sexta-feira, fevereiro 23, 2007

o enroladinho de carne suspeito e o arroz "veja bem" num posto no meio da estrada.

se você já dirigiu o seu carro durante oito horas numa viagem sabe que precisa parar. seja para tirar a água do joelho, seja para comprar um red bull para recarregar as baterias. e sabe também que se a viagem começou oito da matina, lá pelas 14 horas, vai estar com uma fome insana. barrinhas de cereais evaporam no primeiro contato com a sua boca, biscoitos seguem o mesmo destino. você precisa de comida. e é aí que entram os postos suspeitos. descendo a dutra, aquela estrada sem fim que liga o rio a são paulo, você passa por uns 72 postos de gasolina. e, com cada um deles, você ganha de brinde um restaurante. churrascaria las pampas do sul, churrascaria meu garoto, churrascaria guri, rodízio com cheque para 30 dias, comida da fazenda da vovó a kilo. tem de tudo. alguns com a tinta exterior descascando, outros com erros de português, e todos com um ar de comida caseira. aquela que você come alí e vai sentir o estrago em casa. mas a fome é braba, e você tem que comer. é um fato. é alí, com o velocímetro do seu carro marcando 120 km/h, e com aquelas churrascarias desfilando pela janela do seu carro, que você tem que decidir. acelero para tentar chegar na cidade antes? mas a dutra não acaba, a dutra não tem fim. e a resposta é óbvia, você vai ter que enfrentar uma churrascaria de estrada. um restaurante que jura ter uma comida igual a da sua querida avó. e como a fome toma conta de você, o carro começa a desacelerar. a fome é que toma as decisões a partir de agora. o carro pára. você sai, se comportando como um zumbi desses de filmes de terror preto e branco que passam quatro da matina no telecine action. churrascaria meu guri. aqui eles têm maminha? sim. picanha, fraldinha, alcatra? sim. setenta e duas guarnições. um enroladinho de carne suspeito com uma tira gorda e branca de bacon e um arroz "veja bem, não sei se é carreteiro ou biro-biro, vou perguntar para o gerente..." e lá vai você, com a fome, a cara e a coragem. você reza antes, mesmo não sendo religioso. respira fundo e mastiga com força para ajudar a matar qualquer objeto não identificado. e, para a sua surpresa, a comida é gostosa, saborosa. com fome, meu amigo, casca de pão plus-vita é saborosa. pão com meia colher de maionese light é saboroso. biscoito de água e sal acompanhado com um copo de água é saboroso. e você raspa o prato, mata a fêla da pulta da fome de porrada e segue em frente. você foi corajoso rapaz. não é todo mundo que soca o estômago com arroz "veja bem". não, a maioria teria continuado na estrada com fome. e, enquanto você sai com o carro, vê pelo retrovisor, um outro automóvel de família. com a seta ligada, entrando no mesmo restaurante que você acabara de comer. no volante está o marido com um terço na mão rezando em voz alta e ao lado, a esposa, chorando no celular se despedindo, dando adeus para os filhos. a o enroladinho de carne suspeito e o arroz "veja bem" num posto no meio da estrada. você ainda vai encarar os dois.

Nenhum comentário: