sábado. os créditos de "about a boy" com o hugh grant, estão subindo pela tela da tv. os dois estão na sala. ela com meias. ele com o cobertor enrolado no pé. ela tentando tirar uma lasca de pipoca do dente de trás-- tentando não fazer muito barulho. ele dá um último gole numa taça de vinho, acho que é periquita. ele, meio comovido, ou pelo menos inspirado pelo filme, se vira para o lado e diz uma frase daquelas que ou toda mulher gosta de escutar ou odeia. não existe meio termo. mas o fêla, bom, ele diz a tal frase meio sem abrir muito a boca. apesar da importância e do peso da frase, ele diz como quem diz que prefere pão de forma sem casca do que com. ela pára de buscar a lasca de pipoca com a ponta da língua e presta atenção no que ele diz. faz isso olhando para a boca dele como quem lê lábios. por dois motivos: ele fala baixo. o controle remoto está perdido em algum lugar e ela não consegue abaixar o volume da tv. (pensando bem, com a trilha sonora relativamente emocionante, ela não se importa no volume da tv. ela presta atenção nos lábios dele porque ele nunca começou uma conversa com uma frase destas. nunca. e olha que eles estão juntos desde a véspera da final da copa de 2002.)....
ele:
- então você me ama.
ela:
- essa é uma pergunta ou uma afirmação?
ele:
- como assim, você não sabe dizer?
ela:
- essa última frase, por exemplo, consigo ver, enxergar a interrogação, na primeira não ficou muito claro. não sei ao certo se você sabe que eu te amo e está feliz por isso. ou, não sabe e está com dúvida sobre o nosso relacionamento.
ele:
- o que você acha?
ela:
- que você me ama, "né." e que eu também te amo, "né"?
ele:
- bom, o "né" fudeu a sua resposta.
ela:
- o "né"?
ele:
- é, o "né" é o maior símbolo de insegurança do mundo.
ela:
- "né" é um jeitinho meigo de terminar a frase... é que, agora que você levantou o assunto... eu também queria saber...
ele:
- que eu te amo? queria saber se eu te amo?
ela:
- é, quanto.
ele:
- mas não dá para quantificar. não é matemática. é... é..
ela:
- é o que?
ele:
- feeling... é um feeling.
ela:
- bom, agora foi você que fudeu a sua resposta.
ele:
- como assim?
ela:
- "feeling"? puta respostinha mais ou menos.
ele:
- "feeling". "feeling" é "feeling" caralho.
ela:
- não fala de novo não, que já cortou o tesão.
ele:
- "feeling".
ela:
- caralho, você está querendo me irritar "né"?
ele:
- "né"?
ela:
- o meu "né" é bem mais aceitável do que o seu "feeling".
ele:
- desculpe foi só um...
ela:
- pelo amor de deus, fale qualquer coisa, só não diga esta palavra...
ele:
- desculpe foi só um feeling que eu tive.
ela:
- babaca. você faz de propósito "né"?
ele:
- então você me ama.
ela:
- essa é uma pergunta ou uma afirmação?
bela. a menina que se achava feia.
-
bela nasceu com um nome que descrevia seu rosto, sua pele, sua
personalidade. enfim, bastava bela se apresentar para todos entenderem quem
era ela. "bela, ...
Há 15 anos
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