quinta-feira, julho 15, 2004

a assinatura invisível e a conta do restaurante.

tem coisas na vida que você aprende observando as outras pessoas. mas porque eu estou falando isso? afinal, isso é óbvio, todo mundo aprende as coisas observando os outros. geralmente os mais velhos. os adultos. tô falando isso, porque um dia desses eu estava no restaurante, e quando fui pedir a conta, fiz aquele sinal invisível no ar de assinatura. sabe? aquele sinalzinho sem-vergonha de levantar a mão e fazer um zig-zag, como se estivesse segurando uma caneta invisível e assinando um cheque? pra pedir a conta? então, depois de fazer esse sinal, de uma maneira bem exagerada-- vi que uma menina da mesa ao lado me observava como se tivesse acabado de testemunhar uma aberração da natureza: a assinatura invisível. foi aí que eu vi o pai dela pedindo a conta. ele não fez a assinatura invisível como eu, não. ele estendeu a mão como o hitler fazia ao final dos discursos e moveu os dedos da esquerda para a direita-- como se cortasse a cabeça de alguém. caráio-- a menina estava crescendo aprendendo o sinal de pedir a conta de um jeito errado. o jeitão hitler do pai dela. porra, eu tinha que salvar ela. pedi a conta mais uma vez. pedi duas vezes. pedi três. sempre repetindo o sinal da assinatura invisível no ar. do canto dos olhos podia ver a menina gravando aquela cena. é. queria de qualquer maneira fixar aquela imagem na cabeça dela. em segundos-- o garçom chegou correndo com a minha conta. também pudera, depois de umas 10 assinaturas invisíveis no ar--não poderia ser diferente. e foi aí que eu me senti realizado. a menina, vendo a minha conta chegar, repetiu o sinal da assinatura invisível. e logo em seguida, ela disse para o pai: "é assim, pai!" é, tem coisas na vida que você aprende observando as outras pessoas. pedir a conta fazendo o zig-zag da assinatura invisível no ar, por exemplo.

Nenhum comentário: