uma banda para direita e outra banda para a esquerda. pode notar ao seu redor, não é todo mundo que tem queixo com bundinha. é raro. já li em algum lugar que uma das 83 operações plásticas que o michael jackson fez, foi colocar uma bundinha no queixo dele. mas como todas as outras operações, o queixo dele ficou meio falso. ele ficou com cara de bundão. mas ele não está sozinho. é. dia desses, fazendo a barba-- fiquei observando meu queixo e a bundinha. e cheguei a uma conclusão: o excesso de peso está criando um segundo queixo. e esse segundo queixo está afetando toda a estrutura do meu queixo original, que como você já está cansado de saber, tem uma bundinha. estou definitivamente com uma cara de bundão. a gordura está matando, acabando com a tal bundinha. isso foi a gota d'água. foi o empurrão que faltava para eu entrar na academia. fazer a matricula. é. hoje eu estava lá, pregado numa bicicleta. com círculos de suor crescendo pela camisa desbotada. é uma corrida contra o tempo. salvar a bundinha do meu queixo. porque você sabe, no verão, o pessoal presta atenção em tudo: bikinis, bronzeado, peitos, bundões, bundas, bundinhas e é claro, bundinhas no queixo.

quarta-feira, julho 07, 2004

o exílio da camisa salmão.

ganhei de presente uma camisa salmão. e não foi neste natal não. ganhei em 2001. uma camisa salmão. não me entenda errado, a camisa é legal, classuda-- veste bem. só tenho um problema: não consigo usar a camisa salmão. já devo ter vestido ela em umas 8 ocasiões diferentes. mas depois, é claro, coloquei de volta no armário. as vezes não encontro a calça que combina com salmão. mas na maioria das vezes eu simplesmente não consigo sair do quarto com ela. basta eu olha para o espelho para ele, o espelho comentar: "que cor é essa erick? laranja? vermelho? vermelho alaranjado? laranja avermelhado? puta que pariu erick, a camisa é salmão!" aí eu tiro. não penso duas vezes. camisa de cor exótica é foda. é foda porque não combina com nada. só com a cor dela. para usar a minha camisa salmão, eu teria que ter uma calça salmão. e convenhamos, também ficaria estranho. já tentei sair com ela com as mangas arregaçadas e uma calça preta. cheguei até o lobby do prédio e voltei. porra, eu tava parecendo um isqueiro bic preto com a chama permanentemente acesa. hoje mais cedo, enquanto me vestia para o trabalho me deparei novamente com a camisa salmão. olhei pra ela, pensei, pensei, respirei fundo-- e quando eu finalmente me convenci a dar mais uma chance para ela-- fui interrompido. é. enquanto eu esticava o braço pra pegar ela, escutei o meu espelho gritando, lá do fundo do quarto: "porra erick! essa camisa salmão de novo, não! pelo amor de deus! me poupe-- porra!" e lá se foi a camisa salmão, mais uma vez para o exílio do fundo do armário. quem sabe, em 2005.

a loucura da vaca e o gol de mão do maradona.

tenho pena da vaca louca. a vaca é o animal mais dócil que existe. pode prestar atenção-- vaca passa o dia pastando, bebendo água, andando pra lá e pra cá e só. a vaca dá todo o leite que produz sem cobrar um tostão. a vaca é o animal mais bacana que existe. mas está ficando louca. começou na inglaterra e agora enlouqueceu nos estados unidos. uma pena. sacanagem com a vaca. é. afinal, vaca não pode fazer terapia, procurar ajuda de um psiquiatra, tomar algum remédio tarja preta pra ficar mais relax. quando a vaca enlouquece fudeu. o pessoal picota ela e depois queima. sem dó. ainda não se sabe ao certo as razões dessa loucura que afeta as vacas. mas é um fato: as vacas estão enlouquecendo. pirando. ficando lelé. e foi pensando nisso que eu resolvi pesquisar um pouco na internet sobre as vacas, e o aparecimento da doença. e caráio, acho que achei alguma coisa. a primeira vaca louca apareceu na inglaterra em meadas dos anos 80. para ser mais específico em julho de 1986. nesse mês, um rebanho inteiro pirou numa fazenda no interior da inglaterra. pesquisei, pesquisei, pesquisei e acho que descobri a causa: o gol de mão do maradona contra a inglaterra na semi-final da copa de 86 no méxico. lembra? o gol roubado que o mundo inteiro viu, menos o juiz? porra, se nós que somos brasileiros ficamos putos, os ingleses com certeza-- enlouqueceram. é, descobri a raiz de tudo. tenho quase certeza que um rebanho estava assistindo aquela semi-final pela janela em alguma fazenda inglesa. tudo culpa do maradona. naquela semana apareceu o primeiro caso. depois a epidemia. a epidemia da vaca louca.

a mulher-maravilha e o pistolão.

nunca consegui entender ao certo o que se passava na cabeça do sujeito que inventou a mulher-maravilha. por um simples motivo: os poderes dela eram uma bosta. caráio...ela não tinha poderes. caceta. um par de braceletes dourados para repelir raios e um laço mágico reluzente que ela controlava com o poder da mente? fala sério. não é a toa que o superman nunca quis dar uns pegas nela. sempre achei estranho aquilo. a mulher não era maravilha. ela era bonita e tal. tinha lá seu charme. as botas. o bikinão estrelado. e as pernocas grandes. mas não tinha poderes. e é aí que entra o assunto desse textinho. eu acho que a mulher maravilha é o primeiro e único caso já detectado de pistolão em desenhos animados. em histórias em quadrinhos. fico imaginando como e quando ela foi criada. era uma tarde de terça-feira, como a de hoje. estava tudo meio parado. os desenhos da semana já estavam todos finalizados-- quando chega o dono do estúdio com a sua filha de uns 6 anos de idade--pra fazer uma visita. ele acena para os desenhistas e a filhinha vai atrás. até que, depois de observar todos os murais e os posters na parede, ela pergunta: "pai, porque não tem nenhuma super-herói mulher?" o pai, coça o queixo e fala sozinho: "superman, lanterna-verde, aquaman, batman, the flash...caráio..você tem razão minha filha!" os desenhistas disfarçaram, colocaram os headphones e continuaram rabiscando os cadernos. até que a menina falou: "mulher-maravilha! mulher-maravilha! mulher-maravilha!" e foi ali, naquele instante que nasceu a primeira super-heroína: a mulher-maravilha. tudo graças a um pistolão. e aí. só de putaria. só de sacanagem-- fizeram a mulher-maravilha como ela é. com uma par de braceletes dourados e uma corda que flutua. e pra fuder mesmo, eles deram uma nave pra ela. mas uma nave invisível. só de sacanagem.

"veja bem dotô..."

de todas as frases e expressões, o "veja bem dotô" é das que eu mais gosto. é diferente do "veja bem..." muito usado quando vão te enrolar e te fuder bonito (muito usada em oficinas--"veja bem, com a mão de obra e as peças sai tudo por mil real!"). é. a adição da palavra "dotô" demonstra simpatia. o "veja bem dotô" é sensacional por vários motivos. primeiro, pela sonoridade. tem um som bacana quando é falada. e em segundo lugar, pela variedade de mnaneiras de usar ela. por exemplo, se eu vou a um barbeiro e quero explicar para o tiozinho como cortar o meu cabelo, eu posso muito bem usar essa expressão: "veja bem dotô, tira um pouco dos lados e atrás, mas não mexe no topete não." e ele, o barbeiro, também pode usar a mesma expressão para responder: "veja bem dotô, eu posso usar máquina 2 dos lados e depois aparar com a tesoura em cima!" quer ver outro lugar que a expressão cabe direitinho? o trânsito. o guarda te para e pede os documentos. minutos depois ele volta e diz: "veja bem dotô, está faltando o carimbo do comprovante do imposto da terceira via de veículos utilitários do departamento de estrada e rodagem!" e você pode simplesmente responder: "veja bem dotô, esse carimbo está no processo de sair, só está dependendo da greve do detran acabar..." e por aí vai. meu porteiro hoje mais cedo chegou pra mim e disse: "veja bem dotô, o jornal não chegou não, mas tem uma carta aqui para a senhora sua esposa." não importa como ela é usada. essa expressão é sempre interessante. quebra o ritmo da conversa. esbarrei com um carinha no elevador ontem aqui na firma e comentei: "putz...deu um trato na cabeleira hein?" ele confirmou com um breve levantar de sobrancelhas. e eu não perdoei: "é. esse teu corte está digno de um 'veja bem dotô!" ele não entendeu. e eu completei: "veja bem dotô, tira dos lados, mas em cima você pode deixar como está." não sei se ele gostou do comentário. mas que ele pediu o corte assim pro tiozinho, ah, pediu. "veja bem dotô!" procure usar essa expressão hoje. só pra ver no que dá.

a joaninha e a roupa de bolinha.

hoje mais cedo, durante uma pausa para o café, encontrei uma joaninha. ou melhor, uma joaninha me encontrou. pousou no meu ombro. tinha tempo já que eu não via uma joaninha. toda vermelha com pontinhos pretos e um par de antenas. joaninhas são bonitinhas. dá vontade de apertar. e foi observando a joaninha que eu cheguei a uma conclusão. nada que vai revolucionar o mundo. mas faz algum sentido. caráio-- as joaninhas são a maior prova viva de que as roupas, as aparênciaa mudam completamente a maneira de você "ver" as pessoas. interpretar suas intenções. a joaninha nada mais é do que um inseto com uma roupa jeitosa. bonitinha. colorida. se ela fosse igualzinha-- mas com uma casca marrom no ligar, fudeu. eu pisaria em cima. as baratas por exemplo, quem sabe se elas não tivessem uma casca como as das joaninhas-- não seriam mais bem aceitas na sociedade. quem sabe as pessoas não deixariam de caçar elas com uma lata de rodasol numa mão e um chinelo na outra. caceta. pensa só. já vi mulher correndo de besouros que não tiveram a sorte de nascer com a mesma cor das joaninhas. e já vi também-- as mesmas pessoas tocando o nariz no casco das joaninhas com um ar de "como a natureza é bela". é. não sou nenhum expert do assunto-- mas acho que a simples existência da joaninha rende discussões antropológicas bem profundas. o racismo entre os insetos. perdão, não entre os insetos. mas da gente com relação aos insetos. o status que essa caráia de casca da joaninha dá pra ela. porra. sério. se eu fosse um besouro daqueles com o cascão amarronzado meio verde, sequestraria uma joaninha. sem dó. não ia levar ela pra fazer saques em caixas eletrônicos não. só roubaria a casca colorida dela. é. melhor uma joaninha pelada do que um besouro (neste caso, eu) esmagado por uma havianas fashion. pensei nisso no elevador a caminho da minha mesa. voltei correndo pra pegar a joaninha. mas algum outro besouro já tinha tido a mesma idéia. fila da puta.

porque mulheres fazem as unhas da mão e homens não cortam as unhas do pé?

taí um dilema daqueles de entortar a cabeça de qualquer acadêmico. a resposta não é fácil. você já viu alguma mulher, de qualquer idade que não fica aflita quando não arruma tempo pra fazer as unhas? e os homens, você conhece algum homem-- que se lembra de cortar a unha do pé? confesso que o dedão do meu pé direito com o tempo se transformou numa arma mortal. uma máquina mortífera. o dedão consiste de uns seis centímetros de unha--daquelas grossas. mas não ando armado assim de propósito. eu simplesmente esqueço de cortar as unhas do pé. com o tempo meus tênis e sapatos foram se adaptando. não furam. as unhas também. ao invés de crescer reta. a unha do meu dedão faz uma curva bem fechada para caber no meu sapato. e não me venha fazendo cara de nojo não. porque como eu disse lá em cima, todo homem deixa de cortar as unhas do pé. agora as mulheres e as manicures. caráio, você já parou pra pensar quanto uma mulher gasta no decorrer da vida removendo pele morta dos dedos? e quanto uma mulher gasta colocando duas mãos daquele esmalte rosa cor de pele? é uma fortuna sem precedentes. o suficiente para acabar com a fome num bom pedaço da africa. mais grana do que conseguiram levantar com o "we are the world" em 82. dois extremos. de uma lado o homem primata que caga para as unhas do pé. e do outro lado, bem, do outro-- a mulher que se recusa a sair de casa se não tiver dado uma geral nas mãos (a cada 3 dias--religiosamente.) como você viu, eu enrolei, enrolei e não cheguei a nenhuma conclusão. essa pergunta realmente não tem resposta. tão difícil quanto encontrar essa resposta-- é encontrar um homem com as unhas do pé cortadinhas e lixadas-- e ver uma mulher com as unhas das mãos descascadas. um dos grande enigmas do universo. enquanto não desvendam isso-- eu vou continuar circulando armado. com a arma escondida dentro do sapato. é. porque nos dias de hoje, qualquer proteção é pouca.