quarta-feira, maio 02, 2007

a dança das cadeiras no ônibus 58.

de cada 10 lisboetas, uns 7.4 são idosos. um dado carregado no exagero mas que não deixa de ser quase verdade. e que caráio isso tem a ver com o título desse textinho? bom, hoje foi a primeira vez que eu peguei o buzum, o ônibus, o auto-carro—como eles chamam-- para o trabalho. e, como todo ônibus, os daqui também tem uns lugares reservados para idosos. nada mais justo. mas o que é engraçado aqui, é que, como tem um grande número de idosos, não existe lugares para todos nos ônibus. (é, o fêla da pulta que desenhou o ônibus daqui, não reservou o número certo. o número necessário de cadeiras para os idosos. elas são mais baixas e azuis, eu acho.) então, o que é engraçado aqui é a dança das cadeiras. uma dança sem a música que pára. a dança das cadeiras acontece toda vez que o ônibus pára. é um tal de “pode sentar-se senhora!”, “o senhor, não quer o meu lugar?!” e levanta uma mãe e cede o lugar para uma senhora que antes estava em pé, mas que já na próxima parada oferece o lugar para um senhor um tiquinho mais idoso que ela. e este senhor, já cheio de segundas intenções, recusa o lugar, que vai para um outro senhor que acaba de entrar. e a cada parada, a cena se repete. é uma senhora que vem correndo do final do ônibus para pegar uma cadeira especial que se abriu. é um senhor que se recusa a ser considerado idoso e recusa a cadeira com uma cara como quem grita: “vai dar meia hora de bunda, eu sou mais velho que você mas não exagera.” e tudo isso acontence com uma harmonia impressionante. como um relógio. gente se misturando num zig-zag, trocando lugares, oferecendo, gesticulando, as vezes apenas com um olhar. tudo isso enquanto o auto-carro de número 58 faz uma curva fechada e chega na praça de camões. e eu, bem, eu quase perco o meu ponto observando a tiazinha que fulmina com os olhos uma adolescente que se recusava a se levantar e ceder a cadeira para ela. a dança das cadeiras no ônibus 58.

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