- pequena? o que é que você sente por mim?
quinta-feira, agosto 27, 2009
a madeleine peyroux
- pequena? o que é que você sente por mim?
de pai para filho.
o pai se aproxima do filho de 16 anos, coloca a mão no ombro dele e inicia uma conversa.
- (ele respira fundo, aperta o ombro do filho enquanto começa a falar, solta o ar e começa) nunca fale para uma mulher que ela está gorda quando ela perguntar para você. seja forte. resista a tentação de ser sincero, se este for o caso, se a mulher que perguntar-- estiver 5, 10, 15 kilos acima do peso, não dê um pio. sorria e diga que não. se ela estiver 500 gramas acima do peso, resista comentários. qualquer um. mas treine isso na frente do espelho. treine a partir de hoje. você precisa parecer sincero. precisa parecer humano. se você não treinar, ela nota.
- quem?
- todas elas. treine. treine. treine. nunca, nunca fale para uma mulher que ela está gorda.
- mas... mas... esse é o segredo?
- esse é o segredo. pode parecer pouco. pode parecer uma bosta. mas vá por mim. essa pergunta será repetida milhares de vezes na sua vida adulta. e um dia, o cérebro cede e finalmente diz o que pensa.
- e...
- e aí meu filho, a sua vida nunca mais será a mesma.
- [silêncio]
- [silêncio]
- obrigado pai.
- de nada.
ferris.
cancelou a conta no twitter, no blogger e no facebook.
colocou um daqueles avisos automáticos no email "estou de férias..."
desligou o celular.
disse para a família que iria para a neve. foi para a praia.
comprou um filtro solar 45.
todos os 37 livros que sempre quis ler na vida mas nunca teve tempo.
tatuou uma frase em latim no braço esquerdo que não sabia o significado, mas esteticamente, achava linda.
e pensar que ela devia tudo ao matthew broderick.
sim, porque um dia-- na sessão da tarde, enquanto almoçava-- ela, acidentalmente assistiu pela primeira vez o filme "ferris bueller's day off".
naquele dia, ela não voltou para o trabalho, como costumava fazer sempre após o almoço-- tirou a bateria do laptop, cancelou a conta no twitter, no blogger e no facebook...
19:28
quarta-feira, agosto 26, 2009
rsvp
- aquele número daquela mulher que ajudou a organizar o casamento, que as pessoas tinham que ligar para confirmar que estariam presente. sabe? e que ajudaria a contabilizar a comida, a bebida...
terça-feira, agosto 25, 2009
ana & astolfo
terceira série. 1990 e tal. a professora, com um caderno pautado em uma das mãos, grita enquanto dá mordidas pequenas em um bolo ana maria.
- ana?
- presente!!
- antônio?
- presente!!
- astolfo?
- presente!!!
e, para o resto da vida, astolfo sofreria uma dor indescritível. e para sempre-- culparia-- a ordem alfabética-- por colocar entre ele a sua amada ana, o filho da puta do antônio.
2.
quinta-feira, agosto 20, 2009
escovas.
o pé direito alto.
termina essa porra.
- mas quando você diz que ela é gostosa, você não está exagerando?
- não, ela tem o corpo perfeito.
- muito gostosa?
- eu acho que vou terminar o namoro.
- mas vocês começaram semana passada.
- mas ela é muito gostosa.
- [silêncio]
- tem as pernas mais longas e a barriga mais linda que eu já vi na minha vida.
- mas porque então você vai acabar com ela?
- [silêncio]
- [silêncio]
- não sei se serei capaz de lidar com a sensação--
- que sensação?
- a pior de todas.
- qual?
- a do dia que eu ligar para o telefone dela, ela não atender e entrar na caixa postal.
- mas ela é tão gostosa assim?
- muito.
- termina essa porra.
o contrato e a cláusula 7.
e quando ela já não era pequena, sempre lembrava da cena clássica da julie andrews a correr pelo campo.
mas o que é que isso tem a ver com um contrato e uma cláusula? a cláusula 7. tudo.
certa vez, ao negociar um dos maiores (o maior) contratos de sua carreira profissional, ela negociou tudo. bônus, férias, motorista. um valor que até então nunca havia sido pago para uma pessoa com a idade dela. cada ponto do contrato, uma cláusula rubricada por ela, o diretor da empresa e dois advogados. ao final da negociação e do acerto, ela resolveu, através do seu advogado, incluir uma cláusula. a de número 7.
7.
"quero, uma vez por ano, na primavera, uma tarde livre para correr num espaço descampado. espaço que obrigatoriamente lembre o que foi utilizado como locação no filme 'a noviça rebelde'. todas as reuniões e eventos corporativos deverão ser marcados ao redor deste evento, neste dia de primavera. obrigada."
as canelas dela
terça-feira, agosto 18, 2009
tudo
você consegue?
quantas.
agente secreto e a diva.
bozano.
quinta-feira, agosto 13, 2009
50% de desconto!
não estou.
o preço.
- mas porque este apartamento é tão mas tão mais caro que os outros nesta região?
o corretor abre as persianas, afrouxa a gravata, limpa os óculos com o bafo e diz:
- porque a vizinha de seios fartos, do prédio da frente-- anda completamente nua pela casa entre 17:00 e 22:00. todos os dias.
retribuição.
- qual?
- aquela segurando uma bolsa da c&a.
- tô.
- você acha ela bonita?
- sim.
- mais bonita do que eu?
- claro que não.
- mas olha o corpo dela.
- patrícia! mas que conversa é essa?
- não, só estava querendo ter uma conversa franca com você.
- mas...
- eu sei que você acha ela bonita. com um corpo legal... não é porque está comigo que precisa fingir que não acha... nós estamos casados desde... de...de.... bom, não tem problema olhar...
- posso te perguntar uma coisa?
- claro.
- mas você responde com sinceridade?
- sempre.
- você quer olhar para aquele sujeito que está passando-- que acaba de sair da academia, sem culpa?
- sim.
chato.
- o woody allen é inteligente.
- mas você está afirmando alguma coisa ou está dizendo?
- não entendi?
- amor, você está dando uma opinião sua, formada, ou está simplesmente repetindo o óbvio?
- marcelo, é uma constatação. acabei de ver uma foto dele numa revista... estava apenas puxando assunto.
- então você estava repetindo, falando algo que já ouviu. o óbvio.
- quando?
- quando o que?
- você ficou assim, chato para caralho?
- mas você está afirmando ou perguntando, como se tivesse dúvida sobre isso e precisa da minha opinião para tirar conclusões?
sexta-feira, agosto 07, 2009
um sujeito carente e sem sono.
- linda?
- o que foi?
- você ainda está acordada?
- não estou falando com você?
- [silêncio]
- sim, estou acordada.
- você está pensando em que?
- nada.
- em mim?
- em nada.
- eu estava pensando em você.
- que bom.
- mas você...
- não, não estava.
- mas...
- amor... deixa eu tentar dormir...
- mas você pode tentar?
- pensar em você?
- não é assim que funciona, você sabe.
- mas...
- ok, eu tento. eu tento.
- amor?
- oi?
- quer que eu coloque a nossa música de fundo para ajudar?
- pelo amor de deus, deixa eu dormir...
- mas você vai tentar né? pensar em mim, enquanto estiver dormindo...
- eu ia.
- não vai mais?
- não.
- brad pitt né?
- sim.
paris.
quinta-feira, agosto 06, 2009
mini-pequena-curtíssima idéia para um curta.
baseado numa piada.
abre com um casal no momento em que eles, o marido e a mulher-- se sentam numa mesa de um restaurante bem fino. francês. Mas um restaurante fino, fino mesmo. duas estrelas no guia michelin. não três, mas duas. o suficiente para o prato sair bem mais caro do que se imagina.
e o cardápio é apresentado. o casal passa o olho de relance sobre os pratos e pede para o garçom recomendar.
- o chef recomeda o pato. sim, o pato.
o casal então fica com o pato. pato com molho de laranja para os dois.
minutos depois. não cinco, mas quase trinta... o pato chega a mesa. num prato daqueles decorados. com uma cenoura raspada num canto e abobrinhas em fatias quase transparentes no outro. lascas de gengibre. batatas em espuma e um bocadinho de purê de mandioca. e um molho de laranja fino, quase um caramelo desenhado sobre o pato.
mas antes de comer, o garçom pergunta se o casal gostaria de um pouco de suor sobre o pato.
e, como se fosse a coisa mais natural do mundo, sem achar nada nojento-- a resposta é positiva para ambos. o garçom então começa a correr no mesmo lugar, até que gotículas de suor formam na sua testa-- e então lança gotas fartas de suor sobre o prato. a mulher pede um pouco mais-- que ele acaba por capturar da base da nuca.
minutos depois, ele pergunta se o casal gostaria de uma pitada de catarro. novamente a resposta é positiva. ele então, fecha a entrada de uma das narinas com o auxílio do polegar e assopra uma rajada breve de catarro sobre cada um dos pratos. o casal agradece e segue comendo.
durante a refeição, ele ainda oferece uma pitada de cuspe sobre a salada e pêlos do suvaco sobre a sobremesa. e em ambas ocasiões o pedido foi aceito. e todas as vezes, o casal mandava elogios rasgados para a cozinha. sempre com um sorriso grande no rosto.
para finalizar, uma bufa, um peido do chef sobre a dose de conhaque digestivo dos dois. a taça de conhaque foi levada até a cozinha e-- com a porta ainda aberta-- eles viram o chef encher o copo de gases. nada muito barulhento. sutil.
e finalmente chegou a conta. o marido colocou os óculos de leitura e pediu para a mulher conferir. essa cena se repetiu duas vezes. até que ele, o marido, inconformado com algum dado da conta, chamou o gerente.
- o que foi meu senhor? em que posso ajudar?
- a conta.
- mas o que tem de errado com a conta?
- 68 euros por uma dose de conhaque?
- [silêncio]
- 68 euros!?
- meu senhor, deixe eu conferir este preço...
minutos depois ele volta da cozinha com um sorriso amarelo e diz:
- você me desculpe. mas o preço está certo. o chef disse que antes de bufar sobre o seu conhaque-- havia consumido uma porção de caviar.
- caviar?! ah, tá. você aceita visa?
terça-feira, agosto 04, 2009
O TIQUE - uma idéia para um pequeno-mini-curta
Homem com seus trinta e mais anos senta-se para comer numa mesa de uma praça de restauração de um centro comercial. A camâra percorre o prato dele (Caldo Verde com um pedaço grande de chouriço agarrado na borda do prato.) e corre pelo braço dele até chegar ao seu rosto. Vemos então que ele tem um tique nervoso no olho direito. Ele pisca uma vez forte e duas vezes mole.
Corta para este mesmo homem a esperar o sinal abrir para atravessar a rua. Camara desvia de várias pessoas que estão ao seu lado e fecha no seu rosto. O tique está ainda mais evidente. Ele pisca duas vezes forte e uma vez bem mole.
Corta para ele no elevador do trabalho. Ele acena para alguém que trabalha com ele e pelo ponto de vista do colega de trabalho, vemos que o tique agora desencadeou algo ainda mais forte. Ele pisca umas três vezes bem forte.
Corta para ele sentado de frente para o seu computador. (O escritório ainda está cheio.) A câmara passeia pela sua mesa e sobe em alta velocidade até frear sobre o seu rosto. Vemos que o tique está mais intenso. Uma gota gorda de suor desce pelo lado esquerdo da testa.
Passagem de tempo. Ele está agora sozinho a frente do computador. O escritório está vazio. Uma senhora encarregada da limpeza olha para ele de canto de olho. Pelo ponto de vista dela identificamos o tique ainda mais intenso.
Corta para ele no seu carro a caminho de casa. Ele liga o rádio. Escutamos o locutor do rádio dizer algo.
LOCUTOR
Previsão de chuva para Lisboa.
Ele fecha a janela do carro. Pelo retrovisor, vemos o tique com uma intensidade quase inexplicável. O carro sai brevemente da trajectória devido a um piscar mais forte.
Corta para ele a entrar em casa. Vemos sobre o chão da sala uma pilha de cartas, uma revista e um jornal do domingo anterior. Ele apanha as cartas e vemos ele jogar sobre a mesa, todas as contas, a revista e após uma breve olhada na manchete velha do jornal, joga também o jornal. Resta em suas mãos uma carta. Uma só. Não endereçada. Ele abre a carta e encontra dentro a típica carta usada por sequestradores. Com cada frase composta por letras recortadas de revistas e jornais.
Enquanto a camara revela o que está escrito, escutamos ele ler em off.:
HOMEM EM OFF:
- Deposite seis bilhões de Euros na conta corrente número
000977 98765 9877 ou eu não liberto você nunca mais.
Assinado: O SEU TIQUE.