segunda-feira, fevereiro 15, 2010

horas depois, o pai comentou baixinho com o filho mais mais velho--para a mulher não escutar: "é, o lamartine babo caprichou."

ele acordou, olhou para o espelho e, ainda sem as lentes de contato-- não conseguia enxergar o tamanho do estrago. com um olho roxo fechado, dois dentes quebrados e um queixo ralado com sangue seco-- ele, definitivamente deveria pensar duas vezes antes de sair de casa.

passou pela cozinha no momento em que a sua mãe saía com um jarro de suco de laranja. ela olhou para o rosto dele-- o filho mais novo-- e colocou uma das mãos na boca. e com isso, o jarro estourou de encontro a chão. o pai largou o jornal, o irmão mais velho estacionou a torrada no canto da boca. e a empregada, que vivia com eles desde que ele tinha 2 anos de idade começou a soluçar. todos, ficaram a espera de qualquer explicação. o que tinha acontecido com ele!? assim mesmo com exclamação seguida de ponto de interrogação.

ele apanhou um copo de leite na mesa. deu dois goles, o segundo, ele devolveu para o copo, pois estava gelado e irritava os dentes quebrados. ele então começou a falar, com um pouco de dificuldade para formar as palavras. contou que tinha assistido o jogo do flamengo no bar perto de casa. contou que após a vitória do flamengo ele ficou para mais quatro rodadas. contou que depois voltou andando para a casa cantarolando o hino do time. contou que cruzou com a torcida do time adversário que acabara de ser derrotado pelo flamengo.

nesse exato instante o pai perguntou:
- mas você não estava com a camisa do flamengo não é?

e ele:
- não, não estava. mas estava cantando o hino do mengão.

e o pai:
- mas se você estava cantando e viu eles se aproximarem na sua direção, era só parar de cantar. era só parar de cantar!!

e ele, com um dos olhos fechados, completamente inchado disse enquanto buscava no jornal deitado sobre a mesa-- a notícia da vitória do mengão:
- não dava. no exato momento que eles se aproximavam-- era precisamente-- a parte mais bonita do hino.

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