sexta-feira, maio 15, 2009

o banco, ângulos, vento e café.


ele sempre sentou no mesmo banco. o banco ficava numa praça. a praça ficava num bairro pouco movimentado. o bairro ficava numa cidade grande. a cidade ficava entre duas cidades ainda maiores.

ele via as mesmas pessoas passarem. uma espécie de deja-vu controlado. pois, ao se sentar no mesmo banco, no mesmo horário, nos mesmos dias, ele, obrigatoriamente via a rotina tomar forma a sua frente.

ele carregava sempre o jornal do dia. e nele encontrava abrigo quando alguém quase-conhecido passava.

mas tudo mudou no dia que o banco foi removido. na verdade, mudaram o banco de lugar. e no lugar onde antes ele estava, instalaram um quiosque de bebidas.

e no primeiro dia, ao sentar no banco em seu novo lugar, descobriu um novo ângulo de ver as coisas. a mulher que sempre passava de frente, agora ele via de perfil. as crianças também. já não corriam na sua direção. mas na direção oposta. o vento agora balançava as folhas do jornal de dentro para fora. e não de fora para dentro. e por mais sutil que fosse cada detalhe, naquele dia a vida ganhou um novo fôlego. um novo ângulo.

enquanto isso, lá do outro lado, enquanto bebia len-ta-men-te um café no quiosque, uma mulher pensava a mesma coisa. afinal, onde antes estava o banco em que nosso protagonista agora está sentado, estava o quiosque.


ela sempre tomou café no mesmo quiosque...

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