terça-feira, fevereiro 16, 2010

o novo endereço do bigode molhado.

é aquela coisa. porque mudar o endereço depois de quase seis anos?
bom, primeiro porque o endereço agora é bigodemolhado.com
e só por isso, já é mais stâile.
ou seja, na verdade o endereço é o mesmo. menos o blogspot.

e segundo, porque é um pouquinho mais fácil escrever no outro esqueminha. o wordpress.

e assim que eu encontrar um master makers internet zambers-- para fazer aquele esquema de redirecionar qualquer pessoa que entrar aqui para o outro-- você não vai precisar mais ler este textinho. o blog vai direto para lá.

eu tenho uns três amigos que colocaram esse blog no google reader.
e tenho certeza que o esqueminha do novo endereço não vai ser assim tão bem integrado assim de primeira--- mas acho que com o tempo tudo se ajeita. ou pelo menos essa é a idéia.


portanto, o endereço novo é www.bigodemolhado.com

clique aí em cima. e chegando lá, clica no botãozinho que tem no lado direito-- logo no topo-- e cadastre o seu email para assinar o blógui e receber um aviso quando novos textinhos forem acrescentados.





segunda-feira, fevereiro 15, 2010

casais vol. 87


ele sempre pedia o couvert.
ela sempre fazia questão de não tocar nele.
ele sempre pedia o bife ao ponto.
e ela sempre pedia quase cru.
ele sempre pedia a cerveja estupidamente gelada.
ele sempre pedia batata "daquelas que vocês têm, fritas, mas fofinhas, sabe?"
ela sempre pedia meia porção de arroz.
ele sempre pedia para ela não falar tão alto no celular na mesa.
ela sempre pedia para ele não ficar assistindo o futebol na tv do bar.
ele sempre pedia o café com adoçante.
e ela sempre pedia a sobremesa com uma bola de sorvete.
ele sempre deixava a gorjeta no cartão.
ela sempre deixava na mesa, em moedas.

ele sempre pedia para ela escolher o restaurante.
e ela sempre escolhia o favorito dele.

horas depois, o pai comentou baixinho com o filho mais mais velho--para a mulher não escutar: "é, o lamartine babo caprichou."

ele acordou, olhou para o espelho e, ainda sem as lentes de contato-- não conseguia enxergar o tamanho do estrago. com um olho roxo fechado, dois dentes quebrados e um queixo ralado com sangue seco-- ele, definitivamente deveria pensar duas vezes antes de sair de casa.

passou pela cozinha no momento em que a sua mãe saía com um jarro de suco de laranja. ela olhou para o rosto dele-- o filho mais novo-- e colocou uma das mãos na boca. e com isso, o jarro estourou de encontro a chão. o pai largou o jornal, o irmão mais velho estacionou a torrada no canto da boca. e a empregada, que vivia com eles desde que ele tinha 2 anos de idade começou a soluçar. todos, ficaram a espera de qualquer explicação. o que tinha acontecido com ele!? assim mesmo com exclamação seguida de ponto de interrogação.

ele apanhou um copo de leite na mesa. deu dois goles, o segundo, ele devolveu para o copo, pois estava gelado e irritava os dentes quebrados. ele então começou a falar, com um pouco de dificuldade para formar as palavras. contou que tinha assistido o jogo do flamengo no bar perto de casa. contou que após a vitória do flamengo ele ficou para mais quatro rodadas. contou que depois voltou andando para a casa cantarolando o hino do time. contou que cruzou com a torcida do time adversário que acabara de ser derrotado pelo flamengo.

nesse exato instante o pai perguntou:
- mas você não estava com a camisa do flamengo não é?

e ele:
- não, não estava. mas estava cantando o hino do mengão.

e o pai:
- mas se você estava cantando e viu eles se aproximarem na sua direção, era só parar de cantar. era só parar de cantar!!

e ele, com um dos olhos fechados, completamente inchado disse enquanto buscava no jornal deitado sobre a mesa-- a notícia da vitória do mengão:
- não dava. no exato momento que eles se aproximavam-- era precisamente-- a parte mais bonita do hino.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

lembra?

dois amigos, na casa dos 60 conversam sentados no calçadão do leblon.
é sol, quase 35º. um deles tenta estalar o dedão do pé contra o chão de pedras portuguesas e puxa uma conversa:

- lindas.
- lindas.
- todas elas.
- quase todas.
- quase.
- lembra como era complicado ver tanto corpo descoberto assim?
- era mais emocionante.
- sim. mais emocionante. eu já cheguei até a comemorar quando vi certa vez as costas de uma menina. ver uma perna inteira então?
- como mudou. não vejo alguém de maiô desde de... de... sei lá.
- será que esses jovens tem noção como era complicado ver um corpo assim, quase nú?
- acho que não. aqueles dois alí ó, não tiram o olho do celular.
- tem razão. tem razão.
- lindas.
- lindas.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

a tv de tela plana de 32" com som estéreo dolby surround ou ela.


ela chega em casa um pouco apressada, corre para o banheiro da sala e ao retornar, respira fundo-- e pergunta-- para o marido. que de longe se vira para responder:

- mário?
- ana lúcia?
- só queria ter certeza.
- certeza?
- sim, certeza. de você, da gente. da sua e da nossa existência.
- mas que papo estranho.
- é que a caminho de casa um sujeito interessante deu em cima de mim.
- de você?
- porque? você acha que eu não sou digna de uma cantada?
- não foi isso que eu quis dizer. estava apenas oferecendo um comentário para servir de transição nesta conversa.
- jura? jura que você acha que eu sou digna de uma cantada?
- claro, meu amor. mas você ficou tentada?
- tentada, tentada, não. a minha primeira reação foi apertar o passo. mas acho que o fato de eu estar com a bexiga cheia influenciou nesta minha reação. eu apertei o passo para casa. mais pelo xixi do que pelo assédio. que até foi simpático.
- simpático? como?
- ele me chamou de gostosa, gostosa não, tesuda. e fez com as duas mãos abertas aquele símbolo quase universal de volume. de peitões sabe? quando você coloca as duas mãos na frente do próprio peito, mas com uns dois palmos de distância para exagerar na descrição do tamanho dos seios de uma mulher.
- porra ana lúcia, simpático? puta cara grosseiro.
- porque, você não acha os meus seios fartos?
- sim, sim, acho. mas isso não vem ao caso. você recebe uma cantada e fica assim, toda boba. que estranho.
[silêncio]
[silêncio]
- (ela suspira e diz baixinho) atenção. acho que foi isso. a atenção me fez bem.

naquela mesma noite, enquanto ela dormia, ele ligou para a tv cabo e pediu para mocinha simpática que atendeu do outro lado para cancelar o pacote do campeonato paulista de futebol e do brasileirão com aqueles jogos extras em multicanais, de terça a domingo. cancelou também o pacote do campeonato italiano, o espanhol, e o inglês. o alemão não, porque o alemão só passava uma vez por semana, e o time que ele gostava, o fortuna dusseldorf -- não tinha lá os seus jogos televisionados com tanta assiduidade.

domingo, fevereiro 07, 2010

e uns 12 anos depois, ele reencontrou ela-- coberta de sol numa praia perfeita: com muito sol, e ambulante vendendo mate em latão e biscoito globo.


ele se aproximou dela e disse:
- eu... eu não te conheço de algum lugar?
e ela, enquanto ajeitava a tira da parte de baixo do biquini-- disse por de trás dos óculos escuros:
- mas... essa cantada é muito velha.
e ele, coçando a base da nuca e com um pouco de vergonha diz:
- não é uma cantada. eu te conheço. de 1998.

"uma dose de sobriedade, por favor."

ele entrou no bar com cara de poucos amigos e disse para o bartender:
- o de sempre.
o bartender disse em alto em bom tom:
- vai tomar no cu! seu bosta. seu filho da puta!
e ele comentou-- com uma cara de alívio:
- obrigado. fiz tanta merda hoje que estava precisando disso. até amanhã.

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

reza a lenda que ele passou o resto da vida sem conseguir decifrar como funcionava a cabeça dela.


ele se vira para ela, na cama, antes de desligar a luz da mesa de cabeceira e pergunta:
- se você pudesse escolher um poder...
- poder?
- um super-poder.
- lasanha verde.
- lasanha verde?
- sim, saber fazer uma.
- mas isso não requer nenhum superpoder.
- sem queimar a casquinha da primeira camada, sim.
- raio laser, visão raio-x, esqueleto de adamantium?
- lasanha verde sem queimar a casquinha da primeira camada.
- hiper mega ultra velocidade?
- casquinha.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Pequenos diálogos no shopping 2




- amor, fala alguma coisa, esse casal de adolescentes da fileira de trás não pára de sussurrar. Assim eu não vou conseguir assistir o filme.

- mô, fala alguma coisa. Esse casal de coroas da fileira da frente não pára de sussurrar. Assim eu não vou conseguir assistir o filme.

Pequenos diálogos no shopping



- amor, você está olhando para a bunda da vendedora?
- não, estou olhando para os tornozelos. Para os tornozelos... pode?
- sim, para os tornozelos, sim. Mas ai se eu pegar você com um olho naquela bunda!
- para a batata da perna dela, pode?
- para a batata da perna dela, pode.

domingo, janeiro 31, 2010

ele tinha um caso com a melhor amiga da namorada dele.

ela pára o beijo e comenta baixinho-- segurando o queixo dele com o indicador e o polegar:

- quando você beija, você coloca muito a língua.
- mas não é assim que se faz?
- eu prefiro mais delicado.
- sem língua?
- com pouca.
- assim?
- [silêncio]
- [silêncio]
- menos.
- assim?
- assim.
- é, assim não é ruim.
- não.
- é mesmo melhor. muito melhor.
- mas... um favor..
- o que?
- só não esquece de como se beija da outra maneira.
- mas... você não gosta.
- mas a sua namorada, sim.

caprichou tanto mas tanto na protagonista do próprio livro, que não conseguia imaginar dividir ela com mais ninguém.

-fim-

e depois que ele terminou a última linha do romance, entrou em profunda depressão.
afinal, nunca mais iria digitar as características de maria, a heroína do seu livro.
por falar nisso, nunca mais digitaria o nome dela seguido de exclamações, interrogações, vírgulas e pontos finais.

ele ficou olhando para o calhamaço com as quatrocentas e tal páginas, deu um gole farto no vinho tinto e lançou a única cópia do livro na lareira. ele iria recomeçar a escrever o livro. tudo de novo. pois só assim para imaginar sua heroína novamente. essa era a única maneira de conviver com ela por mais algum tempo. antes de dividir a mulher mais perfeita que jamais imaginou-- com milhares de leitores.

sua editora teria que esperar mais um pouco. aquela era a quarta vez que ele reiniciava o mesmo livro-- na máquina de escrever que herdara do pai.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

a coluna de despedida do destak.

uma das coisas mais bacanas que aconteceram desde que eu cheguei a lisboa foi a coluna semanal que eu escrevia no destak. escrevia, assim mesmo no passado, pois já não escrevo mais. foram quase três anos de colunas. mais de 100 se não me engano. cada uma com uma dica nova ou observação de um lugar no mínimo curioso. as vezes era um restaurante desconhecido. as vezes um restaurante conhecido, mas que eu tentava de alguma maneira descobrir um prato novo. muitas vezes a coluna era sobre uma cidade longe de tudo, as vezes sobre uma cidade perto, mas que por algum motivo não tinha lá o protagonismo merecido num guia de viagens.

bom, a coluna também foi uma maneira de conhecer a cidade de uma maneira interessante. pois me forçava a prestar mais atenção nas coisas. com a coluna passei a gostar ainda mais de lisboa. e ficava feliz sempre que algum lugar mencionado na coluna ganhava um pouquinho mais de atencão do público.

enfim, essa foi a coluna de despedida. saiu no finalzinho de dezembro do ano passado.
acho que tem uma ou outra que eu não consegui colocar aqui no blog. mas assim que der, eu faço o update.

sábado, janeiro 23, 2010

a nova geração. ou "o namoro 2.0 também tem que funcionar! caráio!!"-- pensou ela.

ela acaba o namoro com ele e como primeiro motivo diz:
- você parou de me seguir no twitter.
e ele responde de bate pronto:
- você nunca seguiu o meu blog.
e ela com um dedo apontado para a tela do macbook que está sobre o criado mudo diz:
- você nunca me chama para conversar no msn.
ao ouvir isto ele responde como quem já tivesse uma resposta na ponta da língua:
- e você sempre responde as minhas mensagens de 'sms' com "tb!", "Ok!", "Bj!"
ela grita:
- "também!" , "OK! e "beijo!", porra. você não sabe?! e você que nunca deixou comentários no meu flickr!!
ele respira fundo e resmunga:
- no facebook, você nunca tag uma foto minha!!! nenhuma foto em que estou ao seu lado!
e ela:
- nunca chegou o seu invitation para eu entrar no seu LinkedIN!!!??

ficaram em silêncio. e cada um seguiu para um lado. acabaram um namoro de 4 anos em que se comunicavam com perfeição-- porque não faziam o mesmo no mundo virtual.

"eu quero!! é meu!!"

os irmãos eram unidos.
seis. sempre os seis.
faziam tudo juntos.
sempre.
os meninos e as meninas.
um defendia sempre o outro.
o bairro todo conhecia aquela família.
na escola também. cada um, um ano na frente do outro.
uma escadinha perfeita.

até o dia que o pai trouxe uma caixa de bombons sortidos "garoto" para casa.
na caixa só vinham 4 "sonhos de valsa". apenas 4!

sintomas da noite anterior.

enquanto cata a remela do olho direito com o indicador, ele cutuca o ombro dela (que está de costas para ele na cama) -- com a mão esquerda e pergunta, baixinho:

- ana?
- maria.
- descul.. maria?
- oi?
- abro a cortina ou quer passar o sábado assim, sem saber ao certo as horas, o tempo lá fora...
- deixa assim. eu não gostaria que você me visse assim, já sem maquiagem, o vestido, enfim, aquela produção toda que eu estava ontem a noite quando nos encontramos.
- você tem razão. eu também não gostaria que você me visse assim, já sem a vodka tonic, as três taças de champagne, enfim, aquela combinação toda que você estava e ajudou na percepção que você teve de mim, ao me ver naquela festa.
- cortinas fechadas.
- cortinas fechadas.

domingo, janeiro 17, 2010

a conversa.

- pai?
- oi?
- de onde viemos?
- sério meu filhinho? você quer ter essa conversa hoje?
- mas, mas existe dia certo para perguntar isso?
- porra meu filho, puta conversa complicada. acabei de sair de uma reunião, olha o trânsito como está horrível. estou com uma dor de cabeça e a espera de uma ligação de um cliente. será que dá para segurar esse papo uns dias?
- só se você prometer...
- o que?
- contar a versão que envolve sacanagem.
- oi?

sexta-feira, janeiro 15, 2010

a caixa completa.

depois de três dias resistindo-- ele finalmente ia ceder a tentação-- e iria ligar para a ex-namorada. a mesma que ele chamou de filha da puta repetidamente depois de descobrir que ela havia traído ele com o amigo da aula de ciências exatas da faculdade.
era a sexta vez que esta cena se repetia. ela sempre destroçava o coração dele e ele voltava.

ele pegou o telefone e com três botões-- chegou no nome dela. e quando ia apertar o quarto botão, o do 'ok'-- o amigo que observava aquele acidente de perto-- largou tudo e agarrou o telefone celular da mão dele. o amigo fechou um dos olhos como se o sol estivesse incomodando a vista e disse com uma certa decisão:

- por favor-- pensa duas vezes antes de ligar.
- mas...
- cara, ela é uma filha da puta. não faça isso.
- mas é que...
- eu sei, você ama ela.. mas é sempre a mesma coisa. eu não quero ver você sofrendo. porra cara, a minha mulher diz que as amigas dela têm pena de você.
- mas você não sabe que...
- não liga.. não liga...
- mas pô você não me deixa...
- o que? não deixo o que? não deixo você tentar me convencer que ela não é uma vagabunda?
- caralho!!! porra me escuta!!!
- vai, diz seu bosta.
- ela... ela... ficou com a minha caixa completa... com todas as temporadas do seinfeld.
- a caixa completa? liga para essa filha da puta!

quarta-feira, janeiro 13, 2010

"não tenho certeza, mas acho que o seu filho viu tudo."



- mãe?
- oi?
- qual é o nome daquele moço que estava no seu quarto mesmo?
- ninguém. filhinho.
- vou falar sobre esse assunto com o papai então.

(silencio)
(silencio)

- filho?
- oi?
- qual é o nome daquele videogame que você queria ter para o seu quarto mesmo?
- um  xbox. mamãe.
- vou falar sobre esse assunto com o seu pai então.

ela não conseguia parar de pensar naquilo. e por isso não conseguia mais pensar nele.



duas amigas conversam baixinho num café. não chove lá fora. mas, mais tarde a previsão promete chover para caráio. o diálogo das duas que segue é testemunhado por uma garçonete-- assim mesmo-- já pela metade enquanto ela (a garçonete) serve leite quase quente sobre um café quase frio para a mulher que faz a primeira pergunta.

- mas você ama ele?
- amo.
- então qual é o problema?
- ouvido.
- ouvido?
- sim, o ouvido dele.
- o que tem o ouvido dele?
- tem um tufo de cabelo escuro e denso lá no meio.
- porque você não diz isso pra ele.
- vergonha. Você sabe como eu sou tímida.
- ué, fala baixinho no ouvido dele.
- mas tem um tufo de cabelo escuro e denso lá no meio.
- (silêncio)
- (silencio)
- é, um tufo é um tufo.
- meio desgrenhado... sabe?

e a garçonete termina de servir o leite, se afasta da mesa e nunca conseguiu descobrir o desfecho daquele drama que assolava aquela mulher. o tufo. qual era o o tamanho exato dele? dava para ver de longe? ou apenas de perto? o namorado dela sabia que ele tinha um tufo? ela ia acabar com ele por causa de um tufo? bom, a mesa ao pé do balcão chamava ela.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Proibido e por isso mais interessante. Era o plano dele. E funcionava sempre.


- oi?
- oi.
- você é nova no prédio?
- Me mudei ontem. E você?
- moro aqui desde 1987. Mas amanhā vou começar a procurar um apartamento novo.
- porque? Algum problema com o prédio?
- nenhum.
- então porque você vai se mudar depois de tanto tempo?
- porque você se mudou para cá.
- mas o que...
- linda. Você é muito...
- obrigada. Mas...
- casado. Eu sou casado.
- ok, mas...
- eu nunca tive uma vizinha que fosse tão gostosa quanto você. E pior. Vizinha de porta.
- mas quem disse que eu vou querer alguma coisa com você?
- minha mulher.
- mas eu não vou.
-mas para ela não importa.
- mas para mim sim.
- se ela cismar que estamos tendo um caso então nós estamos tendo um caso.
- e não tem o que você pode dizer que...
- ela vai ter sempre a certeza que eu estou tendo um caso com você.
- mas...
- linda. Você é muito linda. Conheço ela. Se eu me mexer muito na cama vai achar que estou pensando em você.
- mas ela sempre foi assim?
- é a situação. Na porta ao lado. O seu biotipo.
- o que tem o meu biotipo?
- é perfeito.
- e tem o ciúmes dela?
- o que tem...
- é doente.
- sempre?
- não. Casos especiais.
- e eu...
- você é o mais especial.
- (silêncio)
- (silêncio)
- então se é inevitável...
- inevitável.
- Cadê ela agora?
- trabalho.
- você...
- o que?
- quer conhecer o meu apartamento?
- você está me convidando para...
- rápido. Antes que ela chegue.

sim.



com a boca ainda cheia do pão do couvert ele dá um gole grande no vinho da casa.
ele coça o nariz e pergunta para ela-- ainda de boca cheia e com um olho no jogo que passava no LCD do restaurante:

- você quer casar comigo?
- (silencio)
- (silencio)
- (silencio)
- (silencio)
- não.
- mas porque não?
- porque não.
- mas achava que você queria tanto.
- sim, mas esperei muito tempo.
- seis anos?
- sete. não, quase oito.
- então é "não", "não" é a sua resposta final?
- sim.
- mas você não está fazendo isso para se vingar de mim, não né?
- um pouco.
- mas a gente vai continuar namorando?
- talvez.
- talvez?
- sim, talvez.
- mas como é que eu vou ficar com você assim com essa indecisão toda?
- viu como é ruim?

quinta-feira, dezembro 31, 2009

água no uísque.





- água no uísque.
- o que você quer dizer com água no uísque?
- quando eu era mais nova. acho que tinha uns 17-- eu tinha um namorado que sempre que ficávamos sozinhos na casa do meu pai-- ele colocava água no uísque 25 anos escocês do bar da casa do meu pai.
- mas todo mundo coloca água no uísque. agua mineral, com gás...
- me expliquei errado. primeiro ele, esse meu namorado bebia uma pequena dose do uísque 25 anos-- depois ele acrescentava água na garrafa do uísque para o meu pai não perceber que o nível do líquido da garrafa tinha alterado.
- entendi, água no uísque.
- mas a estratégia da água no uísque tem um ponto sem volta. uma gota de água que quando acrescentada, fode todo o esquema, quando já é impossível pretender que o conteúdo da garrafa ainda é uísque.
- mas isso é óbvio.
- não para dois adolescentes que faziam isso ocasionalmente-- e quase sempre alternando em diferentes garrafas.
- esse seu namoradinho bebia muito?
- um pouco mais que você. mas isso não vem ao caso agora. enfim, chegou o dia que meu pai ao servir o seu querido uísque para um convidado-- que bebia sem gelo ou mesmo água mineral-- e foi aí que deu uma merda generalizada.
- seu pai descobriu na hora?
- o convidado. sem graça-- comentou com o meu pai que o uísque estava aguado. bom, água no uísque. a gente deveria ter feito isso apenas algumas vezes. e variado ainda mais as garrafas. chegamos cedo demais naquilo que os americanos chama de point of no return.
- um ponto sem volta?
- isso. poderíamos ter enganado o paladar do meu pai que só tomava o seu uísque com muito gelo-- por mais algum tempo. mas meu namorado era preguiçoso e não variava as garrafas como deveria e ele descobriu.
- água no uísque.
- água no uísque.
- mas porque esse assunto mesmo?
- você cometeu o mesmo erro.
- eu??!
- sim. há um tempo que você deve estar me traíndo.
- mas... mas que isso meu amor.
- e aqui em casa, seu filho da puta!
- mas, mas...
- sempre que eu viajo a trabalho você aproveita para trazer essa vagabunda aqui em casa.
- mas como você...
- água no uísque. mulher conhece mulher. sabe a importância que uma mulher dá para o seu cabelo.
- e...
- meu shampoo francês e meu condicionador alemão.
- o que é que...
- essa vagabunda quando dormiu aqui usou o meu shampoo e meu condicionador e depois para que eu não notasse, adicionou um pouco de água. mas ela foi preguiçosa. porque eu tenho mais de oito embalagens espalhadas pelo banheiro. mas ela focou naquelas duas. pelos meus cálculos-- minutos antes--enquanto eu tentava lavar o meu cabelo... você trouxe essa mulher aqui para casa umas 4 vezes!! seu filho da puta. não quero mais te ver aqui quando voltar hoje a noite.
- (ele fechou os olhos e disse bem baixinho, com um misto de raiva e arrependimento) água no uísque!!

segunda-feira, dezembro 28, 2009

25

instantes antes da ceia do dia 24.
ele dá um gole grande no vinho tinto. mas não engole de primeira. joga o líquido para uma das bochechas por um segundo antes. ele então olha para ela com a cabeça um pouco inclinada para baixo, como se olhasse por debaixo das próprias sobrancelhas:

- pequena?
- oi.
- amor, eu,bom... eu não comprei nenhum presente para você neste natal.
- tudo bem.
- tudo bem?
- eu também não comprei.
- você sabia que eu não tinha comprado?
- não.
- então porque você não...
- porque o shopping estava lotado.
- e os estacionamentos cheios.
- as filas na lojas gigantescas.
- e os produtos bons...
- já estavam em falta?
- isso.
- [silêncio]
- [silêncio]
- [silêncio]
- mas também tem outra coisa.
- o que?
- eu sabia que ia acordar amanhã ainda com você.
- amanhã
- isso, dia 25. é...acho muito estranho esse negócio de que tem que ser no dia 24. uma obrigação que todos parecem sentir. uma obrigação coletiva. basta notar a troca de olhares silenciosos nas lojas. todos aflitos para chegar em casa no dia 24 com qualquer presente. qualquer um. e tem que ser até aquele dia. até aquele dia ou nehum outro vale. (pausa) essa sensação que todos têm de que o mundo está acabando e que se eu não comprar o presente até o dia 24-- eu sou de alguma maneira--uma pior pessoa. (ela pausa, cata uma uva-passa que tenta escapar da massa do panetone e continua)...porque eu tenho certeza que se a gente se levantar da cama amanhã pela manhã, no dia 25-- e espreitar pela janela-- o mundo ainda estará lá, as ruas estarão lá, a padaria da esquina estará aberta. e o mais importante, eu gostarei de você tanto quanto hoje, a véspera do dia 25. posso comprar o seu presente depois. com calma. com tempo. com carinho. posso buscar aquela coisa que eu sei que só você poderia gostar. e que vai ficar feliz como nenhuma outra pessoa ao receber. por isso.
- [silêncio]
- e você, não comprou porque?
-(ele enche a boca com uma garfada farta de arroz, farofa e perú recheado e diz) - preguiça?



quinta-feira, dezembro 24, 2009

uma das leis universais.



casal está assistindo tv. ele olha para a tv e uma revista quase velha dessas de gadgets-- ao mesmo tempo. ela dá uma mordida num bagel e alcança uma vogue que estava sobre a mesa de centro. ela inicia um diálogo.

- amor?
- oi?
- porque o controle remoto sempre fica com você?
- porque a razão sempre fica com você.
- razão?
- sim, sempre que temos uma discussão, por mais pequena que seja... você tem a razão. sempre. o mínimo que eu posso ter é o controle remoto.
- (silêncio)
- (silêncio)
- (silêncio)
- (silêncio)
- será que é assim com todos os casais do mundo?
- acho que sim. acho que sim. é uma daquelas leis universais.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

nomes. e a troca. a pior delas.

sentado na mesa do café da manhã, artur não sabia. mas estava prestes a fazer algo que se arrependeria para o resto da sua vida.
alí, com uma torrada mergulhada em manteiga enterrada na boca, e com um olho deitado sobre o caderno de esportes do jornal-- artur olhou de relance para o cachorro que passou por ele e disse:
- toby! vem cá toby! hoje eu te dou um pedaço da torrada.

naquele exato instante-- do outro lado da mesa, sua mulher largou o copo de leite-- que quebrou ao estourar sobre o chão. ao ver a cena, ele, artur, respirou fundo, fechou os dois olhos com muita muita força. e fez aquela expressão de quem assume que fez algo completamente errado.

ao abrir os olhos, sua mulher já tinha a mão em punho fechado sobre a boca. e enquanto ela segurava o choro de raiva ele chegou a conclusão da merda que tinha feito.

sim, porque trocar o nome da mulher pelo de outra, significa que você pode estar tendo um caso, ou simplesmente lembrou de uma ex-namorada.
mas ele sabia que ao chamar-- com toda aquela naturalidade-- o cão com outro nome, aquilo sim, significava que ele não estava tendo um caso. mas sim, que tinha uma outra família.
porque niguém, niguém chama duas vezes um cão de toby daquele jeito sem ter uma intimidade e um carinho com um cão com aquele nome. e um cão que já esteve naquela situação. ao pé da mesa do café da manhã numa manhã como aquela.

e enquanto o catarro dela ameaçava descer para a boca e a raiva explodir, ela teve a certeza de que todas aquelas viagens à negócios eram na verdade viagens à família.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

os finais



mulher inicia diálogo com o marido após os créditos do filme começam a subir pela tela.

- amor? você gostou do filme?
- gostei, só não gostei muito foi do final.
- mas o final foi feliz.
- esse é o problema.
- você sabia que ele ia pedir ela em casamento no final?
- não. mas sabia que ia ser feliz.
- mas qual é o problema?
- ué, a vida não é só feita de finais felizes.
- (silêncio)
- agora mesmo, você está pensando no que eu acabei de dizer e tenho certeza que se lembrou de vários momentos que poderiam ter acabado melhor no seu dia. na semana. enfim, na vida...

- (silêncio)

- desculpe a dose de realidade. mas é que, a sandra bullock só existe no cinema. (e ao falar esta última frase-- ele de repente nota, lá de longe, a unha do dedão do seu pé direito. gigante e quebrada na ponta-- que lá do fim da cama observava aquela conversa. e da unha não cortada, ele passa a observar a perna branca e um tanto flácida-- que ele prometera para ela que exercitaria na academia. da perna ele passa para a barriga dele, que alí, dobrada naquela posição na cama, parecia ter quase 10 quilos a mais do que quando eles se casaram. ele então inspira fundo e chega rapidamente a conclusão da importância dos finais felizes para a vida e o bem estar do universo. ele enche uma mão de pipoca, se vira para a mulher e diz:

pensando bem. adorei o filme. especialmente o final.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

jornal e o adolescente



- eu não entendo porque você lê o jornal assim, num domingo quase três da tarde-- quando já sabe tudo o que aconteceu no mundo.

- meu filho, rotina, faz parte da minha rotina desde que eu tinha quase a sua idade.

- sei... acho que entendi.
- é mais ou menos como você com aquela sua namoradinha.
- como assim?
- você já sabe que ela vai te fazer de bobo, vai acabar com você, vai querer voltar, vai te dar uns perdidos... mas mesmo sabendo disso antes, você vai continuar vendo ela. rotina.
- (silêncio)
- (silêncio)
- e o flamengo hein pai? o que diz aí no jornal?

anestesia e a marca de batom.



- pedro, essa marca de batom! essa obturação nova! você me traiu com a dentista durante a consulta!!
- acho que você esta exagerando. afinal, eu não senti nada. (pausa) foram apenas uns beijos e eu estava com a boca anestesiada.