segunda-feira, setembro 27, 2004

o cinto.

eu tenho uns 3 cintos. dois marrons e um preto. só uso o preto. é quando tenho que colocar terno. o que acontece no máximo umas duas vezes por ano. meu trauma com cinto começou tem uns dois anos. um belo dia eu acordei, coloquei um jeans, escolhi a camisa, coloquei o sapato marrom surrado e fui atrás do cinto. "esse não, esse não, esse!" assim com exclamação, porque aquele cinto não era qualquer cinto. era companheiro de guerra. cinto polivalente. com ele frequentei os jantares mais arrumadinhos e o dia-a-dia da firma. sempre rilécs. puta cinto. couro de touro. não de vaca que passa o dia pastando. então. coloquei a camisa para dentro da calça e em seguida passei o cinto por ela. foi aí que deu bosta. faltavam buracos. o cinto já não se portava com a mesma elegância e dignidade. tava apertado. filho da puta. desde então passei a fazer um estilo despojado. mão direita no bolso e camisa para fora. hoje de manhã, enquanto abotoava a camisa, enxerguei o cinto no canto do armário. ficou me olhando com um ar de superioridade. bem babaca. se fudeu. hoje a noite vou enrolar ele e colocar no baú--junto com umas outras tranqueiras velhas. porque se tem uma coisa que eu não suporto é cinto filha da puta. principalmente cinto que falta buraco.

a hostess.

não tenho nada contra a profissão de "hostess". hostess para quem não sabe é aquela pessoa (na grande maioria dos casos se trata de uma mulher) que te recebe na entrada dos restaurantes da moda. é, porque só restaurante da moda tem hostess. aquele barzinho, boteco que você frequenta desde 1990 e tal não tem hostess. pode notar, a hostess está sempre com uma roupa alternativa. tem uma tatuagem pequena na base do pescoço-- ou/e uma outra no ombro que está a mostra. a hostess geralmente se comporta como se ela fosse uma das pessoas mais gostosas do mundo, ou melhor, uma das mais gostosas do universo. é mais ou menos assim que funciona: você chega num restaurante, ela olha você através da porta de vidro e fica alí parada te analisando. só depois de se fazer de difícil, ela abre a porta. com um jeitão de que está fazendo um favor pra você. em seguida, ela diz bem-vindo como quem diz "quem é você mané?" a hostess então se vira na direção das mesas e sem dizer nada, espera você acompanhar ela. ela olha por cima do ombro e aponta com o nariz a direção que você deve ir. taí outro negócio engraçado das hostess. quando elas andam, se movimentam como se estivessem em câmera lenta fazendo biquinho. elas largam você na mesa e saem andando para a porta para receber mais pessoas da mesma maneira. é fácil identificar as hostess. se elas não estiverem em pé ao lado da porta, basta procurar alguma menina magra com três dedos de barriga de fora e um batom roxo carregado. é, porque apesar das hostess trabalharem em restaurantes da moda, não existe hostess gordinha ou "saudável". é um pré-requisito: tem que ser magra. as vezes, só as vezes, se você prestar atenção-- pode notar-- a hostess também arrisca mini passinhos de dança e fica balançando a cabeça como se estivesse em "outra". como se ela fosse muito, mas muito mais "cool" que você. não tenho nada contra a profissão de hostess. muito pelo contrário, a maioria é até bastante simpática. o que me deixa com o saco na lua, puto-- é quando a hostess se acha mais gostosa que qualquer prato do restaurante. até porque, ela pode até ser, mas como ela não está no cardápio-- faz só de putaria mesmo. só de sacanagem.

sexta-feira, setembro 17, 2004

as datas de validade sem validade.

tem um episódio do seinfeld genial em que ele questiona a data de validade dos leites. é, aquele carimbo com a data que o leite supostamente vai ficar podre. no tal episódio, o seinfeld chega a conclusão de que a própria vaca devia falar para o produtor de leite. tipo sussurando no pé do ouvido do cara-- assim que ele terminava de tirar o leite. "17 de setembro de 2004 ... moooooooo!" o que nos leva ao ponto desse textinho. ontem eu comi um iogurte vencido. não foi nada planejado, mas eu comi um iogurte que já estava vencido tinha umas duas semanas. descobri isso meio que por acidente quando fui lamber a tampa. mas o iogurte estava perfeito. não estava azedo. não estava podre. estava delicioso. foi aí que eu fiquei cafuzo. porra, a minha vida inteira eu fiquei preocupado com as datas de validade dos produtos. cresci seguindo três leis básicas: não aceitar balas de estranhos, olhar para os dois lados antes de atravessar a rua, e finalmente, respeitar as datas de validade dos produtos. e foi assim até ontem. até eu comer, deliciar um iogurte que de acordo com a data da tampinha deveria estar completamente estragado. mas que como você já sabe, não estava. porra, como é que eu vou continuar acredito nas coisas. nas leis. em tudo que eu sempre acreditei. a data de validade do iogurte fudeu com tudo isso. assim como o seinfeild, cheguei a conclusão que a data de validade desses negócios são no mínimo chutadas. nunca mais vou correr pra esvaziar a geladeira só para vencer a data de validade. nunca mais. hoje por exemplo vence a minha conta de celular. hoje é a data de validade dela. tô pensando seriamente em não pagar. esperar alguns dias. umas duas semanas talvez. e, se a operadora ligar para mim cheia de marra cobrando o pagamento, eu já sei o que vou falar. "debita essa conta no cartão de crédito tal e tal!" e ela, como esperado, vai dizer: "mas senhor, esse cartão de crédito está com a data de validade vencida!?" e eu vou simplesmente dizer-- antes de desligar o telefone na cara dela: "e daí? a do meu iogurte também tava, e ninguém se fudeu por causa disso!"

o sono.

o sono pra mim tem uma personalidade. uma cara. um jeitão. como se fosse uma pessoa. mas com esse nome, "sono". é assim que eu vejo e imagino o sono. uma pessoa. um ser que mora dentro do meu travesseiro. o meu sono particularmente é pesado, quase obeso. meu sono é gordão. demora pra levantar quando o alarme toca. é. meu sono só levanta na quarta música do rádio-alarme. e isso, quando ele levanta. pela manhã ele é um tanto pentelho. fica andando de um lado para o outro da cama sem se decidir que horas vai começar o dia. a primeira coisa que ele faz é chutar meus olhos. ele sai de dentro do travesseiro, vem correndo, pega velocidade e pimba, dá um bicão com força, com jeito-- no meio dos olhos. meu sono é foda. depois de chutar meus olhos, ele desce pela minha barriga até chegar na altura da bexiga. aí, começa a tortura. ele fica pulando como se estivesse num trampolim. em câmera lenta. pra aumentar a minha vontade de fazer xixi. a cada pulo a dor aumenta. uma dor aguda e chata. e aí não tem jeito. eu acabo levantando se não mijo na cama. desligo o alarme, corro pro banheiro e ligo chuveiro. é. essa é a única maneira de acabar com o sono. mandar ele pro caralho. uma ducha forte na cabeça. e enquanto o shampoo escorre pelo rosto e arde a minha vista-- o sono se despede-- escorrendo pelo ralo. e antes dele desaparecer pelos buraquinhos do ralo, posso escutar ele gritando: "até amanhã de manhããããã....!" escroto.

terça-feira, setembro 14, 2004

o flamboyant.

o que é flamboyant? ou melhor, o que quer dizer flamboyant? flamboyant é nada. mas pode ser tudo. simples assim. parece complicado, mas não é. flamboyant é um nome fantasia. uma marca. um nome que não existe e que pode ser usado pra qualquer coisa. voce pode lançar um novo modelo de carro e dar esse nome. e pode cobrar uma fortuna. afinal, flamboyant é um nome classudo. pode notar. fale flamboyant em voz alta. entre a letra “b” e a letra “n” você obrigatoriamente faz um biquinho bem francês, sofisticado. “flamboyant”. só mais uma vez pra decorar. agora, você me pergunta: porque caráio esse cara está falando isso? bem, estou falando isso porque sexta passada fui numa churrascaria dessas de rodízio. e notei algo engraçado. ninguém come a alcatra. ninguém. diferente do caráio do cupim que tem uma textura única e fica dando bandeira, a alcatra é prima de primeiro grau da fraldinha, do filé--tem a mesma cara, o mesmo jeitão de bifão no espeto. mas é só o cara oferecer “alcatra” pro pessoal torcer a cara. é, porque atrás do carinha da alcatra está o fêla da puta da fraldinha com o espeto leve de tanto largar lascas de carne nos pratos dos outros. por isso, sugiro uma troca de nome. sai alcatra, entra o “flamboyant”. todos os donos de churrascaria deveriam se reunir e trocar o nome de uma vez. enterrar a alcatra. de uma vez por todas. em pouco tempo, churrascarias colocariam placas, neon, outdoors na entrada: “temos flamboyant!” “chegou mais um carregamento de flamboyant!!!” “rodízio com farofa de ovo e flamboyant!” sucesso garantido. a alcatra sairia do ostracismo e os donos de churrascaria fariam uma fortuna. isso, é claro, até o garçom da fraldinha ficar bem puto, se mordendo de inveja--e sussurar no ouvido dos clientes: “lembra da velha alcatra? então...”

quarta-feira, setembro 08, 2004

sete.

cada ano que um cachorro vive corresponde a 7 anos humanos. uma cadela de 14 anos teria, 98 anos se fosse uma pessoa. e assim por diante. é complicado ser um cachorro se você pensar. cachorro está sempre encoleirado. e, se não está na coleira, é porque é vira-lata. e se é vira-lata, está passando fome. ou seja. a vida de cachorro não é só brincadeiras e "vem cá, meu fofo!" não. o dia-a-dia deles é foda. cachorro não escolhe o que come. as pessoas escolhem para ele. tem gente que serve ração. tem gente que serve resto de comida. e aí se se ele ficar com vontade de ir ao banheiro. seja pra fazer xixi ou o nº2-- ele tem que esperar alguém levar ele. e não tem hora certa. cachorro vai ao banheiro quando der na telha do dono. quando o dono lembra. e só. agora, o sexo. cachorro não pode sair por aí atrás de um parceiro ou uma parceira quando der vontade. tem que ser sortudo. muito sortudo. tem que torcer para encontrar alguma cadela no cio no elevador. e ainda, essa cadela deve ser da mesma raça, se não fudeu. a dona não vai querer a cadelinha dela cheia de vira-latinhas na barriga. outra coisa que é complicada com cachorros são os ensinamentos. é. toda aquela história de "senta!", "pula!", "finge de morto!". caráio. fico imaginando o cachorro escutando o dono dando essas ordens bestas para ele. e ele tem que fazer, se não é ele, o cachorro que se passa por besta. mas, de todas essas coisas, é a coisa da idade que eu acho mais cafuza. é uma corrida contra o relógio. não é a toa que cachorro vive afobado. com pressa. transando com a perna das pessoas-- e das mesas de jantar. é. ele sabe que enquanto o dono dele está coçando a saca, o tempo dele está voando. e é exatamente por isso que cachorro odeia tanto o gato. é. enquanto a porra do gato tem sete vidas, cada ano dele corresponde a 7 anos dos nossos. uma vida de cachorro.

obs.: se você tem um cachorro e uns 3 minutos-- (que pra ele são uns 21)
leve ele pra dar uma volta.

a lei das probabilidades.

- amor...que marca de batom é essa na gola da sua camisa?
- foi de uma menina que eu esbarrei no happy hour da firma.
- e esse chupão no pescoço?
- o chupão...o chupão...foi da irmã gêmea dela.
- e esses arranhões nas costas?
- os da direita, de uma, os da esquerda, de outra.
- mas amor?
- fala.
- [início de choro] você não poderia pelos menos ter pensando numa desculpa pra salvar nosso casamento?
- é eu sei...eu cheguei a elaborar uma desculpa...
- e...
- foi quando eu vi que eram gêmeas.
- e...
- porra amor, quando eu vi que eram gêmeas, eu tinha certeza que você ia entender!
- [se recuperando do choro] gêmeas? mas eram idênticas?
- é. pensa nas probabilidades disso acontecer!
- [fungando] hmmmm....e além de serem idênticas---elas eram bonitas?
- ma-ra-vi-lho-sas!
- hmmm....é... as probabilidades disso acontecer.... é quase impossível... acho que você tem razão....
- te amo.
- te amo.

coisas que eu só consumo em aviões e em nenhum outro lugar

- amendoim em mini-pacotinhos.
- frango recheado com mistura de espinafre e queijo.
- frutas descoloridas.
- lasanha de lasanha.
- pastel de forno de queijo emental.
- bala de leite que gruda nos dentes nos aviões da tam.
- barra de chocolate sem marca.
- café com leite que já vem adoçado.
- café morno pra frio.
- suco de maçã.
- pepsi.
- sanduíches com recheios suspeitos embalados num papel laminado fervendo.
- mixto mistério (queijo com algum outro recheio misterioso, tipo: "peito
de...de...de alguma coisa defumada.")
- mini geléia de goiaba.
- manteiga sem sal.
- cerveja de marca que eu não encontro no supermercado. (e só se tiver com uma pedra de gelo agarrada na boca da lata.)
- e mais umas coisas que eu não lembro por serem muito suspeitas.