terça-feira, setembro 29, 2009

mas ele morde?

é a primeira vez que ela vai ao apartamento dele.
um cachorro se aproxima e ela começa a fazer carinho.
ela inicia um diálogo:

- ele morde?
- não.
- tem certeza?
- tenho.
- mas ele está rosnando ?
- mas morder, morder--- não morde.
- mas ele está mostrando os dentes?
- mas não morde, pode ficar tranquila.
- mas ele está fazendo xixi no meu pé?
- mas morder, não morde. relaxa.
- mas ele está trepando com a minha perna?
- mas não vai te morder.
- mas, mas, ele está destruindo a minha bolsa louis vuitton!
- mas morder, tirar pedaço de você, ele não vai.
- mas que cachorro filho da puta!!
- ó, agora, se xingar a mãe dele. aí ele morde.
[som de salto alto pipocando pela sala seguido do som da porta batendo e cachorro latindo.]

14 anos depois.

é aquela coisa. ele sempre soube que ela era a mulher da vida dele.
e ela sempre soube que ele era o homem da vida dela.

mas como ainda tinham apenas 16 anos-- e estavam absolutamente certos do destino incontornável de ambos juntos-- tomaram uma decisão sensata.
se despediram e combinaram de se reencontrar aos 30.

a melhor saída.

o chefe ligou para marcar uma reunião para organizar a outra reunião que serviria para montar a apresentação da reunião com o cliente que irá apresentar os resultados desta reunião na reunião do board. board, que sempre se encontra, quinzenalmente na sala de reuniões para uma reunião.

ele respondeu de bate pronto-- meio corrido-- como se estivesse com pressa: "infelizmente não posso. tenho uma reunião. e uma muito importante."

estratégias para pegar a que ele queria-- quando no começo parecia exatamente o contrário.

dois amigos encostados no balcão observam as mulheres que entram no bar. eles conversam:

- olha aquela loira. ela está olhando para a gente.
- é linda mesmo. quer ficar com ela? eu pego a amiga dela.
- mas a amiga não é tão interessante...
- mas tudo bem. a loira é sua. você disse primeiro.
- mas... o que é que você viu nessa amiga dela que eu não estou enxergando?
- nada cara. é aqui assim, todo mundo fica feliz.
- mas você ficaria mais feliz com a loira, não é?
- sim, mas você ficaria infeliz com a amiga dela. e eu não.
- mas eu não estou me endividando com você, não é? tipo, na próxima vez eu tenho que ficar com a baranga?
- não.
- promete?
- prometo.
- [silêncio]
- [silêncio]
- não cara, eu vou ficar com a amiga dela. você viu alguma coisa de errado na loira. algo que eu ainda não vi.
- mas...
- você é malandro. eu sei...
- mas cara... pode...
- conheço bem essa história do amigo que vai deixar o outro se dar bem para o bem da nação.
- que isso, você...
- fica com a loira e não se fala mais nisso.
- ok.

quinta-feira, setembro 24, 2009

ar.


ele inicia a conversa com ela.
- sabia que você me deixa sem ar?
- então você me ama assim, muito?
- sim.
- então, se eu deixo você assim, sem ar, é bom? não é?
- depende.
- depende?
- do ponto de vista.
- [silêncio]
- asma. eu sofro de asma.

coluna do destak da semana.



no classificados.



anúncio no jornal da cidade.

"morena. 22 anos. eu estava usando uma camisa de seda branca com bolinhas pretas.  você acenou de longe ao entrar no metrô. eu uso franjas no cabelo. tenho nariz fino. de perfil ele é perfeito. eu achei que você ia sair do metrô ao me ver. mas, não. seguiu em frente e acenou. você estava usando uma camisa preta e uma bermuda azul com desenhos de surf.  se você estiver lendo este anúncio-- queria lhe dizer algo muito especial: vai tomar no cu! seu bosta!! na próxima vez, fala alguma coisa."

o bikini da demi.

virginia, eua. madrugada.
no fbi. diretor de inteligência fala com um dos agentes.

- mas e essa luz aqui piscando. o que é isso ? rússia?
- mensagem nova no meu  msn.
- e esse ícone que não pára de pular no seu desktop? iraque?
- email novo.
- e essa lista que sobe no canto direito do monitor? lista de espiões chineses?
- o meu twitter.
- essa outra que...
- mensagem no facebook.
- [silêncio]
- [silêncio]
- e a movimentação das ogivas nucleares russas? a coréia do norte?
- shhhh... calma... o ashton kutcher acabar de twittar uma foto da demi moore de bikini.
- de bikini?
- de bikini.

terça-feira, setembro 22, 2009

a importância de um copo d'água durante uma reunião em que ele não estava.


a reunião já começou-- pensou ele.
mas é tanto blá blá blá, que não vão sentir minha falta-- raciocinou ele-- logo em seguida.
mas se não sentirem a minha falta, eles chegarão a conclusão que eu não faço nenhuma falta para a empresa!!-- concluiu ele-- assim com dois pontos de exclamação.
eles não podem descobrir!-- gritou ele, dentro da sua própria cabeça.

pausa.

a reunião já começou-- pensou ele.
melhor eu entrar-- e ao entrar,  derrubar um copo d'água sobre a camisa de quem estiver a falar--planejou ele.
assim, as pessoas irão se lembrar que eu estive por lá-- concluiu ele.

faltavam palavras

no shopping.

ele não sabia o que dizer para ela.
sabia que amava ela.
idolatrava ela.
sentia tudo por ela.
mas não conseguia dizer, assim, em palavras.

então num belo dia, ele comprou um milkshake de ovomaltine grande do bob's e deu na mão dela.

e, logo em seguida, entre uma chupada e outra no canudo, ela olhou para ele e disse: - eu também.



espaço

no alto falante da torre de comando:

- 10.9.8.7.6.5.4.3.2.1....

dentro da cápsula, o astronauta coloca a mão sobre a testa e diz, baixinho:
- cacete, o gás! deixei o gás ligado.

quinta-feira, setembro 17, 2009

doc. brown

homem conversa com o vendedor numa concessionária de carros usados.
ele se aproxima de uma kombi, olha o interior restaurado, as calotas quase novas e a pintura original. ele pergunta:

- e esse carro aqui, é bom para fazer viagens?
- no tempo, sim.

a previsão.


dois cachorros conversam enquanto observam as nuvens escuras que se acumulam no céu.

- será que a chuva que está prestes a cair-- vai estragar o nosso passeio no parque?
- não. é só ameaçar fazer cocô dentro de casa.

terça-feira, setembro 15, 2009

a máquina

casal. após o primeiro encontro, na casa dela.
ela inicia a conversa:

- café com ou sem açucar?
- com.

ela sai, vai até a cozinha e volta com dois cafés. um para ela. outro para ele.

- pronto, aqui está.
ele olha para ela, em seguida para o café, dá um gole, fecha os olhos e diz:
- que delícia esse café. o sabor encorpado... é um café como nunca tomei em toda minha vida.
- que bom que você...
- (interrompe) mas é mesmo delicioso. que café gostoso.
- mas, é... ok, que bom você gostou...
- (interrompe ela novamente) ... é um negócio inexplicável. que café especial. o aroma. a textura. o sabor. nossa!!! é demais! é, uma coisa... pelo amor de deus... que café é esse... meu deus... que café... que lindo... a natureza é mesmo sábia...

ela coloca o café sobre a mesa, olha para o chão e em seguida para ele-- e diz:
- quando você disse que aceitava subir para tomar um café aqui no meu apartamento, achava que eu estava convidando você para a minha cama-- não é?
- mas é claro. então quer dizer que você me convidou para tomar um café, estava mesmo me convidando para tomar um café?
-sim, café. claro.
- mas... mas... mas desde quando "café" deixou de ser um código, um convite para ir para a cama das pessoas após um encontro?
- desde que eu paguei quase três mil reais numa máquina da nespresso.

quinta-feira, setembro 10, 2009

as primeiras colunas do destak. 3

O primeiro pastel de nata, a primeira coluna, uma sugestão e um pedido.

(essa só saiu no porto, pois era feriado em lisboa. por isso, diz ser a "primeira" também no título.)

Na vida, todas as pessoas costumam lembrar três coisas. Três momentos. Nesta ordem de importância: o primeiro beijo, o primeiro grande amor e o primeiro episódio da Guerra das Estrelas. Mas isso, é claro, até você aterrar em Lisboa e comer o seu primeiro pastel de nata. Se você é natural de Portugal, cresceu a comer pastéis de nata. Ou seja, pode até apreciar com carinho o pastel, mas provavelmente desconhece o impacto devastador que ele tem nas papilas gustativas dos turistas. O paladar estrangeiro não foi criado à base deste doce. Desta explosão de sabores feita de creme e ovos. Não. Já ouviu falar. Já leu sobre o tal pastel num guia. Mas é colocá-lo na boca para entrar num transe quase permanente. E não adianta levar a receita para tentar fazer igual no país de origem. No Brasil, por exemplo, pastéis de nata são bons, ok, mas nunca iguais. Os portugueses não revelaram a receita inteira. Escondem. Guardam. Juram segredo eterno. Eu faria o mesmo. Todo o português ao completar dezoito anos de idade, comparece ao tribunal de justiça mais próximo da sua casa e jura perante as bandeiras de Portugal e de Belém: "Eu, _______, prometo não revelar a receita dos pastéis de nata, sob a pena de ser preso por não mais de 25 anos." Resolvi aproveitar esta primeira coluna para deixar uma sugestão e fazer um pedido. Nesta ordem. A sugestão: você acaba de chegar a Lisboa? Deixe para comer o pastel na véspera de ir embora ou você não vai comer outra coisa. O pedido: Você é de Lisboa? Qual é a receita?

as primeiras colunas do destak. 2

A chegada, o taxista , o Cristiano Ronaldo e a primeira coluna.

O avião aterra. Mala. Mala. Passaporte. Carimbo. Um, dois, três minutos na fila do táxi e chega a minha vez. E, é só chegar o táxi para descobrir uma coisa, que você só entende quando gagueja para o taxista um endereço que não existe. Os taxistas em Lisboa não sorriem com facilidade. Não são mal humorados. Não me entenda errado. Eles são sérios. E foi já nesse meu primeiro taxi ao chegar a Lisboa que aprendi um truque. Um truque que deveria ser ensinado em escolas de turismo e repetido pelas caixas de som do avião pela hospedeira antes do avião pousar. Um truque simples. Repita comigo: "E o Cristiano Ronaldo, hein, caro taxista!?" Assim com a exclamação e a interrogação. Você entra no taxi, erra o endereço, a pronúncia ou os dois. O taxista fulmina-o pelo retrovisor. Aí, bem, aí você abre um sorriso e, de um jeito humilde fala, no formato de pergunta: "E o Cristiano Ronaldo, hein, caro taxista!?" Você conquista o cara. Ele responde com orgulho. Mostra dentes, mostra pontos turísticos pela janela. E fala do Ronaldo quando ainda jogava no Sporting. Fala como ele está a conquistar o mundo. Você é tratado como um rei. Vá por mim. É um truque simples e que funciona sempre. Mas não custa praticar um bocadinho. Você deve perguntar com um tom que indique que você quer a opinião do taxista sobre o Cristiano Ronaldo, e ao mesmo tempo deve deixar claro que está ciente que se trata de um génio ímpar do futebol. Bom, esse foi meu primeiro dia em Lisboa. O primeiro taxi. A primeira coluna no Destak

as primeiras colunas do destak. 1

O Eléctrico 28 e o Michael J. Fox.

Viajar para o espaço: 20 milhões de Euros. Viajar no tempo: 1,30 Euros. Explico. Um dia destes, com um guia na mão e um mapa mal dobrado no bolso lá estava eu a planear os pontos turísticos que iria visitar. Era um Domingo. Melhor, era um Domingo de sol. Melhor ainda, era um Domingo de sol sem nuvens no céu. Bom, e enquanto os meus dedos vagueavam pelas páginas do guia, vi crescer no horizonte o eléctrico 28. O que no Brasil chamamos de bondinho. Sem saber, estava a dois passos do ponto de partida do 28E. Em Campo de Ourique. Sentei à janela. com o dedo indicador nervoso agarrado no botão de disparo da câmara. Uma viagem no tempo. Cada curva. Cada subida. Cada descida. Tudo cheira a mil oitocentos e tra lá lá. Senti-me na pele do Michael J. Fox. O eléctrico 28 é uma espécie de Delorean, aquele carro que carregava o actor pelo tempo nos filmes. O motorista acelera e quando o eléctrico consegue vencer a lombada da subida, pimba, você está numa parte mais moderna da cidade. Ele faz uma curva e você se vê de frente para uma ruela que não se encontra em nenhum guia. Chega um ponto e turistas entram. Quase nenhum sai. E todos partem juntos para o final apoteótico. Como nos filmes protagonizados pelo Michael J. Fox. O motorista pisa fundo. Acelera até atingir o ponto que permite a derradeira e emocionante viagem no tempo. Num piscar de olhos você deixa a cidade e chega a Alfama. Chega à porta do Castelo. E assim como no cinema, você sai a coçar a cabeça e pensar: "tenho que ver esse negócio mais uma vez."

terça-feira, setembro 08, 2009

os erros dele.


ele chegou tarde em casa.
chegou cheirando a cigarro.
chegou com bafo de cerveja e vodca.
duas bebidas, que quando misturadas por ele-- causavam estragos.

ela então colou as narinas na nuca dele. ou melhor naquele espaço atrás do ouvido.
entre o cabelo e as costas do ouvido e respirou fundo.
sim, ele ainda tinha cheiro de sabonete palmolive.
o palmolive era a prova que ela precisava.
ele não precisava dizer que amava ela. ou inventar desculpas.
cheiro de palmolive verde provava que não havia acontecido qualquer transferência de aroma.

ela sabia, que qualquer contato com uma outra mulher. qualquer rala e rola e aqueles traços de palmolive já não estariam lá.

até porque-- foi assim que eles se conheceram.

a imaginação deles.

lá fora-- o condomínio inteiro a espera dela para ver ela de biquini.
todos os meninos que a idolatravam com a roupa da aula de educação física.
e todas as meninas que a invejavam com a roupa da aula de educação física.
(mais cedo, quando ainda era dia-- ela entrou correndo, quando todos prestavam atenção no salto acrobático do filipe-- e por lá ficou.)

enquanto você lê isto aqui-- ela continua lá. dentro d'água.
ela, a reputação dela e muito mais importante: a imaginação de uns oito moleques do prédio dela.

a crise e as fotos.

"sorria!'-- disse ela.
"nem fudendo, acabei de perder mais 120.000 reais na bolsa!"-- disse ele.

segunda-feira, setembro 07, 2009

a camiseta... esgotada

* eram 12 no total.
4 foram dadas para quem ajudou a fazer.
vendemos 8.

valeu!

agora é esperar o véio, também conhecido como renato, desenhar outras.

sexta-feira, setembro 04, 2009

a camiseta.

o véio, também conhecido como renato lopes, além de meu dupla aqui na leo-- é um ilustrador fucking fuckers. esse novo header aí em cima é autoria dele.
bom, e o véio além de ter sido bem gente fina para criar o cabeçalho novo-- fez-- junto com o jr e o franca aqui da agência, umas camisetas do bigode molhado.

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100% algodão. disponível nos tamanhos P/M/G.

modelo masculino e feminino.

o preço: 15 Euros + postagem.

para encomendar a sua, escreva para o email: erickdois@yahoo.com.br




quinta-feira, setembro 03, 2009

inga & arthur


eles se conheceram num chat num site de encontros na internet.

na primeira vez que se falaram online-- ele entrou e disse que tinha um metro e oitenta, um físico em forma, falava três línguas, trabalhava em um banco de investimentos e era artista plástico nas horas vagas. johan, disse ele ser o seu nome. descentende de alemães por parte de pai. e canadense por parte de mãe.

ela disse que tinha um metro e cinquenta e dois, estava acima do peso, trabalhava num call center, ainda não tinha tirado o diploma do curso intensivo de inglês mas que estava a caminho. acrescentou ainda que apreciava ir ao cinema, principalmente comédias românticas com a sandra bullock. disse que seu nome era maria.

depois de meses online, marcaram um encontro.

ele, descobriu que ela era uma mulher de quase um metro e oitenta, com cabelos castanhos lisos e longos.com o corpo perfeito e com seios quase fartos, enfim, linda. falava com um leve sotaque dinamarquês-- pois a dinamarca era a sua terra natal. e que o nome dela era inga.

ela, descobriu que ele tinha um metro e sessenta exatos. estava um pouco acima do peso. era um pouco calvo e no momento trabalhava numa oficina mecânica especializada em tunning de carros. e que o nome dele era arthur, como na história do rei.

ele descobriu que ela havia mentido para afastar pessoas interessadas apenas na aparência física dela. problema que sempre atrapalhou sua vida amorosa. e ela descobriu que ele havia mentido porque era inseguro sobre a sua aparência física. problema que sempre atrapalhou a sua vida amorosa.

ela descobriu que estava apaixonada pelo homem que achava que estava apaixonado pela gordinha baixinha do call center fã da sandra bullock-- e viveram felizes para sempre.

terça-feira, setembro 01, 2009

coisas de casais.

casal mais velho conversa. ela tem 62 e ele 69. ela larga o corpo sobre o sofá e puxa uma conversa:
- plínio?
- diz.
- você sabe que eu tenho um amante, não sabe?
- sim. sei.
- e porque não faz nada sobre isso?
- ana, você sabe, não sabe-- que eu também tenho uma amante?

- sei.
- [silêncio]
- você não tem curiosidade para saber porque eu nunca deixei você sabendo que você tem uma amante, e por eu também ter um amante?
- o meu penne all 'arrabbiata.
- e porque você nunca me deixou, já que você tem uma amante e eu...
- ninguém sabe aparar os cabelos da minha orelha como você.
-[silêncio]
-[silêncio]
-[silêncio]
- tá com fome?

o filtro solar.


ele contou para a mulher que estava numa reunião de negócios.
o filtro solar fator 60 que ele comprou no free-shop, também.

o identificador de chamadas.

ela não tirava o olho do identificador de chamadas do telefone da sala de casa.
foi pela sala que ela chegou e pela sala ela ficou as próximas vinte e sete horas. ela e o telefone.
ao seu lado uma sacola de compras da c&a ainda com todas as roupas dentro.
a sua frente, além do telefone, uma garrafa de martini bianco e um copo desses que vem de brinde ao comprar a garrafa-- cheio.
o sexto cigarro queimava na direção do indicador e do dedo médio dela quando o telefone tocou. pelo identificador ela viu que era o seu pai. não era ele. a pessoa que ela havia conhecido no bar, no happy hour do dia anterior. o identificador de chamadas não mente. disso ela tinha certeza. e foi ali, ao lado do telefone que ela acordou na manhã seguinte. com a mesma roupa do dia anterior, um maço vazio e um gosto de nada na boca. quando o relógio marcou oito, ela levantou-se e foi para o trabalho.

ela não contava para ninguém, mas estava viciada no identificador de chamadas. é, não era a voz do outro lado que ela aguardava ansiosa. mas a luz azul piscante com o número de alguém que ela havia conhecido recentemente. a luz piscante com número do pai, do irmão, essa não tinha graça. mas a luz piscante com número de um sujeito que ela conheceu em algum lugar e ela-- mesmo se fazendo de difícil, conseguiu que o cara ligasse-- isso deixava ela completamente louca. ela também nunca contou para ninguém que a razão pela qual seus relacionamentos eram breves, era exatamente essa. o identificador de chamadas. quando um sujeito se transformava em namorado, o número estava decorado, e ansiedade e emoção do indentificador de chamadas se diluia.

hoje um pessoal do trabalho convidou ela para sair. ela disse que tinha um compromisso. passou no mercado, comprou milho para pipoca. fez a pipoca, vestiu algo confortável e passou a noite assistindo a luz do identificador de chamada piscando. as vezes com emoção. as vezes não. o seu programa favorito.