sexta-feira, junho 08, 2007

seu domingos.

não conheço o “seu domingos” para tratar ele assim-- com essa intimidade. mas é assim que ele se apresenta. seu domingos. sem frescuras. sem formalidades. o “seu” que precede o “domingos” já permite você entrar no restaurante dele com a impressão que frequenta o lugar desde quando ele era apenas domingos. o restaurante fica perto da praia do meco. não tem um luminoso na frente. as letrinhas pintadas numa tímida placa de madeira parecem ter sido obra do próprio seu domingos entre uma porção e outra de mariscos. mariscos, pequenos, médios e grandes. salada de ovas, de polvo, de lula, e caracóis. chopp gelado. pão fresco. imagine um balcão de madeira com um sujeito com os cabelos grisalhos penteados bem rente—atrás deste mesmo balcão. com uma camisa social com as mangas dobradas, as costeletas aparadas e um poster do sporting sobre a cabeça. este é o seu domingos. que desliza de um lado para o outro atendendo pedidos. na verdade ele finge que atende os pedidos. o que o seu domingos faz é distribuir a comida que pula do mar para a panela e da panela para as prateleiras que estão atrás dele. “marisco! quem pediu!?” e um sujeito olha pra os mariscos, olha para o seu domingos. o sujeito finge que pediu mariscos e o seu domingos finge que sabe que ele pediu mariscos. e, numa operação que flui com uma impressionante improvisação, as pessoas voltam para as mesas abraçadas a algum prato. qualquer prato. isso pode acontecer num restaurante em que todos os pratos, todos, são bons. ninguém reclama. ninguém briga. você convence o seu domingos com os olhos que aquela salada de polvo que acaba de sair é sua e ele te dá. o sujeito que disputa um espaço no balcão com você-- olha com uma cara de coitado e você cede a salada de polvo pra ele. e volta pra mesa com uma porção de lulas. tudo isso no meio de gritos, pedidos, chopps e mesas apinhadas de gente com areia da praia entre os dedos dos pés a espera de qualquer prato. horas depois, você mesmo limpa a mesa. você mesmo se encarrega de anotar o que a mesa consumiu. comenta, de passagem, com o seu domingos o que comeu e ele aponta com o canto da cabeça pra você pagar para mulher dele. o seu domingos é daqueles lugares que textinhos, relatos como esse não fazem justiça. é preciso ir. e ir de novo. mas vale sempre lembrar que o seu domingos, apesar do nome e de estar pertinho, pertinho da praia, bem, o seu domingos, não abre nunca aos domingos.

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