segunda-feira, maio 15, 2006

o tiozinho do avião.

voltando das férias, sentei ao lado de um cara muito lôco no avião. não lôco de enfiar a colher no nariz. lôco de pegar aquele paninho quente que a aeromoça dá antes de servir a refeição-- e passar no corpo inteiro. mas vamos voltar no tempo, antes do paninho. antes da aeromoça entregar os paninhos quentes. sentei na cadeira, coloquei minhas coisitas debaixo do banco na frente e comecei a ler um jornal. segundos depois, chega o tiozinho: "você fala francês, inglês ou português?" eu olhei para ele com uma cara de quem diz: "fiz alguma merda? será que eu trouxe para dentro do avião, sem querer, o cortador de unhas que é expressamente proibido?" ele continuou: "espanhol?" e eu: "português!" ele balançou a cabeça com um ar de aprovação e sentou ao meu lado, na janela: "nada como voltar para casa? aeromoça gostosa hein? se ela der, eu como." eu abri meio sorriso e voltei minha atenção para o jornal. um minuto depois, o tiozinho tira os sapatos, coloca num saco plástico, pega duas meias de seda, estica ambas até o joelho e coloca um par de pantufas. até aí beleza. aí começou a ginástica. pescoço pra lá. pescoço pra cá. estala cotovelos, estica as mãos até a ponta dos pés. respira, expira. respira, expira, coloca a língua pra fora. nisso, lá do fundo do corredor, surge a aeromoça com aquela bandeija cheia de paninhos quentes, fervendo. ele pede dois. dois paninhos. eu, particularmente não tenho nada em usar o paninho para passar no rosto e dar uma refrescada. mas o cara, meu amigo, tomou um banho com o paninho. primeiro passou no rosto, depois nas mãos. e aí, partiu para os braços. depois o pescoço, deu uma lustrada bacana nos cotovelos e terminou com uma enxugada nas canelas. mas o engraçado é que ele fez isso tudo numa velocidade tão grande que ninguém notou. apenas eu. chega a comida. ele pede três copos. um com wisky, outro com três dedos de suco de laranja e um terceiro com vinho tinto. com a saladinha, ele vira o suco de laranja. com o prato ele vira o vinho e com a sobremesa o wisky. a aeromoça passa e ele pede três copos d'água. bebe cada um deles como se fosse um daqueles corredores de maratona que ganha copinho de água nos quilômetros finais. bom, começa o filme. o carinha puxa o próprio headphone da bolsa. um mega headphone. solta gargalhadas contidas com uma das mãos, e, assim que o filme termina, estica as pernas, coloca uma daquelas máscaras para dormi e zzzzzzzzz. fiquei olhando ali de rabo de olho tentando entender o que se passava pela cabeça do tiozinho. mas desisti. dormi também. as luzes se acendem, em uma hora vamos pousar. olho para o lado, cadê o tiozinho. nada do tiozinho. será que ele pulou? será que está debaixo da cadeira? no compartimento de bagagem? nisso, vejo o tiozinho saindo do lavatório. com outra roupa. era outro cara. agora de bermudas no lugar das calças. uma camisa florida de mangas curtas. e, o mais engraçado: com um sanduíche em uma das mãos e uma lata de coca na outra. sentou do meu lado e disse bom-dia em inglês: "good morning!" eu olhei pra figura, e na maior naturalidade respondi: "bon jour!"

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