terça-feira, julho 29, 2008

------ à distância.



ele era um voyeur. pela definição da palavra, ele era sim um voyeur. mas não um voyeur daqueles que espiam tudo e todas. ele tinha um foco. apenas uma pessoa. uma vizinha. ele não se importava com o casal do apartamento do andar de baixo-- que gostava de andar sem roupas pela casa. do outro lado da rua, ele só tinha olhos para ela. para a janela do quarto dela. e ele não se sentia culpado. ela não tinha cortinas. o que o levava a pensar que sim, ela sabia que estava sendo observada. ela tinha o costume de andar pelo quarto nua-- apenas com a toalha enrolada na cabeça. "loira? morena? ruiva?" ele não sabia a resposta. mas sabia que ela era especial. tinha o corpo perfeito. certa vez ao sair do banho, ela andou na direção da janela e ficou ali olhando lá para o outro lado, como se soubesse. outra vez, após o banho, ela andou pelo quarto nua, por quase 15 minutos agarrada a um telefone sem fio. e isso, com as luzes da mesinha de cabeceira-- devidamente acesas. ela sabia, ele tinha quase certeza. meses depois que esta relação separada por uma avenida começou, ele comprou uma luminária para o seu quarto. 60 watts de potência. a estratégia era relativamente simples: mais luz, mais reciprocidade. se ela continuasse a se trocar sem se preocupar, era sinal, ou quase uma prova de que ela sabia. e ela continuou. duzentos metros separavam ele do amor da sua vida. ele mudou o guarda roupa. cortou o cabelo num lugar da moda. perdeu peso. alguns amigos notaram. e com isso em mente, um casal de amigos o convidou para um "blind date". um encontro às escuras. o amigo convidou ele. e a mulher do amigo, convidou uma amiga, para um jantar. a idéia era apresentar um ao outro. a mais pura coincidência. ela, a mulher do outro lado da rua-- era a amiga que queriam apresentar. mas, infelizmente, como ela, agora, tinha um vasto cabelo loiro enquandrando o seu rosto-- ele não reconheceu. "não custa nada. parece simpática." pensou ele. bom, depois do "oi!" dela e do "oi." dele. depois de uma garrafa de vinho divida entre os 4. e mais uma-- dividida entre os dois homens. depois de duas horas de boa conversa, a mulher do amigo-- após voltar do banheiro com a amiga-- perguntou baixinho se ele estava interessado. e, para a surpresa dela, e depois, da amiga, todos ficaram sabendo que ele estava na verdade comprometido. "um namoro-------- à distância." ele revelou, sem dar muitos detalhes.

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