quarta-feira, janeiro 17, 2007

o sujeito que tira a catota no trânsito.

hoje, a caminho da firma enquanto pescava cds no chão no banco do carona, flagrei um sujeito limpando o salão. catando catota. libertando a verdinha. explorando os canais da narina. lustrando a escuridão do canal da mancha. com uma calma e uma delicadeza de quem achava que estava em casa. e não cercado de centenas de carros. se o fêla tivesse um carro com insulfim 100% preto, beleza. 90% preto, ok. 80% preto, veja bem. 70% preto, é, acho que aquele sujeito ali está tirando uma meleca. agora, o vidro do cara estava aberto. aberto. e ele não estava tirando uma lasquinha de meleca da ponta do nariz. estava escavando serra pelada na busca de uma pepita. uma pedra preciosa. e, como o trânsito não andava, o fêla continuava. meleca teimosa. trinta, quarenta, cinquenta segundos com o dedo indicador enterrado até a primeira falange. gira para a direita. gira para a esquerda e nada de liberar a catota. o sinal abre, e o sujeito finalmente tira o dedo lá de dentro. não, ele não come. mas dá uns petelecos como se jogasse a teimosinha para a vida. como se libertasse ela de vez: "vai, vai viver, explorar esse mundo, sua meleca. você está livre..." depois raspou a ponta do dedo na camisa. como quem limpa uma pá de cocô de cachorro depois de usada. os carros começaram a se mover com uma certa rapidez até. ele abraçou o volante com as duas mãos, abriu e fechou as narinas e partiu. o sujeito que tira catota no trânsito. num belo dia, preso entre um caminhão de lixo e um taxi, com um motoboy metralhando a buzina para passar, você vai encontrar o fêla. com o dedo nervoso. sem nenhuma vergonha. e sem insulfilm. ele caga para as convenções da sociedade. o que importa é o salão limpo, lustrado, brilhando. só fique esperto para ele não petelecar uma na sua direção.

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