terça-feira, agosto 09, 2005

o torto e o álibi perfeito.

quando eu era moleque usava aparelho. aquele aparelho fixo de metal pesado. titânio. ferro. os dois juntos. andava com a cabeça baixa de tanto peso. foram cinco anos de aperta aqui, aperta alí. cinco anos de aparelho. "não se preocupa erick, sua arcada dentária vai ficar certinha." e eu sempre respondia com aquele sorriso. meio amarelo. meio prateado. aparelho é foda. dói pra cacete. dói para dormir. dói pra comer. dói para rir. dói. mas o tempo passou. e hoje, enquanto escovava os dentes. os dentes de baixo. a escova derrapou e saiu dos trilhos. é. um dos dentes debaixo desalinhou. com o tempo foi saindo do lugar. saiu tanto do lugar que a escova de dente agora tem que parar e escovar bem devagar para não pular pra fora da boca. tá torto. tortíssimo. "puta que pariu!" pensei de frente pro espelho com a boca espumando. de raiva. não de pasta de dente. vai tomar no cu. foram cinco anos de aparelho fixo torturando a minha boca! e agora entortou tudo de novo!? passei o dedo sobre os dentes mais uma vez só pra ter certeza. é. tá torto. tô puto. só me resta uma opção. é. vou caçar o cara nas páginas amarelas. quinze anos depois. vou marcar uma hora com o mesmo ortodontista. e, na hora que ele se virar pra pegar alguma ferramenta, vou sentar os dentes no braço dele. tirar um naco do braço do fêla da puta. com força. assim, além de infeccionar bastante, vou deixar marcas profundas. o que, se você pensar, é o crime perfeito. com o álibi perfeito. afinal, ele nunca poderá dizer pra polícia que eu já fui paciente dele. nunca vai poder me entregar. o cara não é maluco. se ele fizesse isso, perderia toda clientela. a minha arcada dentária com um dente torto, marcada no braço dele, seria a pior propaganda que ele poderia ter. tá fudido.

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