quarta-feira, março 01, 2006

o barulhinho do caixa eletrônico quando cospe notas de dinheiro.

poucos sons despertam a atenção de um ser humano como o barulhinho que um caixa eletrônico de um banco 24 horas faz quando cospe o dinheiro na sua mão. e eu digo "cospe", porque a máquina não é nada sutil, quando você menos espera, lá vem as notas estourando pelo buraco a espera da sua mão. hoje fui buscar um din din para pagar o salário da pessoa que trabalha aqui em casa. o banco estava cheio. fiquei uns três minutos na fila do caixa eletrônico esperando a minha vez. e, enquanto esperava, ficava lá escutando o "dig, dig, dig, dig, dig..." (esse é o som que as notas de dinheiro fazem ao serem cuspidas pela maquininha.) esse som é um mix de prazer e de tristeza. prazer, porque é como se você tivesse acertado na loto, e lá vem o seu prêmio. e tristeza, porque, milésimos de segundo depois, cai a ficha e você se lembra de que não ganhou porra nenhuma de prêmio. bom, mas voltando ao "dig... dig... dig..." chegou a minha vez de pegar o meu dinheiro. digitei os números como quem protege um segredo nuclear, esperei, esperei e de repente: "dig... dig... dig...dig... dig... dig...dig... dig... dig..." não era uma fortuna, não. é que a caráia da máquina só tinha nota de 10. mais um segundo de espera e pimba, a máquina abriu a portinhola e parou de fazer o barulho. e, na paranóia de que alguém estava me observando, ou melhor, escutando o meu "dig... dig... dig...dig... dig... dig...", dobrei o din din e coloquei no bolso com a esperança de abafar o som. por sorte minha, a próxima pessoa a retirar dinheiro no caixa eletrônico também foi pega no contrapé. sem saber que a máquina só estava com notas de 10-- deve ter pegado o din din do aluguel do apartamento, porque, foi ela apertar o último botão para todos que estavam ao redor escutarem uma saraivada de "dig... dig... dig... dig... dig... dig...dig... dig... dig...dig... dig... dig..." a mulher abriu um sorriso amarelo, assustada, afinal, não é todo mundo que pode escutar tanto "dig... dig... dig..." de uma só vez. naquele momento, com o banco prestes a fechar as portas, o banco tinha definido a sua campeã. a grande campeã dos "dig... dig... dig..." não havia mais tempo hábil para que uma outra pessoa retirasse tantas notas de dinheiro de um caixa eletrônico. e, num misto de orgulho e agonia de ser reconhecida ao sair pelas ruas, a tiazinha socou o maço de notas na bolsa. no dia 1º de março, nenhuma pessoa conseguiu superar o número de "dig... dig... dig...". "uma fortuna!!!", dirão algumas testemunhas. agora é esperar ela voltar amanhã e insistir para o gerente daquela agência não colocar uma foto em sua homenagem na entrada. "é perigoso!", ela vai dizer. "não quero ninguém sabendo o número de dig... dig... dig... que eu faço a cada saque de dinheiro!" e o gerente, de cara fechada, triste, vai entender, mas vai dizer, do fundo do coração, que nunca sentiu tanto prazer como no dia que ela sacou aquele dinheiro. "nunca escutei tanto dig... dig... dig... na minha vida!" e, ela, para fazer um afago no bom gerente, vai dizer: "tá bom, só mais uma vez!" "dig... dig... dig...dig... dig... dig...dig... dig... dig...dig... dig... dig...dig... dig... dig..."

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